segunda-feira, 14 de abril de 2025

AGONIA E ÊXTASE.

 


    ( Conto erótico)

   

     Era sempre a mesma rotina, trabalho, casa, trabalho, a tirania da labuta dos pequenos afazeres universais. Quando ela chegava em sua casa após um dia exaustivo já era noite, ia logo para o banho, depois o jantar, assistia um pouco e dormia logo em seguida, sempre nessa ordem religiosamente.

    A rotina de sempre.

    Marisa sentia-se solitária, quase não conversava com o esposo, sim, ela era casada. A cada dia o esposo ficava mais ausente. A relação carnal dos dois era um desastre, vez e outra acontecia alguma intimidade, sexo rápido, sem nenhuma novidade, papai e mamãe sem nenhum prazer para ela. O corpo de Marisa pedia mais desejava algo surpreendente, queria prazer de verdade, ter o seu ápice, orgasmos como nunca teve, gozar, gemer, foder, falar palavras torpes. 

     Eram apenas desejos, sonhos, devaneios, anseios esquecidos na penumbra do pensamento.

     O esposo estava longe de lhe proporcionar o que tanto ansiava.

     Entretanto, a sua realidade estava prestes a mudar.  

     Não que o marido fosse realizar as suas fantasias sexuais, definitivamente não foi isso que ocorreu. Marisa começou a trabalhar, o primeiro passo que fez tudo mudar. Marisa era atendente em uma loja de manipulação de medicamentos entre outros produtos para beleza. Trabalhava no período da tarde para noite, chegava em casa sempre depois das onze devido aos vários ônibus que tinha que pegar. O marido tornou-se ainda mais ausente em sua vida, no começo ele reclamou, porém, acostumou-se rapidamente com a rotina da esposa. 

     Marisa era uma mulher de estatura mediana, o corpo esbelto, seios fartos, pele alva, as pernas torneadas, bunda arredondada, uma mulher muito sorridente, perfeitamente simétrica em suas curvas, olhos verdes, quando colocava a roupa de trabalho, toda branca, a calça do uniforme bem apertado valorizando a beleza de suas curvas e perna tão bem desenhadas, bunda toda redondinha, a calcinha pequeníssima marcando a roupa com delicadeza, o sexo devidamente marcado, deliciosamente dividido, todos olhavam com certo desejo para Marisa, ela gostava de usar roupas íntimas bem pequenas, de renda, na clara intenção de provocar olhares alheios.

     Não demorou para ela despertar a atenção e os gracejos do chefe, Ronaldo. Vez e outra ele surgia com um elogio, pequenos presentes, chocolates, convites para almoçar em um restaurante bem próximo do trabalho, no começo ela recusou as investidas, tinha medo de alguém ver e falar, depois de muitos convites, da insistência, passou a aceitar.

     Ronaldo não poupava munições, elogiava Marisa o tempo todo, que, por sua vez, aos poucos, palavra a palavra, cedia aos galanteios do bonito quarentão. Marisa passou a ter sonhos com o chefe, fazia meses que não tinha relações com o marido, ela estava ardendo em desejos, tentando se segurar, quando estava com o chefe, nos momentos em que ele tocava-lhe discretamente na cintura, principalmente quando estavam no restaurante, Marisa sentia sua intimidade umedecer, latejando de desejo por Ronaldo, que, percebendo a fraqueza da colega, convidou-a para um jantar diferente; o tal jantar seria em um sábado, cedido pela empresa a todos os funcionários. 

       Ela aceitou o convite deixando-se iludir que seria um evento com toda equipe. Jantar esse que seu esposo não fez questão de saber quando Marisa lhe contou a respeito.

 

   Chegou o grande dia, sábado, início de tarde.

   Marisa se preparou para o jantar, separou a melhor roupa, um vestido provocante, calcinha minúscula como sempre, o melhor perfume. Enquanto tomava banho, imaginava Ronaldo, chupando com ferocidade sua boceta, como nos filmes pornográficos, depois colocando-a de quatro, penetrando com força sua bunda, gemendo de prazer. Delírio, imaginações, posições… Marisa terminou o banho, trocou-se e foi para o local indicado por Ronaldo. 

     Alguns minutos depois surgiu ele em seu Civic Preto, vidros escuros, ela não perdeu tempo, entrou rapidamente no carro, morrendo de medo de ser vista. Ronaldo seguiu pela avenida Brasil, subindo pela Marechal Tito, virou a primeira esquerda na Vila dos Ingleses. Caminho totalmente contrário ao da empresa, Marisa logo percebeu que não se tratava de um jantar, ela bem que sabia, teve medo no início, sentiu-se ainda mais excitada com as possibilidades daquele passeio, a intimidade encharcada, vez ou outra as mãos de Ronaldo correndo-lhe pelas pernas até subir a altura da calcinha. Marisa permitia-se ser tocada, queria ser tocada, ela tinha medo, porém, o tesão era maior. Não demorou e o Civic Preto adentrou em um conhecido Driving da cidade, que tinha por nome, Mar Azul. Marisa ficou eufórica, com ainda mais medo e tesão do que antes, seu marido nunca a levou em um motel. Enquanto dirigiam para o quarto, na profundezas de seus pensamentos, perguntava-se como havia chegado tão rápido naquela condição, a de trair seu esposo com outro homem sem o menor remorso. Aquela nuvem de pensamentos logo se dissipou quando repentinamente ela foi surpreendida com um beijo de Ronaldo na altura do pescoço, ali mesmo no corredor, em frente ao quarto. 

    Marisa nunca havia sido beijada daquela maneira, ela retribuiu-lhe com avassaladores lábios, cheios de pecado, o batom vermelho, a danação da carne com a carne profana.

   Ele abriu a porta, entrou na frente, ele logo atrás, agarrou-a beijando-lhe o pescoço, enfiando as mãos por dentro da roupa, mordendo levemente a ponta das orelhas, ela, excitada, gemia baixinho de olhos fechados, sentiu logo o volume pressionando no meio da bunda. Ronaldo jogou-a na cama, de costas para ele, arrancando a roupa dela lentamente. Por cima dela, começou o processo beijando-a, ela permitia-se ser possuída, assim também ele o fazia, a ereção pulsante, gigantesca, fazendo seus olhos carregados de safadeza e desejos brilharem. Arrancou-lhe por último a calcinha com os dentes, sua boceta Lisa, latejante, vermelhinha, bunda perfeita, meteu-lhe logo a língua, chupando-a com maestria, como nunca antes foi, não resistindo a penetração da sua língua em sua boceta gozou a primeira vez, era apenas a primeira de muitas. Lentamente Ronaldo introduziu seu sexo duro e grosso na estreita entrada da sua intimidade, ela, ali de quatro para ele, sua bunda perfeitamente arredondada, engolindo Ronaldo, uma discreta pinta na nádega esquerda movendo-se a medida em que era penetrada. A sensação era de como se fosse arrebenta-lá, mas logo a dor excruciante virou prazer extremado, agonia e êxtase no mesmo instante, ela empinava a bunda rebolando em seu sexo duro, gemendo pedindo mais, ele, metia com força, na boceta, no cuzinho apertado. Assim foi por várias horas, nas mais diversas posições… "Fode gostoso vai, fode esse meu cuzinho, goza nele, mete na minha bucetinha", ela dizia repetidas vezes. 

 

    Horas depois, quando Marisa retornou para casa, estava com a buceta ardendo, desejosa de ter outros encontros como aquele. O esposo não percebeu nada, e a noite seguiu seu curso tranquilo. A coisa repetiu-se por várias vezes, em algumas delas Ronaldo gozava em sua boceta, ela, para garantir que nada acontecesse, tomava pílula do dia seguinte para evitar a gravidez.

   Certo dia, sentindo-se enjoada, com tonturas e repetidos vômitos, pediu para o esposo levá-la ao médico, no hospital, qual não foi a surpresa, depois de alguns exames, o médico olhando para o esposo de Marisa lhe disse.

   — Meus parabéns, seu Arnaldo! Você vai ser papai…

   Acontece que... Além de ser estéril, fazia meses em que Arnaldo não tin

ha relações com a esposa.

sábado, 8 de março de 2025

TODA MULHER É UMA FLOR.

 




Você é flor de açucena,

Advinda de reino distante,

Pétala delicada, tão pequena,

Perfumada, tão elegante,

De olhar poderoso, face serena,

Deixastes o meu coração agoniante,

Quando sou apenas esta sombra esquia,

Lá adiante, esquecida, apagada, nua e fria.


Você é tão linda quanto a pulméria,

Glamourosa, toda ornamentada,

Às vezes quieta, por outras séria,

Às vezes extravagante, por outras recatada,

És o rubro sangue a pulsar nessa artéria,

Dentre tantas no Olimpo, a mais veneranda,

Exalando a tua fragrância, teu doce veneno,

Em ardentes beijos em lábio pequeno.


Você é superior ao crisântemo vermelho,

Em cada pequeno detalhe é majestosa,

Diante de ti eu me ajoelho,

És tão única, incomparável, poderosa,

O reflexo delirante em meu espelho,

Flor de meus sonhos juvenis, tão generosa,

A tua delicada pétala, em nada assemelho,

Enlouquecido está o meu fraco coração, 

Devorado pelo fogo consumidor da paixão.


Você, minha dália rara,

De cor única, sem igual,

Em nada se compara,

Flor magnânima, especial,

De majestade se adornara,

Divino ser de toque angelical, 

Diante de ti, quem eu sou?

De meu seio, o que restou?


Você, orquídea de fragrância adorável,

Derramando sua majestade por onde passa,

De cores ímpares e de beleza inigualável, 

Neste seio moribundo a dor de amar me laça,

Pareço não ter forças, o amor é um mal incurável,

De seus laços não há quem se desfaça,

O meu coração rapidamente enlouqueceu,

Diante de seus olhos se perdeu.


Você, adorável túlipa de pétalas reluzentes,

Habitante soberana do jardim primavera,

De olhares altivos, em nada benevolentes,

Tendo em teus domínios tudo quanto pudera,

Embora ainda que estejamos ausentes,

Restou-lhe o assombro de nossas quimeras,

De dominadores somos agora dominados,

De amores por ti, morreremos todos condenados.


Você, minha alva magnólia oriental,

Símbolo da pureza e da perfeição,

És única em estatura descomunal,

Trazendo alívio para este desesperado coração,

Vê, já não basta este mundo tão desigual,

Vê, elas já não são coroas brilhantes da criação,

Erga-te, ô gigante, entre nuvens e vá sonhar,

Eleva-te, ô gigante, onde ninguém possa te alcançar.


Você, magnânima rosa de meu sonho,

Exibindo tua rubra pétala exuberante,

Ao olhar cobiçoso, às vezes tão medonho,

De um amor desajustado e abundante,

Em versos tortos, em dizer tristonho,

De um poeta solitário, louco e errante,

O que será da minha pena e deste meu verso,

Neste vago e vasto inquieto universo.


Você, calêndula reluzente,

De pétala tão delicada,

Flor única, diferente,

De majestade adornada.

Ao toque alheio indecente,

Pétala por pétala arrancada, 

Diga-me, se bem-me-quer,

Diga-me, se mal-me-quer.


Você, majestosa lótus de puro amor,

De mil desejos e encantos infinitos,

Com este teu olhar abrasador,

Ardente e cheio de delitos,

Atende ao meu incessante clamor,

Resolva todos os meus 

conflitos,

Pois é o teu cálice que tanto desejo,

O teu toque incandescente de teu beijo.

domingo, 24 de novembro de 2024

PROSA POÉTICA.

 




   CHORE UM POUCO MAIS, NOBRE POETA.


   Canta o amor, solitário poeta, o sentimento que te move, que surge, comove e te transforma. Canta em voz alta toda essa dor. Canta os versos da liberdade, o amor que é reescrito, centrado, canta as tuas muitas vivências e os dias de angústia suprema. Ainda que seja a última vez, que sejam derradeiras as suas palavras, do dizer nunca antes dito. Quem lê que entenda o quanto doi, compreenda quem é que se esconde, se oculta fugitivo em cada estrofe.

   Canta a sua dor solitário poeta, a dor de ter amado tanto, de ter devotado tamanho sentimento e perceber que não valeu de nada. Hoje os teus escritos são de agonia, versos riscados à beira do abismo, prontos a cair no esquecimento, quem nessa vida os lerá? Joga-os aos quatro ventos, ao sabor das estações e talvez alguém os encontre. Coloque-os em uma garrafa, atira-os ao sabor de novas marés e talvez algum náufrago os reencontre.

   Já se faz alta a noite, de muitas estrelas brilhantes estendidas no firmamento a luz de desatento luar. O poeta a tudo contempla, do alto da janela solidão ele tudo contempla, ele vê os sentimentos desnudos passeando soltos no peito. Quem é ela, poeta? Revela-nos o seu nome e onde habitas tal amor? Quem é essa que te enlouqueceu? Que faz teu coração parar quando ela surgiu, por favor, revela-nos, quem é ela?

   Amanheceu e nada mudou, o sol está se levantando lentamente enquanto pássaros estão cantando na copa das árvores, homens e mulheres passando desavisados. Faces fechadas, sisudas, indiferentes, outros acenam sem querer respostas, corações pesados, almas cansadas, sentimentos fervilhando por dentro. Somos observadores da vida alheia de papel e caneta nas mãos, derramando versos na folha em branco. Procuras por ela em cada rosto que passa, às vezes, algumas enganam o teu olhar, então, pensas nela, enganoso coração apaixonado é o teu, nobre poeta.

   Canta as tuas quimeras, nobre poeta, os medos ocultos no coração, os teus muitíssimos desejos proibidos e aquartelados no calabouço da alma. Se derrame em cada estrofe, nobre poeta, enlouquecendo em cada verso, delirante em cada palavra, desvario completo em cada poema. Tornastes o que não querias, encontrando o que não procuravas, vivenciando todas as outras vidas. Enquanto isso, a tua vida ficou esquecida, lutastes tanto por tantos amores e sobrou-te apenas o barco da solidão nesse imenso oceano.

   Aquele teu desejo oculto acorrentado no peito, desejo nunca compreendido, flagelando o aedo seio. Quem é ela, nobre poeta? Revela-nos o seu nome, quem é que te atormenta, te faz perder o sono todas as noites. Tantos foram os versos riscados, feitos e refeitos na tábua do coração, versos de um amor inalcançável. Os sentimentos desnudos, cambaleantes diante dos olhos, quem os poderá compreender?

   Canta uma vez mais, nobre poeta, ainda que teu mundo seja ilusão, ainda que tuas quimeras pareçam reais, ainda que teus devaneios o assombre. Canta pela última vez, nobre poeta, sacie a tua alma com os teus pensamentos, transforme-os em doces palavras, sejam os versos teu porto seguro. Entenda, nobre aedo das palavras, ela nunca terá olhos para você, em nenhuma das existência do cosmo, aliás. Ainda persiste nesse louco amor? Escrevendo dia após dia e noite após noite tua infinita dor em amar tanto?

   Certamente você enlouqueceu.

   Amar tornou-se uma luta, interna, externa e infinita, uma busca pelo inalcançável. É uma quase desistência o tempo todo. Você a vê todos os dias, nobre poeta, ela está diante da janela da tua alma, os olhos brilhantes, a face formosa, o sorriso desconcertante e enlouquecedor. O teu coração arrebenta-se no peito, falta-lhe uma porção do ar, pernas e mãos ficam trêmulas. Basta um olhar, nobre poeta, basta o timbre da voz e um simples aceno, uma ou duas palavras e o seu mundo vira de cabeça para baixo.

   Ela, sempre ela, nobre poeta, desfilando sua bela juventude e suas curvas delirantes. Por onde ela passa é admirada, enfeitiçando outros olhos inocentes e desprotegidos. É sempre ela, nobre poeta, oferecendo graciosos sorrisos, a sonoridade da voz de anjo lêdo, quem, afinal, poderia resistir tal encanto. Sei o quanto você sofre, caríssimo poeta da solidão, todos esses sentimentos aí dentro, corroendo a tua alma e coração. Talvez um dia ela te perceba e note o teu desesperado amor e valorize cada verso do teu sofrer.

   Canta uma última vez, nobre poeta, chore um pouco mais, escreva os versos derradeiros, jogue-os ao sabor do vento. A tua canção não será esquecida, alguém a lerá em algum momento, perceberá o quanto você amou, em cada palavra e em cada poema. Laça os teus versos ao mar, deixe-os ao sabor das marés e que sejam navegantes solitários. Um último pedido que te faço, nobre poeta, revela-me em segredo o nome dela, de quem é a face do teu tormento.


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

MOSAICO DE SENTIMENTOS NUS.

 






    As janelas do castelo estavam abertas, escancaradas ao público de modo que era possível ver dentro do próprio reino. 

    Nos recônditos do palácio começava um diálogo incomum entre a memória e o coração, no mais profundo do pensamento humano, no âmago quase inimaginável e inabitável da incompreensibilidade do complexo intelecto do eu.

   — Sim! É ela, e isso é inacreditável! É o beija-flor! Sim, aquela mesma de outrora, ela veio ao nosso castelo desfilando toda a sua beleza, com grande esplendor e formosura que lhe cabe, como das vezes anteriores, pousou na janela da alma sem a percebermos, devedoras é espantoso.

   — O que fizeste a respeito, nobre senhor? O que se diz em todo o reino é que ela não aparece já há muitas primaveras, e a propósito, se realmente o que dissestes for verdade, qual o motivo que a trouxe novamente para os nossos domínios, e, principalmente! Como pode tal façanha sem que eu não a tenhamos notado? Uma vez que nada me escapa...

   — Caríssimo amigo, essa história não está muito bem contada, existem algumas variáveis não consideradas nessa complicada equação de sentimentos nus ...

   — O que não está muito bem contado nesse, como você mesmo disse, equação de sentimentos nus? Está mais para um mosaico de sentimentos nus. Escondes algo de mim nobre senhor? Justo eu. E que variáveis são essas dos sentimentos nus no seio das vontades e desejos humanos?

    — Perdoe-me amigo… Perdoe por não ter lhe contado tudo antes.

   — Como podes fazer tal! O que escondes de tão valioso deste que a tanto lhe serve?

   — É o beija-flor... Não o reconhece? Aquela mesma de outrora, lembra-te? Frequentemente ela aparece no domínio da torre, aos olhares dos súditos do castelo, tão desavisados, e do próprio rei que é o meu pai - ela é apenas uma ave voando desavisada nos entornos do castelo, pousando aqui e acolá. Essa ave tão ligeira, é, e sempre será ave, não se engane quanto a isso. Difícil explicar eu sei, um dia você vai entender.

   — Escondestes de mim esse segredo muitíssimo bem, justamente eu, o seu súdito mais leal, como podes?

   — Ainda acreditas em mim?

   — Jamais duvidei de ti meu príncipe, jamais... Tu sabes disso, desde tenra idade sempre acreditei em cada uma das tuas histórias e as guardei a sete chaves, agora que és príncipe, eu continuo a acreditar ainda mais, embora, eu seja o único a crer nestes domínios.

   — Eu sei meu amigo… Eu sei... Mas tudo tem o tempo certo, em breve lhe explico tudo quanto aconteceu.

   — Por favor, meu jovem príncipe! Conte-me o que aconteceu, conte-me agora mesmo?

   — Tudo bem… Tudo bem, eu lhe conto.

   — Obrigado jovem príncipe, muitíssimo obrigado.

   — Era novembro, eu bem me lembro, o jardim banhado em ondas de luz rodopiantes, o luar prateado por sobre a mata densa, os seres da noite fazendo serenata. Eu bem me lembro daquele olhar reluzente e fugitivo, daqueles toques quentes despertando paixão, do som daqueles lábios na pronúncia de cada palavra. Eu bem me lembro daquele nosso último novembro, quando o rei então nos flagrou no primeiro beijo. Proibiu-me de vê-la enquanto vivesse e aprisionou-me na torre deste peito. Foi então, caro amigo memória, que as fadas do reino encantado, a meu pedido, movidas por compaixão ao ver meu sofrimento por esse amor tão impossível, com poderosa magia, em beija-flor a transformou. Vê, essa ave tão alegre, na verdade é ela, sempre foi o meu único e grande amor impossível.

   — Santo Deus! Então esse é o verdadeiro ocorrido… Pensávamos que ela tivesse sido levada pelos ladrões do reino esquecimento ou coisa semelhante. Nunca mais a vimos, o reino do esquecimento é completamente inacessível para nós, pensávamos que ela estivesse por lá.

   — Para todos os efeitos, amigo memória, ela foi levada, contudo, peço-te, fiel companheiro, que guardes este meu segredo enquanto vivermos. Não o reveles a ninguém, principalmente a razão, sempre contraditória ao que eu tanto desejo, sempre fazendo oposição a tudo que entendo por agradável, nunca na história desse reino concordamos em alguma questão.

   — Eu prometo que vou guardar esse segredo com a minha própria vida, ele estará salvo com a memória em seus recônditos mais ocultos, somente tu terás acesso.

   — Obrigado amigo, pode se retirar, desejo ficar à sós.

   — Sim nobre coração, como desejares, este teu amigo memória estará sempre à disposição para lhe ajudar no que for.

   — Os dias são ruins, caríssimo amigo coração, e como todos os outros, nada tenho a fazer do que observar tudo em silêncio. Os pensamentos do coração são como o vento, como a brisa que sopra vindo do norte, ou uma sombra passageira. O beija-flor, o meu beija-flor, o meu único e grande amor, aquele mesmo de outrora, de todas as minhas primaveras, ainda não sabe de todos os motivos que me levou ao cárcere dentro de mim mesmo, pretendo, se possível for, jamais revelar tal segredo. Enquanto isso, a solidão me cabe perfeitamente na companhia deste peito. Podes sair agora amigo...

   — Como quiser.

   O castelo forte fechou as janelas da alma, passou as mãos sobre os cabelos, coçou a cabeça, não compreendo os mistérios que passavam dentro do reino oculto de seu próprio eu. 

    Observou uma vez mais a visão daquela noite, saiu cabisbaixo sem dizer uma única palavra, porém, escondendo todas as impressões que teve da moça que há tanto conhecia e a muito amava, ela, fugitiva noite adentro, ele, fugitivo dos próprios sentimentos noite afora, dentro de si, o mosaico de sentimentos nus.


quinta-feira, 17 de outubro de 2024

OSEIAS ( CAPÍTULO 1)

 




    NOTA DO NARRADOR.


… Não me considero a pessoa ideal para contar essa história. Sou um sacerdote e não um narrador, porém, dadas as circunstâncias, o momento em que vivemos, crises políticas, pandemia, quarentena, extremismo, violência, enfim, eu não poderia deixar de lhes contar alguns pormenores da vida desse homem, da qual tenho especial afinidade 

   Este meu amigo é sem dúvidas um homem brilhante, político habilidoso, cristão sincero e com um coração enorme, porém, descobriu da pior forma que a fama e o declínio caminham juntas. 

   Nos conhecemos no seminário (Legionários de Cristo em Arujá), estávamos estudando para sermos padres. Ele abandonou o vocacionado antes de completar um ano, descobriu que não tinha vocação para uma vida de solidão, celibato, estudos e renúncias. Mudaria de religião pouco depois enquanto eu continuaria o caminho rumo ao sacerdócio.

   Cada um seguiu o que seu coração determinou.

   No entanto, jamais perdemos o contato um com o outro pelas voltas tão diferentes que as nossas vidas deu. O pouco tempo que convivemos no seminário foi o suficiente para se forjar uma amizade sólida, independente das diferenças, dogmas teológicos ou qualquer ideologia. Mesmo hoje ele praticando outra fé a nossa amizade permanece ainda mais forte, respeitamos a individualidade um do outro — coisa rara hoje em dia — em suas aflições ele me procura buscando conselhos, eu a ele nas minhas tribulações, nunca os neguei, ele nunca me negou. Eu sempre estive ao seu lado nos piores e melhores momentos.

   Por isso, essa é uma vida que vale uma história…



                         CAPÍTULO 1.

                       O CASAMENTO.


   Ao alvorecer, no esconder-se do astro que rege a vida de cada simples mortal, o dia foi se esquecendo lentamente, deitando-se por trás das belas montanhas da cidade de Ouro preto, pincelando as nuvens mineiras com vivas cores, salpicando o azul-celeste da cidade colonial da serra do espinhaço com tons rubros mesclados de laranja e amarelo em um aconchegante início de primavera. Bailarinas aves em voos rasantes de um lado para o outro, tal  como crianças brincando e correndo pelas ruas calcetadas íngremes e sinuosas da histórica vila Rica.

   Outras aves mais quietas figuravam na copa de frondosas e frutíferas árvores, outras no telhado da igreja nossa senhora do Carmo, cantavam em uma entonação vibrante, fazendo lembrar da canção do exílio de Gonçalves Dias. 

... Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá ...

   A mesa estava pronta, majestosa, repleta de incontáveis delícias de encher os olhos, enfeites dos mais admiráveis, cores cintilantes, apenas esperando o final da cerimônia. Os músicos todos enfileirados, com os seus suntuosos ternos pretos e gravatas borboletas, uma diversidade de instrumentos em perfeita harmonia. Rostos e sorrisos mascarados, emoções à flor da pele. 

… O que é a vida se não esse emaranhado de sentimentos se sobrepondo ao outro, atropelando-nos, levando-nos ao extremo de nossas forças. Neste jogo da vida somos apenas peças como em um tabuleiro de xadrez. Cada um com o seu valor e em sua respectiva posição, fazendo exatamente aquilo que lhe foi designado a fazer. Viver é uma aventura completa nesse novo tempo, esse novo mundo tão cheio de terror, medo, incerteza, vírus desconhecido. Muitas das vezes somos indefesos e não sabemos o que fazer. É um jogo complexo que só se vence sendo o mais simples possível. É estranho dizer isso, mas, a simplicidade é a maior e mais poderosa das armas, sempre engatilhada, pronta a disparar em corações despercebidos …

   Rostos e sorrisos cobertos por máscaras bonitas e coloridas.   

   A festa de casamento do senhor Oséias Fausto estava glamourosa. Uma aura de alegria era soprada em sonoras notas musicais, vieram todos os seus convivas, com suas resplandecentes vestes para tão importante ocasião. Oséias em seu infindo regozijo não cabia dentro de seu sorriso oculto, cantava risonho, dançava na alegria extravagante do seu coração. A noiva tão bela, com o seu longo vestido branco, desfilava com o buquê pelo jardim, estava tão encantadora quanto às rosas e tulipas que enfeitavam a festa, era invejada por cada curioso olhar dos especuladores.   

   Ao toque dos instrumentos iniciou-se a marcha nupcial, no altar, lágrimas vertiam aos olhos do senhor Fausto, o tão esperado dia que havia finalmente chegado à vida do promissor político, nem mesmo a crescente ameaça invisível e a crise política instaurada no parlamento impediu o planejamento de seu casório em sua terra natal.

   Todos os convidados de pronto se levantaram em aplausos entusiasmados, estavam pasmos com a beleza da noiva. Cantos, palmas, lágrimas, o vinho doce em sorridentes lábios, pétalas de tulipas e rosas eram espalhados adiante de seus passos. 

   Da noiva, havia poucos parentes no casamento. 

   De origem humilde, a maioria dos seus parentes e convidados não quiseram comparecer, disseram temer a contaminação, era o primórdio da pandemia. De Oséias, viva turba urbana, festeira, uns bebendo, já outros cambaleantes pelo salão de festa, sem se preocuparem com nada. Entre os dele, havia os que não queriam que o casamento acontecesse. Da integridade da moça eram esses mesmos tão desconfiados. Gomer não despertava tanta admiração entre os parentes do noivo, havia algo no passado da moça que os incomodava, algo que não poderia ser dito, não naquela ocasião tão importante.  Duvidoso e amargo passado na vida de Gomer que não agradava em nada alguns dos convidados do noivo, ainda sim, tanto mais amor Oséias lhe devotava em face de todo ódio contrário a ela, ele a amou profundamente desde quando a conheceu, resgatou-a de uma vida de prostituição e pecado. O casamento era uma nova oportunidade em sua vida, uma janela aberta a novas oportunidades, alguns não conseguiam acreditar em tal mudança da parte dela. Oséias estava convicto de sua conversão ao evangelho. Foi corajoso quando enfrentou toda a sua família em nome desse amor. Diziam que ele estava louco, fora si, porém, o seu amor parecia ser maior que tudo.   

   Os pensamentos de Oséias estavam nas lembranças do dia em que se conheceram na festa de um amigo.

( … Lá estava Gomer, embriagada, cantando e dançando para todos, ao vê-la, Oséias admirou-se de sua beleza, não acreditou que se tratava de uma prostituta, tão nova para viver uma vida de abusos. Foi amor à primeira vista, mesmo sabendo quem ela era, amou-a desde o primeiro momento, sendo desses sentimentos indescritíveis e inexplicáveis. Os amigos e familiares não acreditavam quando ele dizia que se casaria com aquela moça. Por fim, com muita insistência, a conquistou, para si próprio e para a igreja que frequentava ... )     

   Oséias estava a minutos de realizar o seu maior sonho.

domingo, 13 de outubro de 2024

OS CRIMES DE HÉRCULES ( NOTAS / APONTAMENTOS)

 



... Nomes, datas e alvos… Havia um plano Abderis… E o mesmo foi bem executado ...


 

NOTA.

 

    Dias antes de sair da cidade, alguém desconhecido deixou um embrulho na porta de casa, notei-o apenas pela manhã. Estava ao lado do jardim, a princípio, desconfiei. Mesmo longe da polícia eu ainda conservava o faro para coisas erradas, eu não havia comprado nada que fosse entregue pelos correios, e aquilo não tinha carimbos dos correios, na verdade não havia nada de escrito no pacote. Era qualquer coisa de muito estranha.

    Peguei o misterioso pacote com certo receio, relutei em abri-lo, embora ele estivesse devidamente arrumado, não havia o endereço de origem, nem o meu endereço, bomba não podia ser. Mesmo relutante eu o abri e qual não foi minha surpresa, deparei-me com um calhamaço de papeis datilografados, neles, uma fotografia de um senhor, de idade já bem avançada. O calhamaço estava com o seguinte título: ( Os crimes de Hércules ). O rosto na fotografia não era estranho.

    Analisando cuidadosamente o pacote, algumas daquelas folhas, logo percebi se tratar de algo ocorrido no meu passado, quando eu ainda trabalhava como investigador. ( Isso já faz um tempo). O que estava escrito naquelas inúmeras folhas desrespeita o meu passado, o meu último caso como investigador, caso que se passou na então cidade interiorana de Mor – Isso foi há vinte anos.

    O autor das folhas datilografadas - Apolo Lombardi Lucano, o homem na foto - era o então delegado da cidade naquela ocasião, trabalhamos juntos naquele fatídico ano.

    Depois de alguns dias lendo e relendo os papeis escritos por Apolo, eles me revelaram fatos importantíssimos daquele caso, que, na época, nunca foram devidamente explicados. Eu tentei esquecer tudo aquilo, porém, o passado não quer me deixar esquecer.

    Passemos ao caso, descrito como está pelo próprio Apolo nas inúmeras laudas que se seguem. Manuscrito esse, como se percebe no começo, destinado a minha pessoa.


( Abderis Franzoni. )



     APONTAMENTOS …


     ( - Apolo Lombardi Lucano - )

     Como tudo começou?

    Bem… Vamos por partes, tenha calma, irei lhe contar tudo. Mas, antes, permita-me algumas breves considerações desse que vos escreve.

       Uma vida tranquila?

       Talvez…

       Uma vida pacata e sem problemas?

       Quem sabe...

       Afinal, quem não deseja uma vida tranquila, à beira de um lago, vara de pescar, o silêncio da natureza. Certo que todos desejam, eu também desejei, é isso que todos cobiçam não é mesmo, inclusive você.

         Permita-me uma breve apresentação.

       Desde cedo, ainda na época da escola, menino de tudo, eu sempre evitei os conflitos e as brigas. Defino-me, portanto, como alguém reservado e de poucas palavras, porém, sempre fui muito atento e observador, dom esse que me seria extremamente útil no futuro, como de fato foi.

       Os meus amigos sempre foram poucos, na verdade, era apenas um, o José. Eu o conheci quando tinha dez anos, em uma escola que ficava na pequena fazenda dos Alcântara, nas proximidades de Mor, assim como eu, José também era reservado e não gostava nem um pouco de conversar e de fazer amizades, quando estávamos juntos - era diferente - a nossa maneira de se comunicar era única, do nosso jeito, embora fosse estranho, confesso, era uma comunicação quase unicamente gestual, assim nos dávamos muito bem.

       Bons tempos aqueles, se houvesse possibilidade de voltar em um determinado momento no passado, certamente eu escolheria aqueles instantes da minha infância, aqueles foram os meus melhores dias - eu era feliz e não sabia.

       A vida tem dessas coisas meu caro amigo, não sabemos aproveitar os bons momentos que ela nos oferece, somente depois que eles passam é que lamentamos e choramos o que foi desperdiçado. Assim como é a sombra em um dia de sol, assim é o tempo, foi o tempo, e sempre será o tempo, fugaz. Hoje, tantos anos depois, o que me resta são apenas as boas lembranças que ainda vagam solitárias pela minha falha memória.

       Quando jovem eu queria ser artista plástico, tão logo percebi que não tinha o menor talento. Tentei de tudo um pouco, e também trabalhei em quase tudo também. Quando eu completei vinte anos, consegui entrar para a polícia, rapaz forte, alto, boa aparência, inteligente, tudo parecia contribuir para que eu entrasse para a polícia, mesmo contrariando demais opiniões, segui em frente, havia um objetivo naquela carreira que se iniciava.

       No último dia de novembro de… Não me lembro da data agora. Começava a minha carreira como delegado de polícia, a cidade em que eu trabalharia, a primeira e única até ao dia em que saí, foi à cidade de Mor. Eu nunca imaginei que nesta cidade tão pequena, tão pacata, eu construiria a minha carreira como delegado de polícia, e alcançasse o meu principal objetivo. Foi em Mor que com esforço e muito suor, lágrimas e sangue, principalmente sangue, que construí a minha gloriosa carreira policial.

       Hoje, já velho, faço apenas relembrar minhas memórias nesta última válvula de escape da minha vida, a escrita, vou terminando os meus dias lendo, e, entre uma leitura e outra, resolvi escrever minha própria história. 

        Uma confissão final talvez.

        Hoje, preso ao cárcere deste meu corpo moribundo e canceroso, passo o dia cheio de dores, às vezes gritos e gemidos, quando passa a dor, escrevo minhas memórias.

       Permita-me, caríssimo amigo, que eu lhe conte um pouco do que não lhe foi dito. Vou lhe confidenciar a verdade de como foi o nosso último caso em Mor, ( lembra-se ) o pior e o maior de todos, foi com este caso que encerrei a minha carreira profissional, alcançando o meu objetivo, prendendo o criminoso mais ameaçador de todos os tempos.

      Os crimes que ele cometeu desafiaram a todos nós, os seus métodos incomuns e a sua crueldade eram um desafio para as mentes mais inteligentes - Há de concordar. Tudo levou-nos ao extremo de nosso exercício profissional, em uma caçada angustiante contra alguém extremamente aplicado e perigoso, as baixas surgiram, mas, finalmente, conseguimos prender o assassino, ao olhar de muitos do povo, ele era um heroi justiceiro, de outros, apenas um assassino, dos demais, um executor, para a lei, ele era apenas um criminoso e assassino.

          Tentarei da melhor maneira possível contar-lhe toda a verdade não dita dessa história , e de tudo quanto aconteceu naquele fatídico ano, você, caríssimo amigo, talvez fique surpreso, você, estimado amigo de farda, vai estar diante de um final que não consta nos autos policiais, a verdade por detrás dos fatos… Tal revelação vai te deixar em grande desconforto.

          Então… Vamos adiante…

domingo, 6 de outubro de 2024

CRÔNICA DE DOMINGO.

 

    



     A ÚLTIMA LÁGRIMA.


    Derramei algumas lágrimas no início desta crônica, não muitas, porém, sentidas, dolorosas, sofridas e cheias de angústias, era a dor do meu desatinado coração. 

   A noite se derrama lentamente revelando a face tímida de um luar desconfiado, algumas estrelas percorrem o céu de um lado a outro, andarilhas, solitárias, cintilando na altura do firmamento. A madrugada segue o seu curso triste, em um silêncio profundo, como névoa fina que se espalha sorrateiramente, enquanto eu, derramo as minhas lágrimas, menos sentidas e pouco dolorosas agora, no entanto, essas lágrimas se enchem de conflitos, de incertezas. Oculto neste olhar existe alguém desesperado querendo a todo o custo a liberdade deste cárcere de ossos secos, louco sofredor que me tornei, a chorar por tudo não tendo nada.

     Eu que imaginei conhecer aquele coração, e o meu próprio também, eu que pensei… Talvez soubéssemos que fosse apenas ilusão, talvez seja coisa de momento, mas, a minha alma ainda chora, e em cada lágrima sentida não há nada que eu possa fazer, não há nada mesmo, acreditem…

   Eu que pensei ser poeta, e todos aqueles dizeres de amor, e todos aqueles versos que tanto trabalhei, que me trouxeram esperança, que me fizeram criança, poemas que talvez eu nem poetize. Hoje procuro cegamente pelas palavras, eu as busco em algum canto escuro em mim, em uma madrugada fria onde nada faz sentido, onde os meus sentidos estão completamente confusos. 

   Guardo no silêncio dos meus olhos um amor platônico. Sinto esse amor queimar meu peito com as brasas. Guardo no silêncio da minha alma todas as palavras que um dia eu gostaria de dizer. Como seria bom declarar esse amor, e diante da face do luar dizer o que sinto em versos apaixonados.

   Guardo no silêncio dos meus lábios o desejo de um beijo, bastaria apenas um e o meu coração se derreteria perante ela como a neve em dia quente. Guardo no oculto do próprio silêncio toda a ternura e todo o encanto desse imensurável amor que ainda sinto tão forte. Escondo a tanto tempo que não estou suportando mais o peso na alma, meu desejo é gritar para o mundo todo ouvir, quero que todos saibam, porém, nada posso dizer, contudo, aqueles que conseguirem decifrar meus códigos saberão os segredos.

   Desenho nos meus versos a sua lívida face, a magnânima poesia do meu amor em palavras escondidas entre as cintilantes estrelas. O que são os meus versos diante de uma madrugada tão fria, tão silenciosa, tão cheia de lembranças tristes, pensamentos imperfeitos. Olhe em meus olhos e veja no que eu me tornei. Já nem sei mais quem sou, ou no que eu me tornei, essa não é a primeira vez que digo tais coisas. Lágrimas são pérolas da alma, diamantes que o coração cristalizou pelo muito sofrer; conto as estrelas de forma aleatória, na vil imaginação de que os belos olhos dela também estão a fita-las; talvez você, ledo anjo, esteja assim como eu, mendigando palavras em uma noite escura. Procurando compreender o incompreensível e explicar o que não pode ser explicado.

   A madrugada se declina, e logo mais dará passagem a um novo dia. Desenho com palavras tristes a caricatura da minha alma, rascunho nesta crônica este particular pensamento, a faceta pouco vista deste que vos escreve. As horas são inimigas, o luar declina no horizonte escuro, as estrelas ainda silenciosas me contam os segredos dos homens, de todos eles, de suas almas sofredoras, talvez seja esse o motivo que passo horas admirando o luar, e conversando com as estrelas na escuridão.

   Talvez seja essa a sina de nós escritores, poetas insanos. Desejamos contar os segredos dos homens, de todos eles, no entanto, não conseguimos descobrir os mistérios de nossos próprios corações, não conseguiremos, porventura, desvendar a nós mesmos? 

   Então, no horizonte de estrelas solitárias, derramo a última lágrima, e nela, escondo todos os meus segredos, que nem as palavras de um poeta podem decifrar, que nem mesmo o anjo ledo saberá.


SILÊNCIO MÚTUO.

     ( CONTO)       Quanto aos meus pecados, bom, os meus pecados... São tão numerosos quanto a areia da praia.       Calma... Eu sei que é ...