domingo, 13 de outubro de 2024

OS CRIMES DE HÉRCULES ( NOTAS / APONTAMENTOS)

 



... Nomes, datas e alvos… Havia um plano Abderis… E o mesmo foi bem executado ...


 

NOTA.

 

    Dias antes de sair da cidade, alguém desconhecido deixou um embrulho na porta de casa, notei-o apenas pela manhã. Estava ao lado do jardim, a princípio, desconfiei. Mesmo longe da polícia eu ainda conservava o faro para coisas erradas, eu não havia comprado nada que fosse entregue pelos correios, e aquilo não tinha carimbos dos correios, na verdade não havia nada de escrito no pacote. Era qualquer coisa de muito estranha.

    Peguei o misterioso pacote com certo receio, relutei em abri-lo, embora ele estivesse devidamente arrumado, não havia o endereço de origem, nem o meu endereço, bomba não podia ser. Mesmo relutante eu o abri e qual não foi minha surpresa, deparei-me com um calhamaço de papeis datilografados, neles, uma fotografia de um senhor, de idade já bem avançada. O calhamaço estava com o seguinte título: ( Os crimes de Hércules ). O rosto na fotografia não era estranho.

    Analisando cuidadosamente o pacote, algumas daquelas folhas, logo percebi se tratar de algo ocorrido no meu passado, quando eu ainda trabalhava como investigador. ( Isso já faz um tempo). O que estava escrito naquelas inúmeras folhas desrespeita o meu passado, o meu último caso como investigador, caso que se passou na então cidade interiorana de Mor – Isso foi há vinte anos.

    O autor das folhas datilografadas - Apolo Lombardi Lucano, o homem na foto - era o então delegado da cidade naquela ocasião, trabalhamos juntos naquele fatídico ano.

    Depois de alguns dias lendo e relendo os papeis escritos por Apolo, eles me revelaram fatos importantíssimos daquele caso, que, na época, nunca foram devidamente explicados. Eu tentei esquecer tudo aquilo, porém, o passado não quer me deixar esquecer.

    Passemos ao caso, descrito como está pelo próprio Apolo nas inúmeras laudas que se seguem. Manuscrito esse, como se percebe no começo, destinado a minha pessoa.


( Abderis Franzoni. )



     APONTAMENTOS …


     ( - Apolo Lombardi Lucano - )

     Como tudo começou?

    Bem… Vamos por partes, tenha calma, irei lhe contar tudo. Mas, antes, permita-me algumas breves considerações desse que vos escreve.

       Uma vida tranquila?

       Talvez…

       Uma vida pacata e sem problemas?

       Quem sabe...

       Afinal, quem não deseja uma vida tranquila, à beira de um lago, vara de pescar, o silêncio da natureza. Certo que todos desejam, eu também desejei, é isso que todos cobiçam não é mesmo, inclusive você.

         Permita-me uma breve apresentação.

       Desde cedo, ainda na época da escola, menino de tudo, eu sempre evitei os conflitos e as brigas. Defino-me, portanto, como alguém reservado e de poucas palavras, porém, sempre fui muito atento e observador, dom esse que me seria extremamente útil no futuro, como de fato foi.

       Os meus amigos sempre foram poucos, na verdade, era apenas um, o José. Eu o conheci quando tinha dez anos, em uma escola que ficava na pequena fazenda dos Alcântara, nas proximidades de Mor, assim como eu, José também era reservado e não gostava nem um pouco de conversar e de fazer amizades, quando estávamos juntos - era diferente - a nossa maneira de se comunicar era única, do nosso jeito, embora fosse estranho, confesso, era uma comunicação quase unicamente gestual, assim nos dávamos muito bem.

       Bons tempos aqueles, se houvesse possibilidade de voltar em um determinado momento no passado, certamente eu escolheria aqueles instantes da minha infância, aqueles foram os meus melhores dias - eu era feliz e não sabia.

       A vida tem dessas coisas meu caro amigo, não sabemos aproveitar os bons momentos que ela nos oferece, somente depois que eles passam é que lamentamos e choramos o que foi desperdiçado. Assim como é a sombra em um dia de sol, assim é o tempo, foi o tempo, e sempre será o tempo, fugaz. Hoje, tantos anos depois, o que me resta são apenas as boas lembranças que ainda vagam solitárias pela minha falha memória.

       Quando jovem eu queria ser artista plástico, tão logo percebi que não tinha o menor talento. Tentei de tudo um pouco, e também trabalhei em quase tudo também. Quando eu completei vinte anos, consegui entrar para a polícia, rapaz forte, alto, boa aparência, inteligente, tudo parecia contribuir para que eu entrasse para a polícia, mesmo contrariando demais opiniões, segui em frente, havia um objetivo naquela carreira que se iniciava.

       No último dia de novembro de… Não me lembro da data agora. Começava a minha carreira como delegado de polícia, a cidade em que eu trabalharia, a primeira e única até ao dia em que saí, foi à cidade de Mor. Eu nunca imaginei que nesta cidade tão pequena, tão pacata, eu construiria a minha carreira como delegado de polícia, e alcançasse o meu principal objetivo. Foi em Mor que com esforço e muito suor, lágrimas e sangue, principalmente sangue, que construí a minha gloriosa carreira policial.

       Hoje, já velho, faço apenas relembrar minhas memórias nesta última válvula de escape da minha vida, a escrita, vou terminando os meus dias lendo, e, entre uma leitura e outra, resolvi escrever minha própria história. 

        Uma confissão final talvez.

        Hoje, preso ao cárcere deste meu corpo moribundo e canceroso, passo o dia cheio de dores, às vezes gritos e gemidos, quando passa a dor, escrevo minhas memórias.

       Permita-me, caríssimo amigo, que eu lhe conte um pouco do que não lhe foi dito. Vou lhe confidenciar a verdade de como foi o nosso último caso em Mor, ( lembra-se ) o pior e o maior de todos, foi com este caso que encerrei a minha carreira profissional, alcançando o meu objetivo, prendendo o criminoso mais ameaçador de todos os tempos.

      Os crimes que ele cometeu desafiaram a todos nós, os seus métodos incomuns e a sua crueldade eram um desafio para as mentes mais inteligentes - Há de concordar. Tudo levou-nos ao extremo de nosso exercício profissional, em uma caçada angustiante contra alguém extremamente aplicado e perigoso, as baixas surgiram, mas, finalmente, conseguimos prender o assassino, ao olhar de muitos do povo, ele era um heroi justiceiro, de outros, apenas um assassino, dos demais, um executor, para a lei, ele era apenas um criminoso e assassino.

          Tentarei da melhor maneira possível contar-lhe toda a verdade não dita dessa história , e de tudo quanto aconteceu naquele fatídico ano, você, caríssimo amigo, talvez fique surpreso, você, estimado amigo de farda, vai estar diante de um final que não consta nos autos policiais, a verdade por detrás dos fatos… Tal revelação vai te deixar em grande desconforto.

          Então… Vamos adiante…

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