sábado, 5 de outubro de 2024

NEFARIOUS ( RESENHA)





RESENHA DO LIVRO NEFARIOUS CAPÍTULO A CAPÍTULO.




 INTRODUÇÃO.


  

     "Eu nasci..."

     Assim se inicia o livro, ou, a introdução do primeiro capítulo.

    O que se segue é apenas um resumo da introdução ao primeiro capítulo, assim como, capítulo a capítulo. Eu não pretendia fazer dessas anotações uma resenha alongada com cara de ensaio, se é que posso chamar assim, porém, por algum motivo que eu mesmo desconheço, resolvi disponibilizar para os meus leitores e curiosos esses, rabiscos. Quem sabe assim, encorajando-os a embarcar na leitura desse livro, sem nenhuma dúvida, extraordinário.


    Dito isso, passemos adiante...

    Na introdução do capítulo primeiro, de cara vemos que se trata de uma narrativa poderosa em primeira pessoa, cujo narrador é o próprio (diabo) por nome Nefarious, ou, Nefasto. Segundo esse "narrador", ele teve autorização de seu "Mestre", para escrever o livro.

     Vale lembrá-los de que, sendo uma narrativa em primeira pessoa, de cunhado fortemente confidencial, saliento ao fato de que temos um único ponto de vista aqui, a do próprio diabo, e, considerando ser ele — O PAI DA MENTIRA — devemos o tempo todo desconfiar do que ele está dizendo e contando como a "sua suposta verdade".

         Contudo, ele começa o livro enaltecendo a si mesmo, desprezando o ser humano como a joia da criação divina. Nefarious se coloca e assim classifica a todos os demônios como sendo por natureza muito orgulhosos e desejando adoração de nós (humanos). Porém, na visão dele, ( diabo) tal atitude foi um calcanhar de Aquiles deles próprios, uma vez que os humanos são tão mais orgulhosos e desejando adorar a si mesmos quanto o próprio diabo. Nefarious sugere então ao seu mestre que o melhor modo de nos manipular era usar o nosso orgulho e egocentrismo contra nós mesmos. Fazendo de nós a nossa própria pedra de tropeço.

        Outra visão que Nefarious deseja passar é de indignação, de vítimas. Para "eles", Deus errou em dar a preferência aos humanos e amá-los mais do que a eles, que foram criados primeiro. Na visão do capiroto, nós, tomamos a sua primogenitura. Ele tenta passar uma visão distorcida da rebelião inicial que o expulsou do céu. Para Nefarious, Deus errou em delegar tantas coisas aos humanos, uma vez que eles, quando ainda eram anjos, ficariam de fora da obra divina. Para Nefarious, o seu mestre ( Lúcifer), não tinha em mente uma rebelião, mas, colocar o seu ponto de vista na tentativa de fazer Deus voltar atrás em seu plano com os homens. Isso já mostra quão distorcida é a visão do narrador que se diz, "indignado".

         Segundo Nefarious, ele pode ao longo da história moldar alguns dos "homens", até então sem perspectivas ao seu bel prazer, transformando-os de seres insignificantes para pessoas com destaque grandioso destaque ( maligno). Entre os exemplos citados por Nefarious está: Margaret Sanger, (1879-1966), ativista e enfermeira norte americana que popularizou o "controle de natalidade" e fundou a organização Planned Parenthood, hoje uma das maiores e mais ricas indústrias do aborto. Ele cita entre as criações de seu mestre, a Coreia do Norte, da qual sente grande orgulho. Ele cita também Lizzie Borden, que tomou um machado e deu em sua mãe quarenta golpes. Quando viu o que tinha feito, deu quarenta e um em seu pai. Ele fala também de filho esquisitão de um fazendeiro bávaro e o transformou no Führer, ou Adolf Hitler. Assim como do camponês chinês que foi transformado em presidente. Todas essas personalidades distorcidas, dentre outras, serviram ao propósito do mal, sendo a própria expressão do diabo na terra, cheio de horrores e muita carnificina.

          Ao final da introdução ele cita a América do norte, no começo, dando um pouco de trabalho de se corromper, fazendo com que ele observasse melhor aquelas pessoas a fim de estudá-las e corrompê-las. Ele não cita nesse início exatamente como fez, porém, pretende fazê-lo nos capítulos seguintes.

          Lembrando que, trata-se apenas da introdução ao primeiro capítulo. Certamente que a maioria de vocês já devem ter assistido ao filme. Uma adaptação cinematográfica desse livro, escrito pelo autor, Steve Deace. Eu ainda não assisti, pretendo depois de ler o livro.

           Falando no autor.

           Steve é um escritor e apresentador de rádio americano. Reconhecido como uma influente voz no debate político cultural dos EUA, transmite diariamente seu programa the Steve Deace Show e escreve para o Washington Times, Today e Conservative Review. Além de Nefarious: o plano maligno, adaptado para o cinema em 2023, escreveu vários outros livros. Ele mora em Iowa com sua esposa, Amy, e seus três filhos, Anastasia, Zoe e Noah.



             POR QUE VOCÊS....



            Esse é o título do primeiro capítulo.

            Parece haver um desconforto aqui, ou, o narrador de alguma forma enxergava uma ameaça na nação americana. Ele diz que os fundadores citam o divino em seus documentos, talvez com a intenção de estimular o favor divino para com o povo. Neste início de capítulo há uma citação a Cristo, na verdade, uma depreciação do narrador ao fato de Cristo ter negado a oferta do diabo "no episódio da tentação descrito em Mateus". O narrador, ( lembrando que se tratava do diabo ), conclui sua narrativa dizendo que Cristo acreditava que os problemas do mundo se resolvem quando o homem curasse primeiramente o seu próprio coração perverso.

            O narrador cita os levantes que ele ( Nefarious ) enfrentou por conta dos seguidores de Jesus. Tais como: "O apóstolo Paulo", e " Santo Agostinho". Esses seguidores na sua visão eram uma ameaça. Assim como os de hoje ainda é, contudo, ele conta com a arrogância dessa geração presente sempre menosprezando o legado da geração anterior para obter o seu sucesso. É citado a idade das trevas que devastou a espiritualidade da Europa. Ele cita também a Reforma protestante e o Renascimento, em como o homem poderia ter usado o melhor dessas revoluções para crescer e dar crédito ao criador, no entanto, o homem sem colocou sempre no centro de tudo desejando adorar a si mesmo e ignorando o divino.

           O narrador cita o trabalho do Estado e da igreja no controle de cada um, fazendo florescer a liberdade. E é essa a principal bandeira da nação Americana. É justamente contra essa liberdade que ele trabalha a fim de subjugar o povo.

          Era necessário derrubar a nação Americana, contudo, os fundadores tinham suas convicções muito bem fundamentadas, já que não era possível corrompê-los totalmente, faria isso gradativamente, geração após geração. Assim, os valores morais tão difundidos e fundamentados perderiam sua força. O principal alvo era as famílias, ele tinha que desestruturá-las, fazendo os pais perderem autoridade moral em relação aos filhos e assim sucessivamente. Corromper o indivíduo na sua essência, desconstruindo o conceito primordial de família e deixando o caminho mais fácil para passos maiores.


  

            O PLANO.


      Estamos no segundo capítulo do livro.

      O narrador começa dizendo que, embora sejam agentes do caos, tudo o que eles fazem em nosso mundo é meticulosamente planejado, segundo o narrador ( Nefarious) o seu mestre odeia o fracasso, de modo que os pune se os planos apresentados falharem. Cada demônio apresenta o seu plano previamente antes de colocar o mesmo em prática, uma vez aprovado, não há margem para falhas.

          Segundo ele, o seu plano tinha seis etapas. Primeiro, ele precisava ser prático, precisava que tanto o crente quanto o incrédulo fossem receptivos ao plano, que o aceitasse sem questionar. O narrador ( Nefarious ) sabia que a maior força e fraqueza está na família, contudo, se a unidade familiar fosse enfraquecida, até mesmo os crentes acabariam por desmoronar. 

          É justamente o alvo central dele , atacar e destruir a família.

         O plano precisava ser alcançável, ele diz que criminosos precisam de cúmplices e que os próprios humanos eram os seus. O narrador se infiltra nas instituições para voltá-las contra o povo, como se fosse um vírus contaminando o corpo são. O seu desejo era eliminar o desejo de certo segmento em estudar os documentos dos fundadores espalhando a corrupção nesse meio, uma vez que tais documentos fala dos mandamentos e da Bíblia. O plano precisava ser irresistível, com a tecnologia atual permitindo comunicar uma mensagem globalmente com um clique, um despertar poderia causar danos, outro ponto crucial. Ele precisava que o fedor da disfunção enjoasse os picos do céu.

         O narrador menciona ainda que embora Deus não desista do ser humano, frequentemente, o ser humano desistia de Deus. Nesse capítulo o narrador revela que eles não podem controlar o resultado de eventos futuros, não importa o que façam, ele reconhece que somente Deus pode. Ele revela o seu descontentamento com o fato de sermos mais parecidos com Deus, sendo esse um dos motivos — na palavra de Nefarious — de nos odiar tanto. 

            O narrador diz ainda que raramente têm que nos empurrar para os portões do inferno, na maioria das vezes, só tem que manter a porta aberta. Ele reconhece que se estudarmos a Bíblia saberíamos que o diabo só aparenta ter poder, e até eles ( demônios) sabem que toda criação tem de curvar perante Deus. Ele afirma ainda que a única maneira desse seu plano permanecer irreversível é quando ficamos tão perdidos ao ponto de não conseguirmos pedir humildemente que Deus reverta a situação. É justamente aí a falha principal do ser humano, não pedir a Deus ajuda e misericórdia. Com isso, enquanto nos recusamos a reconhecer que Deus tem o poder supremo, o poder será deles. O plano dele e nos afastar de Deus por meio da corrupção das nossas almas com as suas ofertas de pecado.


     DECADÊNCIA.


     Estamos no terceiro capítulo do livro.

     Segundo o narrador, era necessário nos presentear exatamente o que desejava nosso perverso coração, e foi o que ele fez, trabalhando nesse ponto do desejo. Algo importante que é usado por Deus em nosso benefício é o sofrimento, esse é outro ponto em que ele trabalhou, criando um sistema em que não corrermos risco, de comodismo, e foi o que ele fez. Outro ponto citado aqui, novamente, entende-se, a contragosto do narrador é falar sobre a ressurreição de Cristo, narrador esse ( lembrando se tratar do diabo) não admitindo mas também não negando o fato da ressurreição de Jesus.

        Ele continua no capítulo ressaltando a importância de nos manter no (conforto), porque segundo ele, quando estamos confortáveis não sacudimos o barco, fazendo aqui alusão a passagem bíblica em que Jesus estava dormindo no barco em meio a tempestade e é acordado pelos discípulos em busca do socorro.

       Para o narrador, era perturbador perceber que os humanos são tendenciosos a seguir e se inspiram nos mártires, ele cita vários exemplos bíblicos. Essas personalidades, por assim dizer, formam uma espécie de mito a qual eleva o ser humano em seguir seus exemplos. Por isso era necessário trabalhar nessas questões. Corromper o incorruptível nas suas palavras, fazendo com que se produzissem falsos mitos e se pervertissem as histórias bíblicas de modo sutil utilizando-se da máquina do cinema e da cultura pop, cineastas e atores que trabalhassem nesse propósito. Isso foi claro para ele e eficiente, já que era possível corromper nossos supostos herois. Segundo ele, embora haja remanescentes que em tese poderiam virar o jogo, porém, foram, por nós mesmos silenciados em nome da "tolerância" tudo graças ao novo tipo de decadência que ele criou. Uma decadência baseada na disfunção. Era necessário substituir a "clareza" moral pela "confusão" moral minando a influência das igrejas.

      Era necessário usar a força do governo contra o próprio povo, contra a igreja e todo resto. Esse era o plano, cria mecanismos em que as pessoas se tornassem cada vez mais dependente do governo de modo que o sistema governamental agisse não na defesa da moral em benefício do povo e sim pervertendo a moral e impondo-a ao povo, uma vez totalmente dependente, totalmente indefeso. Nesse capítulo, ele diz estar na segunda geração desta disfunção do ( Estado do bem-estar ) atualmente, famílias de todas as classes estão contaminadas com a revolução sexual implementada pelo próprio Estado. Ele diz que nos deu o que os nossos corações perversos sempre desejaram ( prazer e irresponsabilidade). Com a família contaminada pela decadência, não existe mais um padrão para que se possa prestar conta.

       A decadência se instaurou no seio da família tornando seus chefes incapazes de cobrar uma moral aos filhos uma vez que eles são imorais nas condutas pessoais.



     DÍVIDA.


    O quarto capítulo inicia com uma pergunta.

     "Vocês têm verificado seu extrato bancário? Quem quer saber é um amigo meu".

       Por mais de duas páginas o narrador dá detalhes técnicos da economia americana. Mostrando que, nem sempre o que vemos é a verdade dos fatos, ou seja, a economia mais poderosa do mundo é mesmo tão poderosa assim? Ele diz no início do capítulo que se a dívida nacional fosse disposta numa única linha de notas de um dólar ela se estenderia até o planeta Urano. Embora seja uma óbvia piada, não deixa de ser chamativo.

       Ele demonstra com dados e porcentagem o tamanho dessa dívida dos americanos e como o governo tem que investir tanto no que ele chama de Estado do bem-estar social. Segundo ele, cada família na américa teria de pagar um adicional de 580 mil dólares para cobrir o déficit, e apenas 1% das famílias americanas está nesse patamar de renda. O que não representa nada em comparação com o gasto que o governo tem. Ele ainda cita a China comunista, dona de um trilhão e trezentos milhões de dólares da dívida externa americana. Ele conclui dizendo que não há melhor maneira de se mostrar idiota do que fazer do seu adversário seu senhorio.

         A decadência que o inimigo ofereceu tinha um preço. Os americanos abraçaram totalmente a decadência e muitas das decisões ruins foram incentivadas. A violação das "leis naturais" em face da ingenuidade de pensar que os "direitos", eram mesmo gratuitos. 

        Ou seja.

         Enfraquecê-los economicamente também fazia parte do plano. Tirando-lhes a liberdade e impondo-lhes a servidão.

          Ele cita como exemplo não só a decadência espiritual e moral como também a econômica. A cidade de Detroit é citada como exemplo. Ele ainda fala que não é o diabo quem os levou a fazer isso; ele somente ajudou naquilo que as pessoas mesmo queriam.

        Ele fala que Deus criou parâmetros para ajudar aos seres humanos, na América, conhecido como "leis da natureza e do Deus da Natureza", ou, lei natural. Segundo o narrador, todo esse prejuízo já citado se dá justamente pelo fato dos Americanos usarem o governo para fazer coisas que a lei natural não permitia. Segundo o narrador, Deus estabelece esferas de autoridades, tais como: Individualidade, família, igreja e Estado. Cada uma com sua própria jurisdição sob autoridade da lei natural. Porém, os cidadãos colocam o Estado para governar nas esferas que não lhe pertencem, como família e até igreja, ditando as regras, tomando a autoridade do pai, o Estado dizendo como se deve criar os filhos.

        Ele cita vários exemplos de como isso se dá na prática, de como o homem, o pai e chefe de família, dá ao Estado o controle e o governo de sua casa e igreja. Fazendo isso, afasta-se a bênção e atrai a maldição. 

       Ele conclui o capítulo citando certo juiz do Alabama que desejou fixar no seu tribunal os dez mandamentos, tal como eram expostos no Supremo Tribunal dos EUA. Segundo ele, aquele foi um momento crítico, de perigo real, que, deveria ser combatido antes que as pessoas despertasse, uma vez que o Juiz percebeu a manipulação do inimigo e tentou expô-la, entretanto, os tribunais trabalham para o inimigo, e é o eixo tático de todo o plano maligno, possibilitando a tomada do controle. A possível insurgência foi reprimida pelas pessoas que se diziam ao lado do Juiz, derrubando assim a linha de defesa entre o diabo e o povo.

       O narrador, (lembrando tratar-se de Nefarious), conclui o capítulo dizendo que as pessoas podem duvidar da veracidade do que ele está falando, mas, duvidar e desobedecer às leis naturais de Deus trará consequências muito reais.


        BURROS.


       O quinto capítulo é intitulado de "burros", iniciado citando um filme por nome, ( Idiocracia). O narrador parece traçar um paralelo com a America, considerando-os tal como uma espécie de cultura emburrecida, de eleitores mal-informados, pérfidos, obsecados por sexo, vagabundos e preguiçosos. 

      O narrador diz que a nação, por assim dizer, está quase no fim, ressaltando novamente que se tivessem ouvido os seus pais fundadores e não ( aos demônios) não teria sido assim. Uma vez que os fundadores estabeleceram dois perímetros de defesa, a saber, igreja e escolas. Ele diz ter trabalhado duro nas igrejas, transformando várias delas em uma espécie de câmbio filantrópico. Ele explica também sobre "o carpinteiro" ( é como ele se dirige a Jesus) como alguém que defende a igreja arduamente, embora, durante décadas, depois de planos e planos, de pessoas infiltradas e traidoras, ele nunca conseguiu derrubá-la totalmente, então o plano era não exterminá-la e sim deixá-la inoperante, fazendo guerras e contendas entre si mesmas, com isso, o foco do combate era desviado, em contrapartida, para anular a influência da igreja, o narrador diz que tinha que atacar de modo impiedoso as escolas, outro mecanismo de defesa.

       O narrador ressalta o cuidado e a importância que os pais fundadores tinham com os ensinamentos da escola e a formação do pensamento crítico. Ele, o narrador ( Nefarious) entende que os pensadores críticos eram uma séria ameaça para ( os demônios) em qualquer cultura. Uma das maneiras que o narrador encontra de solapar o ensino, de emburrecer os alunos é justamente tirando a capacidade de pensamento crítico, em paralelo garantindo o afastamento da Bíblia sagrada não só das escolas mas do coração dos alunos.

           O alvo real do narrador era justamente desvincular tanto da constituição como das escolas a bíblia e seus ensinamentos. Fazer das igrejas uma espécie de clubes fechados. Ou seja, desconstruir todo o trabalho dos fundadores. Para isso, também era essencial minar a liberdade. Como o narrador mesmo menciona, ele tem adeptos, ou melhor, traidores em todas as esferas, pessoas que se vestem de bondade mas que na verdade destroi a moral, os bons costumes, os ensinamentos cristãos. 

          Para tanto, na questão do conhecimento, o narrador lembra expondo dados o decaimento do conhecimento dos americanos em relação a sua própria história e cultura.

          No tocante a igreja, a ideia de existência oriundas da Divindade, sendo Deus o criador de todas as coisas, para desconstruir esse ensinamento, ele cita como Darwin foi importante na desconstrução do divino quando propõe suas teorias na origem das espécies totalmente avessa ao ensino bíblico. Não somente Darwin, como também seus sucessores ( Marx, Nietzsche, Freud, Dewey, Sanger, Lenin e outros) dando ao homem a ideia de que o próprio homem é o seu poder superior eliminado a ideia do divino, propagando com grande força o ateísmo. 

       O narrador também cita como os dez mandamentos foram a base das leis cívicas que criaram o Estado de direito nos Estados Unidos. Essa verdade foi entrelaçada na lei pelos fundadores, porém, como muitas vezes já dito pelo narrador, a geração atual não enxerga mais isso. Os mecanismos utilizados por ele contra o estado e a igreja para afastá-los da verdade funcionou. O narrador, para elucidar a ideia de emburrecimento da nação, conta uma parábola de certo aviador, que em determinado momento decide seguir por uma rota fora dos planos de voo, na crença de que suas habilidades eram suficientes para mantê-lo sempre em segurança. Em determinado ponto, o aviador se vê em apuros, o avião, sem combustível está prestes a cair, embora ele tenha um paraquedas a bordo, e mesmo com conhecimento de como utilizá-lo, ele decidiu que o paraquedas era muito arriscado, ele acreditou saber como manter o avião no ar, para ele aquela era a melhor chance, ou assim pensava, acontece que ele estava errado. Horas depois que a perícia vasculhava os destroços do avião, recorrendo aos registros dentários para identificar seus restos mortais, a única coisa que encontraram intacta foi o paraquedas.

         Ele conclui dizendo que o Estado de direito está de cabeça para baixo, o sistema educativo incapaz, a meritocracia educacional, baseada na cidadania e no pensamento crítico, foi trocada por um modelo centrado na autoestima e baseado na vitimologia e na doutrinação. Ele ainda diz que, nesses tempos atuais, se alguém ousar repetir as verdades ( de Jesus) ou ( da Bíblia) na esfera pública, será instantâneamente visto como fanático racista/ misógino / homofóbico / xenófobo. Ele termina lembrando que no passado tinha que atacar ameaças de fora para dentro, mas, o homem tornou-se tão dependente do pecado que o diabo não precisa mais de disfarces para entrar pelo portão da frente, o diabo é na verdade convidado a entrar.



         DECLÍNIO.


         O sexto capítulo fala do declínio.

          No caso, o declínio da nação Americana, o narrador inicia o capítulo perguntando se lembramos dos desfiles do dia do trabalho da extinta União Soviética.

          Esses desfiles, foram comuns por algumas décadas após a segunda guerra no alvorecer da tecnologia na década de 1970, na época, considerado um mito, contudo, o poder soviético ia definhando sem que percebessem. Tais desfiles serviam como propaganda para vendas de armas, no entanto, segundo o narrador houve um presidente que percebeu o blefe. O sistema econômico soviético não permitia inovação o que deixava todo sistema ultrapassado, em contrapartida, o Vale do Silício começava a revolucionar o mundo. A verdade é que a União Soviética estava em decadência enquanto tentava passar a imagem de grandiosa, ainda sim havia certo receio com ela. O narrador conclui essa parte dizendo ao final da página 92, "Felizmente, parece que o jogo virou". Fazendo um contraponto comparativo com a América.

            Ele cita também a chamada "Revolução Reagan" como se pudesse inspirar um avivamento e despertar entre a nação, mas, segundo o narrador, a boa notícia era que de alguma forma eles ( diabos e planos malignos ) resistiram a revolução, uma vez que algumas instituições ( infectadas pelo mal ) trabalhavam para os planos malignos. Ele diz ainda que graças a isso, ou, a todo trabalho nos bastidores, a América está agora justamente onde a União Soviética estava durante sua agonia, por parecerem tão bem e poderosos por fora, enquanto pode dentro é um cadáver em decomposição.

         O narrador diz ter ter provas para que isso acontecesse.

       * A decadência ou declínio da família.

         Ele oferece uma gama de dados para elucidar.

         70% dos americanos não são casados.

         Quase um terço sequer vivem com adultos, continua com pais e mães, ou, com dois pais e duas mães.

          O censo mostra que o conjunto de famílias heterossexuais são minoria.

           Resumindo, o declínio da família coloca em xeque a geração emergente, que, está sendo formada por adultos desajustados.

        * Ele cita também o declínio da Igreja.

          Segundo estudos, dois em cada dez acreditam ser importante ir à igreja.

           Sendo que, 59% dos que cresceram indo à igreja desistiram em algum momento de seguir nela.

           Menos de 10% acreditam nos ensinamentos da Bíblia sagrada como verdades absolutas.

            * Ele cita o declínio dos partidos políticos.

            Com um país com apenas dois partidos políticos, ou, sistema bipartidário, bastava corromper um deles. É mais fácil do que ter um país com inúmeros partidos políticos. Criar políticos carreiristas dedicados a manter os bolsos cheios foi excelente para os planos. O dinheiro falso do Estado de bem-estar social, discutido anteriormente, não foi rejeitado pela maioria. Ele compara o sistema político tal como uma luta livre, onde os dois oponentes fazem um teatro de rivalidade, mas, nos bastidores, são amigos íntimos. Ou seja, nunca existiu uma oposição política verdadeira, onde quer que se busque ajuda para qualquer questão, a mesma sempre será frustrada em algum momento.

        Segundo ele essa decadência que leva ao declínio foi enraizada na civilização Americana em um modelo de sete estágios.

         * Estágio 1 - Gnosticismo.

         * Estágio 2 - Legalismo.

         * Estágio 3 - Dualismo.

         * Estágio 4 - Darwinismo ( ateísmo) 

         * Estágio 5 - Utilitarismo.

         * Estágio 6 - Sincretismo.

         * Estágio 7 - Humanismo secular.

         Todos esses estágios são explicados em detalhes. O sétimo contém ainda quinze pontos do manifesto humanista elaborado pelo próprio ( diabo), levando o homem a adoração de si mesmo, ou seja, não exatamente o ( diabo) mas o próprio homem afastou os favores de Deus para longe de si devido aos pecados. Ele conclui dizendo que, ao aderir e cumprir esses pontos, a sociedade no todo cometerá o que ele chama de suicídio social, destruindo instituições, tradições e todo resto até ruirem completamente. O sistema antigo é colocado abaixo para que um novo seja reiniciado, e esse novo será idealizado segundo as diretrizes do próprio ( diabo ).

     



         DESESPERO.



          O sétimo capítulo se inicia com o narrador dizendo que chegou ao ponto de inflexão da cultura americana. Inflexão é justamente aquele ponto sem retorno. O narrador diz que antes do livro ser concluído 13% dos americanos acreditam que o país estava no caminho certo. O narrador apresenta uma série de dados a respeito da cultura americana. 

         * Apenas 23% dos americanos confiam no supremo, 11% na presidência e apenas 5% no congresso.

         Segundo o narrador, há sete sinais de que o sonho americano está morrendo.

        1 - A maioria das pessoas não consegue progredir financeiramente.

        2 - Donas de casa são coisas do passado.

        3 - O débito estudantil esmaga a economia.

        4 - Tirar férias não é mais para gente como você.

        5 - Mesmo com o seguro de saúde, os cuidados médicos são cada vez mais inacessíveis para a maioria das pessoas.

        6 - Americanos já não contam com uma aposentadoria segura.

        7 - Os ricos estão livres de dúvidas, o restante não dá esse luxo.

           76% dos Americanos não acreditam que a geração dos seus filhos herdará situação melhor que a deles. Dois terços dizem que não se pode confiar nas pessoas, o número de pacientes diagnosticados com depressão aumenta. 

          Neste capítulo a questão do racismo é amplamente abordada. Por várias páginas e com dados e pesquisas, o narrador mostra o quão racista a nação ainda é e o quanto isso prejudica as relações entre pessoas e famílias.

          O narrador cita alguns pormenores do que é o inferno a tortura que aguarda essa nação em declínio, desenfreada ladeira abaixo. Dentro do que é possível falar, o narrador expõe que o inferno e a condenação são reais. O absurdo na fala do narrador ( lembrando se tratar de Nefarious) é ele achar que seu mestre, de algum modo convencerá Deus de perdoá-los antes de lançá-los no lago de fogo, conforme diz em apocalipse. Ele ainda diz que.

       * O sacrifício compartilhado é substituído pelo egoísmo.

        * A honra é substituída pela vitimologia.

        * O amor pela luxúria.

        * Compromisso por coabitação.

        * Complementaridade por confrontação.

         O narrador conclui que o ser humano está cada vez mais para um animal irracional em suas atitudes do que um verdadeiro ser humano. E termina dizendo, ao final da página 126.

        "O inferno é um lugar de desespero. Exatamente o que a América está se tornando".



        MORTE.


        Na continuidade do livro, no seu oitavo capítulo, o narrador vai tratar do tema "morte" . Logo no início ele cita os pontos de virada da guerra civil americana, o ponto de virada da segunda guerra no pacífico para justamente enfatizar que o ponto de virada na guerra pela alma coletiva foi quando começaram a aceitar e celebrar uma cultura de morte, enfatizando ainda que todas as outras depravações resultam da desvalorização do dom mais sagrado de todos.

         Ele ainda diz que uma cultura que se torna depreciativa, na verdade, cada vez mais incentiva comportamentos de extinção. O fato da cultura acostumada a evitar o sofrimento, pode muito bem aceitar a morte como uma libertação. Com isso, desvalorizando o sofrimento de Cristo no calvário. Essa cultura crescente de exaltação à morte é, segundo o narrador, uma afronta ao criador.

        Ele cita o caso de Brittany Maynard, que tornou-se assunto nacional. Diagnósticada com câncer cerebral em estágio quatro, tendo apenas seis meses de vida segundo os médicos, a seu pedido foi transferida pela família para o Oregon, onde as leis estatais permite a eutanásia. ( Suicídio assistindo), por assim dizer. O narrador dá ênfase no caso dessa mulher, que, aos olhares da opinião pública, foi elevada ao estatuto de heroína. Segundo o narrador, a morte é o resultado do sofrimento que os humanos causaram ao mundo. Ele ainda completa dizendo que houve um tempo em que praticamente todos os americanos conheciam João 3, 16. Hoje, o versículo mais usado pelos americanos é aquele que diz "Não julgueis para não ser julgados" Mateus 7,1 .

          O narrador lembra que, o ato de tirar a própria vida, que é um presente de Deus, inevitavelmente os leva ao inferno, onde os sofrimentos são indescritíveis. O narrador diz que se regala com o medo, se a fé é a moeda do céu, o medo é a moeda do inferno. Ele também cita o caso de Terri Schiavo, também levada ao suicídio ( assistido) ou, forçado pelas equipes médicas. Segundo o narrador, o seu favorito é o caso de Kermit Gosnell, segundo o autor, o assassino mais bem sucedido da América. Responsável por inúmeros abortos, hoje, em prisão perpétua na Pensilvânia. O narrador menciona o macabro trabalho de Gosnell, durante dezessete anos. O cenário de todo esse horror foi sua clínica na Filadélfia, descrita como "casa de horrores". Outra personagem, Kareema Cross trabalhou para Gosnell auxiliando nos horrendos procedimentos. Cross descreve em detalhes suas experiências na clínica de Gosnell. 

       Por várias páginas o narrador ( lembrando tratar-se de Nefarious) descreve alguns detalhes desses procedimentos, de como os fetos de até vinte e quatro semanas eram dilacerados e jogados fora como mero lixo. Ele lembra que na antiguidade, os sacerdotes do mal matavam crianças em templos em nome de uma divindade denominada Moloch, hoje, tais horrores ainda acontecem, com a diferença que os sacerdotes são os próprios médicos, e a pira sacrificial é a barriga das mães. Médicos que fizeram juramento de salvar vidas, na verdade, estão matando-as antes mesmo de virem ao mundo.

    Ele ainda diz que, mais pessoas morreram pelos abortos do que em todas as guerras. É absurdo, mas, o narrador diz que, na América, o lugar mais perigoso para uma criança é no útero da mãe. A leitura desse capítulo foi muito difícil, saber que essa é uma verdade, não somente da América, mas, do mundo no geral é aterrorizante.


        DERROTA.


        Chegamos ao penúltimo capítulo do livro, tendo por título, derrota, já ao início entendemos, nas palavras do narrador, esse título, quando o mesmo diz: "O jogo ainda não está encerrado, mas com certeza está definido" pág 145.

         Segundo o narrador o povo americano encontra-se em um abismo e não consegue sair por conta própria, o povo americano na visão do narrador se distingue por duas culturas distintas inconciliáveis. De um lado os tradicionalistas ( vivendo de acordo com os fundadores da fé) enquanto na outra ponta os progressistas ( digamos que sejam os que querem minar os credos dos fundadores e substituir por uma maneira própria de viver ) Em outras palavras, o progressismo é o velho paganismo. 

       O pagão enfatiza a coletividade, eram libertinos sexuais. A visão pagã deu ao Estado o poder de indicar quais deuses deveriam ser servidos. Dar ao Estado poderes divinos sempre leva a tirania. Segundo o narrador, a razão pela qual os americanos não conseguiram derrotar os progressistas foi porque não conseguiram ver o que realmente é o progressismo. Ele continua dizendo que o progressismo não é uma ideologia política, é um culto religioso, concebido para competir pelos corações e mentes das pessoas, de modo a afastá-las das verdades eternas sobre quais sua opinião foi fundada. O progressismo por si mesmo é uma teologia, e essa teologia tem todas as marcas registradas de uma seita, o progressismo tem o seu próprio mito da criação, é especialista em distorções, como a propagação do pós- modernismo, do que nada mais é que um termo sofisticado para não se acreditar em mais nada. O narrador continua dizendo que o progressismo promove a imoralidade, e há provas dessa vasta imoralidade em toda cultura norte-americana. O progressismo exige pensamento grupal, e é por isso que eles sempre se alinham e repetem os mesmos argumentos. O progressismo leva a tirania como todas as seitas. Ele diz ainda que os americanos têm tentado derrotar o progressismo através dos partidos políticos, só que esse partido político também está infestado de progressistas.

        O narrador ainda diz que sendo o progressismo uma teologia má, só pode ser derrotada com uma teologia boa, porém, essa teologia boa deveria estar no seio das igrejas para oferecer confronto a ameaça, só que a igreja perde destaque na cultura, deixando-os indefesos aos ataques. 

         O narrador diz que o progressismo está em todos os lugares, de modo que fica difícil combater. O narrador ainda enfatiza que o problema é que ( a igreja e os americanos), por assim dizer, embora em maior número acabaram flanqueados, porque são leões liderados por amebas. O narrador diz que os púlpitos estão ocupados com líderes mais preocupados com o crescimento do seu império do que promover o evangelho genuíno de Jesus. 

        Lembrando novamente que o narrador aqui é o próprio diabo ( Nefarious). Ele conclui que o povo, como ovelha, carece de um verdadeiro pastor que se dispõe a lutar e proteger seu rebanho dos lobos ( no caso eles, demônios), que esses pastores são covardes e medrosos, abandonando o rebanho à própria sorte. 

      Ele ainda fala sobre o pecado, dizendo que o povo odeia a ideia de que os pecados têm o mesmo peso, porque as pessoas desejam acreditar que seu pecado não é tão ruim quanto os dos outros. Segundo ele, todo pecador é tratado igualmente, não importa a gravidade, quantidade ou posição na vida. Embora a oportunidade de remissão esteja a um simples pedido sincero, mas o povo não o faz.

          A fragilidade dos pastores, a descrença no poder da palavra, em face de seus corações mais preocupados em gerir seus próprios impérios é a causa da derrota. Ele ainda cita leis criadas e trabalhadas de modo a tornar os homossexuais a classe de vítimas mais protegidas de todas e relegando os cristãos a uma condição de segunda classe. O narrador diz ao final do capítulo que nunca encontrou uma cultura tão depreciativa disposta a entrar no piloto automático da autodestruição. O narrador lembra que durante gerações os americanos eram um farol de liberdade em um mundo sombrio de tirania, agora estão dispostos a exportar toda sorte de esquema maligno para todo o planeta.

       No finalzinho do capítulo o diabo diz que estava em Sodoma e Gomorra quando ela foi destruída. Assim como estava presente no dilúvio, na derrota pelos assírios das dez tribos de Israel ao norte e depois pelos babilônios das duas tribos restantes de Judeus ao sul, o sangrento cerco de Jerusalém por Tito e os bárbaros saqueando a Roma cristã. Segundo o narrador, esses são alguns dos dias de destruição preferidos do inferno. Isso mostra que "ele", ( Nefarious) deseja o mesmo fim para a nação em questão, abordada no livro.


         JULGAMENTO.


   O último capítulo do livro fala do julgamento, mas, que julgamento é esse?

   O narrador inicia da seguinte maneira:

    "Vocês podem se perguntar por que continuamos fazendo o que fazemos", um pouco mais para frente ele afirma que continua fazendo o fazem justamente porque acredita nas palavras da Bíblia ( embora o termo que ele usa para definir bíblia seja, "livro horroroso" ), ele conclui essa afirmação falando que eles são mestres do engano, porém, não são idiotas. Eles reconhecem que não são a força mais poderosa do universo e sim Deus. É que "nós" humanos somos a carta na manga para provar para Deus que a humanidade é o pior erro de Deus. O narrador ainda reconhece que na rebelião inicial eles não esperavam vencer. A rebelião, nas palavras dele, foi para defender uma ideia, chamar a atenção para o que estava estragado, que era injusto a forma em que eram tratados.

        É evidenciado nas palavras do narrador ( lembrando se tratar de Nefarious - o próprio demônio) todo o seu descontentamento e ciúmes do ser humano. Quando o mesmo foi beneficiado por Deus com a capacidade até mesmo de criar vida em si, uma vez que para eles ( quando anjos ) nunca lhes foi dada tal oportunidade. Segundo Nefarious o seu mestre elabora o plano de nós tentar para provar ao pai que foi um erro nos ter criado. Ele cita o caso de Jó, o primeiro homem e mulher no paraíso. E ainda depois de tantos erros, irrita-o o fato de Deus ainda nos procurar e oferecer uma saída, amor e benevolência. Neste último capítulo ele reafirma a sua ideia absurda de que conseguirá convencer Deus de nossos erros e com isso ganhar novamente as suas condições originais.

         Ele reafirma também o plano de destruir a América, fazendo de exemplo bom para exemplo de ruins e causadores do caos. O narrador afirma ainda que está agora no tribunal divino, que são a promotoria apresentando provas contra nós, e que tais provas são incontestáveis tendo a história como guia. Ele ainda se utiliza de certo texto bíblico em Romanos para reafirmar a sua acusação de que os homens deram vazão às suas paixões, desprezando o conselho e amor divino para adorarem a si mesmos.

      Ele termina o livro dizendo:

      "E querem saber? Mesmo que eu esteja errado, e que nosso querido e velho pai não determine que a sua queda em desgraça selará o destino da humanidade, eu pelo menos terei alegria de ver vocês em seu lugar, no monturo da história".


         OPINIÃO FINAL


        Sem sombra de dúvidas que o diabo nesse livro confirma quem ele é de verdade, um enganador e mentiroso desde o princípio. 

          Claro que, o ser humano da época atual está mais para o diabo em suas atitudes do que para Deus, dando asas às suas paixões carnais, alimentando os seus pecados e virando as costas para os bons costumes adotando uma cultura completamente contrária ao que a Bíblia diz. As afirmações de que convencerá o pai de mudar de opinião no final de tudo é um absurdo aterrorizante. 

           O livro mostra quem é realmente o diabo, um ser muitíssimo inteligente e com uma capacidade de persuasão absurda, para tanto que enganou a terça parte dos anjos. Esse livro revela a luta dele contra a alma humana no contexto geral, mostrando o seu desprezo por nós, enciumado por não ter o direito que temos. UMA VEZ VIVOS, dispostos a pedir, SINCERO PERDÃO, toda obra dele é desfeita. Por isso o seu empenho em nos fazer cegos para essa verdade absoluta, na tentativa de controlar da nossa mente e coração,nos dando a ilusão de que tudo está perdido, mas, a guerra não está perdida. Como eu disse, basta apenas um coração sincero e arrependido e um pedido de perdão genuíno. O sangue derramado na cruz do calvário nos concede o direito ao céu ainda que estando na terra. 

          Eu poderia discorrer páginas e páginas sobre o livro, mas não o farei. Lê-lo foi uma experiência única. Cada um deve ter a sua própria. Recomendo a leitura do livro, contudo, faço uma ressalva de que o livro não é para qualquer mente e tão pouco para corações fracos.





   

      

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

MOSAICO DE SENTIMENTOS NUS.

 




     MOSAICO DOS SENTIMENTOS NUS.


    As janelas do castelo estavam abertas, escancaradas, à espreita, de modo que era possível ver dentro do próprio reino, e naquele momento único, começava um diálogo incomum entre a memória e o coração no mais profundo do pensamento, no âmago quase inimaginável, inabitável na incompreensibilidade do complexo intelecto.

   — Sim! É ela, e isso é inacreditável! É o beija-flor! Sim, aquela mesma de outrora, ela veio ao castelo desfilando toda a sua beleza, com grande esplendor e formosura que lhe cabe, como das vezes anteriores, pousou na janela da alma sem a percebermos, devedoras é espantoso.

   — O que fizeste a respeito, nobre senhor? O que se diz em todo este reino é que ela não aparece já há muitas primaveras, e a propósito, se realmente o que dissestes seja verdade, qual o motivo que a trouxe novamente para os nossos domínios, e, principalmente! Como pode tal façanha sem que eu não a tenhamos notado? Uma vez que nada me escapa...

   — Caríssimo amigo, essa história não está muito bem contada, existem algumas variáveis não consideradas nessa complicada equação, nesse mosaico dos sentimentos nus ...

   — O que não está muito bem contado nesse, como você mesmo disse, mosaico de sentimentos nus? Escondes algo de mim nobre senhor? Justo eu. E que variáveis são essas dos sentimentos nus no seio das vontades e desejos humanos?

    — Perdoe-me amigo… Perdoe por não ter lhe contado tudo antes.

   — Como podes fazer tal! O que escondes de tão valioso deste que a tanto lhe serve?

   — É o beija-flor, não reconhece? Aquela mesma de outrora, lembra-te, frequentemente ela aparece no domínio dessa torre, aos olhares dos demais súditos do castelo, tão desavisados, e do próprio rei aliás - que é o meu pai - é apenas uma ave voando desavisada nos entornos do castelo, pousando aqui e acolá. Essa ave tão ligeira, é, e sempre será ave, não se engane quanto a isso. Difícil explicar eu sei, um dia você vai entender.

   — Escondestes de mim esse segredo muitíssimo bem, justamente eu, o seu súdito mais leal, como podes tal?

   — Ainda acreditas em mim?

   — Jamais duvidei de ti meu príncipe, jamais, sabes disso, desde tenra idade sempre acreditei em cada uma das tuas histórias e as guardei a sete chaves, agora que és príncipe, eu continuo a acreditar ainda mais, embora, eu seja o único nestes domínios.

   — Eu sei meu amigo… Eu sei... Mas tudo tem o tempo certo, em breve lhe explico tudo quanto aconteceu.

   — Por favor, meu jovem príncipe! Conte-me o que aconteceu, conte-me agora mesmo?

   — Tudo bem… Tudo bem, Lhe conto então.

   — Obrigado jovem príncipe, muitíssimo obrigado.

   — Era novembro, eu bem me lembro, o jardim banhado em ondas de luz rodopiantes, o luar prateado por sobre a mata densa, os seres da noite fazendo serenata. Eu bem me lembro daquele olhar reluzente e fugitivo, daqueles toques quentes despertando paixão, do som daqueles lábios na pronúncia de cada palavra. Eu bem me lembro daquele nosso último novembro, quando o rei então nos flagrou no primeiro beijo juvenil. Proibiu-me de vê-la enquanto vivesse e aprisionou-me na torre deste peito. Foi então, caro amigo memória, que as fadas do primeiro reino encantado, a meu pedido, movidas por compaixão ao ver meu sofrimento por esse meu amor tão impossível, com poderosa magia, em beija-flor a transformou. Vê, essa ave tão alegre, na verdade é ela, sempre foi o meu único e grande amor impossível.

   — Santo Deus! Então foi esse o verdadeiro ocorrido… Pensávamos que ela tivesse sido levada pelos ladrões do reino esquecimento ou coisa semelhante. Nunca mais a vimos, o reino do esquecimento é completamente inacessível para nós, pensávamos que ela estivesse por lá.

   — Para todos os efeitos, amigo memória, ela foi levada, contudo, peço-te, fiel companheiro, que guardes este meu segredo enquanto vivermos. Não o reveles a ninguém, principalmente a razão, sempre contraditória ao que tanto desejo, sempre fazendo oposição a tudo que entendo por agradável, nunca na história desse reino concordamos em alguma questão.

   — Eu prometo meu! Eu vou guardar esse segredo com a minha própria vida, o teu segredo estará salvo com a memória em seus recônditos mais ocultos, somente tu terás acesso.

   — Obrigado amigo, pode se retirar, desejo ficar à sós.

   — Sim nobre coração, como desejares, este teu amigo memória estará sempre à disposição para lhe ajudar no que for.

   — Os dias são ruins, caríssimo amigo coração, e como todos os outros, nada tenho a fazer do que observar em silêncio. Os pensamentos do coração são como o vento, como a brisa que sopra vindo do norte, ou uma sombra passageira. O beija-flor, o meu beija-flor, o meu único e grande amor, aquele mesmo de outrora, de todas as minhas primaveras, ainda não sabe de todos os motivos que me levou ao cárcere dentro de mim mesmo, pretendo, se possível for, jamais revelar tal segredo. Enquanto isso, a solidão me cabe perfeitamente na companhia deste peito. Podes sair agora amigo...

   — Como quiser.

   O castelo forte fechou as janelas da alma, passou as mãos sobre os cabelos, coçou a cabeça, não compreendo os mistérios que passavam dentro do reino oculto de seu próprio eu. Observou uma vez mais a visão daquela noite, saiu cabisbaixo sem dizer uma única palavra, porém, escondendo todas as impressões que teve da moça que há tanto conhecia e a muito amava, ela, fugitiva noite adentro, ele, fugitivo dos próprios sentimentos noite afora, dentro de si, fervilha o mosaico de sentimentos nus.


domingo, 29 de setembro de 2024

CRÔNICA DE DOMINGO.

 

  


     NEFARIOUS.


    O que se segue é apenas um resumo da introdução ao primeiro capítulo.

     Eu não pretendia fazer dessas anotações a crônica deste domingo, porém, por algum motivo que eu mesmo desconheço, resolvi disponibilizar para os meus leitores a minha primeira impressão. Quem sabe assim, encorajando-os a embarcar comigo na leitura desse livro, extraordinário.

    Passemos adiante...

    Na introdução do capítulo primeiro, de cara vemos que se trata de uma narrativa poderosa em primeira pessoa, cujo narrador é o próprio (diabo) por nome Nefarious. Segundo esse narrador, ele teve autorização de seu "Mestre", para fazê-lo.

     Vale lembrar que, sendo uma narrativa em primeira pessoa, de cunho fortemente confidencial, vale salientar que temos um único ponto de vista aqui, a do próprio diabo, e, considerando ser ele O PAI DA MENTIRA, devemos o tempo todo desconfiar do que ele está dizendo e expondo como sua suposta verdade.

         Contudo, ele começa o livro enaltecendo a si mesmo, desprezando o ser humano como a joia da criação. Nefarious se coloca e assim classifica a todos os demônios como muito orgulhosos e desejando adoração de nós (humanos). Porém, na visão dele, ( o diabo) tal atitude foi um calcanhar de Aquiles, uma vez que os humanos são tão mais orgulhosos e desejando adorar a si mesmos quanto o próprio diabo. Nefarious sugere então ao seu mestre que o melhor modo de nos manipular era usar o nosso orgulho e egocentrismo contra nós mesmos. Fazendo de “nós” a nossa própria pedra de tropeço.

           Outra visão que Nefarious deseja passar é de indignação.

            Para "eles", Deus errou em dar a preferência aos humanos e amá-los mais do que a eles, que foram criados primeiro. Na visão dele, nós, tomamos a sua primogenitura. Ele tenta passar uma visão distorcida da rebelião inicial. Para Nefarious, Deus errou em delegar tantas coisas aos humanos, uma vez que eles, quando ainda eram anjos, ficariam de fora da obra divina. Para Nefarious, o seu mestre ( Lúcifer), não tinha em mente uma rebelião, mas, colocar o seu ponto de vista na tentativa de fazer Deus voltar atrás em seu plano com os homens. Isso já mostra quão distribuidora é a visão do narrador que se diz, "indignado".

         Segundo Nefarious, ele pode ao longo da história moldar alguns dos "homens", ao seu bel prazer transformando seres insignificantes em pessoas com destaque ( maligno) para variar.

         Margaret Sanger, por exemplo.(1879-1966), ativista e enfermeira norte americana que popularizou o "controle de natalidade" e fundou a organização Planned Parenthood, hoje uma das maiores e mais ricas indústrias do aborto. Ele cita entre as criações de seu mestre, a Coreia do Norte, da qual sente grande orgulho. Ele cita também Lizzie Borden, que tomou um machado e deu em sua mãe quarenta golpes. Quando viu o que tinha feito, deu quarenta e um em seu pai. Ele fala também do filho esquisitão de um fazendeiro bávaro e o transformou no Führer, ou Adolf Hitler. Assim como do camponês chinês que foi transformado em presidente. Todas essas personalidades, dentre outras, serviram ao propósito do mal, sendo a própria expressão do diabo, cheio de horrores e carnificina.

          Ao final da introdução ele cita a América do norte, no começo, dando um pouco de trabalho de se corromper, fazendo com que ele observasse melhor aquelas pessoas a fim de corrompê-las. Ele não cita exatamente como fez, porém, pretende fazê-lo nos capítulos seguintes.

          Lembrando que, trata-se apenas da introdução ao primeiro capítulo. Certamente que a maioria de vocês já devem ter assistido o filme. Uma adaptação cinematográfica desse livro, escrito pelo autor, Steve Deace. Eu ainda não assisti, pretendo depois de ler o livro.

           Steve é um escritor e apresentador de rádio americano. Reconhecido como uma influente voz no debate político cultural dos EUA, transmite diariamente seu programa the Steve Deace Show e escreve para o Washington Times, Today e Conservative Review. Além de Nefarious: o plano maligno, adaptado para o cinema em 2023, escreveu vários outros livros. Ele mora em Iowa com sua esposa, Amy, e seus três filhos, Anastasia, Zoe e Noah.



sábado, 28 de setembro de 2024

O DENTISTA.


        



           Novamente a dor intensa, e ainda mais dor de dente...

           Justamente hoje, segunda-feira.

           Passei a noite em claro, rolando de um lado e de outro na cama, é o dente do fundo novamente, maldito dente, bem que o Gilberto me avisou, tanto que ele falou e repetiu, eu, teimosa que sou sempre dando desculpas. Agora a conta da teimosia chegou, o pior é ter que aguentar a falação do Gilberto depois. "O que eu te falei Ana, você é teimosa", vai ser qualquer coisa começando por aí. Dessa vez vou ter que ficar quieta, ouvir calada, mesmo porque não estou com disposição para discutir.

           O relógio marca seis horas em ponto, Gilberto está roncando, como sempre.

            Não adianta eu ficar na cama sofrendo, o melhor a fazer é procurar um médico, ir no P.A tentar passar no dentista, emergência na verdade. Dentista no pronto atendimento é somente emergência, um procedimento por vez, o básico. Eu nem disse do dente quebrado no fundo da boca para o Gilberto, ele acha que é só um, do lado direito, mas do lado esquerdo também está com problema. Tempos atrás ele quebrou, agora está incomodando muitíssimo, se eu falar desse outro o Gilberto dispara a falar que não vai parar mais.

           O melhor a se fazer é sair antes dele acordar.

           Gilberto trabalha a tarde em um mercado, no setor do açougue, eu trabalho em outro mercado, na área dos caixa, também à tarde. Ambos não temos plano de saúde, bom seria se pelo menos um de nós tivéssemos, porém, para quem trabalha em comércio, sem chances.

             Houve um tempo em que o Gilberto trabalhou em uma empresa metalúrgica em uma cidade vizinha. Uma importante indústria que produz alumínio, se não me falha a memória a cidade tem esse nome também. Naquela época era bom, salário alto, plano de saúde da Unimed. Eu sei que tem muitas pessoas que criticam, falam, xingam e tal... Até confesso que algumas vezes eu fiz isso, reclamava da fila, do atendimento. Olha só onde estou agora... Se arrependimento matasse eu seria a primeira a morrer, com certeza seria. Agora tenho que enfrentar o SUS. Filas intermináveis, marcar uma consulta e conseguir uma vaga leva quase uma eternidade. Pode se dizer que é um milagre quando você consegue passar rápido no médico. Eu me arrependo de não ter aproveitado mais, depois que perdemos damos valor, é sempre assim, somos seres incorrigíveis.

            Antes de qualquer coisa tenho que mandar mensagem para minha líder. Silvana. Ela não vai gostar nada de eu ter que faltar justamente na segunda-feira.

            Pego o celular, escrevo uma mensagem básica dizendo o que estava acontecendo. Ela respondeu rápido, disse apenas "tudo bem", nem falou mais nada. Eu sei que esse, "tudo bem", não é bem isso, por dentro ela deve tá se remoendo. Silvana odeia que as meninas do caixa faltem. O Gilberto disse que conseguia pra mim lá onde ele trabalha. Faz tempo que ele fala isso, que lá é melhor, mas, a teimosa aqui fica inventando desculpas. Sinceramente, está na hora de começar a escutar mais e reclamar menos.

         Vou direto para  cozinha fazer o café.

         Há dias em que minha vontade é de desaparecer no mapa, ir para um lugar bem longe, distante de tudo, um sítio afastado da civilização estaria de bom tamanho. Por mim eu faria isso, venderia essa casa e desapareceria, mas, o Gilberto grudou o umbigo nesta cidade de um jeito que só mesmo Deus para arrancar. Quando falo com ele do sítio ele diz que somos muito novos para nos escondermos, ele diz que sítio é para pessoas mais velhas, eu discordo dele, não entendo essa recusa.

          Os primeiros raios do sol invadem o quintal, aos poucos, a escuridão da noite recua.

         É um novo dia... Que de novo não tem nada.

         Na pia da cozinha ainda restam algumas louças da noite anterior, eu bem que poderia ter lavado, mas, essa dor incômoda de dente está me tirando a paz. Antes de passar o café lavo e seco tudo. Pia limpa, enquanto a água do café está fervendo vou colocar comida e água para nosso cachorro. Eu poderia colocar as roupas para bater enquanto isso, porém, se eu for fazer isso, daqui a pouco estou limpando a casa inteira e adeus dentista. Eu preciso muito ir lá, arrancar esse dente dolorido. Se eu não tivesse protelando tanto não estaria passando todo esse perrengue. Voltando a cozinha, termino o café, tomo um golinho a pulso, hoje está difícil até para tomar um simples café. Se eu pudesse, arrancava eu mesma esse dente maldito. Deixo a mesa arrumada para o Gilberto, ele geralmente acorda somente depois das dez, graças a Deus que ele sabe se virar com o almoço, se não, eu teria que deixar tudo pronto. Volto ao quarto na pontinha dos pés, não quero acordá-lo antes do horário.

           Separo minhas roupas, toalhas e vou para o banho.

          Enquanto me preparo para o banho, me despindo lentamente, me vem à mente as reclamações do Gilberto quanto a nossas intimidades. Já faz um tempinho que não fazemos amor. Eu sei que ele está, como vou dizer, necessitado, acontece que, de uns tempos para cá, eu fiquei sem vontade para o sexo, completamente sem vontade nenhuma. Às vezes eu até tenho e quando aparece geralmente o Gilberto está no trabalho, daí me viro sozinha no banheiro, não é o ideal, mas funciona. O problema é que depois a vontade passa completamente e acabo por transar com o Gilberto meio que só para não decepcioná-lo, zero tesão. Uma das minhas amigas disse que isso acontece por causa dos remédios que tomo para dormir. Um dos efeitos colaterais dos ansiolíticos é diminuir a libido, no meu caso, a devastou completamente. Não sei mais o que fazer quanto a isso.

            Deixo a água quente percorrer o meu corpo, talvez os pensamentos ruins desapareçam junto com a espuma no ralo.

            O banho é rápido. Na maioria das vezes demora, hoje não.

             Pego a toalha e enxugo o corpo lentamente, me olhando no espelho percebo que, apesar dos quarenta, ainda conservo um corpo bonito. Os seios, a bunda, tudo em cima. Deve ser por isso que o Gilberto fica tão angustiado, tendo uma mulher "gostosa" como ele costuma dizer e não poder aproveitar como queria.

              Termino de me enxugar, me troco apressadamente, quero ir logo para o P.A enquanto tenho coragem. A dúvida é se vou de carro ou de ônibus.

       Resolvo ir de carro mesmo.

       Fiquei pensando, arrancar o dente vai doer muitíssimo, ainda mais que está meio inflamado, acho que nem anestesia direito vai pegar, meu Deus, só em pensar na dor dá vontade de desistir. Eu bem que poderia acordar o Gilberto e pedir pra ele me levar, mas não vou fazer isso. Chato do jeito que ele é, vai ficar falando e falando, colocando um milhão de empecilhos, daí sou eu quem vai ficar estressada, melhor não. 

        Pego a bolsa, as chaves do carro, dou uma última olhada no Gilberto, está roncando, nem vai me ver sair.

        Ligo o carro, abro o portão da garagem, a rua está com pouco movimento, graças a Deus por isso, eu não gosto de barulheira. Nos últimos tempos essa rua tem ficado horrível, é impossível não se estressar, mais impossível ainda é conseguir assistir alguma coisa na TV, principalmente à tarde. Um pouco mais a frente de casa, na rua que desce, o prefeito construiu uma creche, perto de duas escolas. Nos horários de entrada e saída de alunos a coisa fica horrível, até mesmo para atravessar a rua é difícil. Minha vontade era de vender essa casa e desaparecer.

           Aproveito o movimento fraco, tiro o carro da garagem.

            Tenho que ser rápida, uma das vizinhas, não exatamente vizinha, dona Cleusa que mora quatro casas a frente da nossa, está no portão. O problema é ela parar para conversar, quando começa, meu Deus, não para mais. Vou fingir que não estou vendo. Se ela vier aqui conversar, pronto, adeus dentista. 

            De canto de olho percebo que ela está olhando pra mim, abaixo a cabeça fingindo não vê-la, fecho o portão da garagem apressadamente, entro no carro e sem olhar vou pelo outro lado da rua. O certo é sair na direção dela, mas, vai que essa doida acena e me para. Não quero arriscar, então, vou pelo caminho mais longo. Fazer o quê, faz parte.

            Eu tenho duas opções de Pronto Atendimento, o da Zona Norte e o da Zona Oeste. 

            Apesar do da Zona Norte ser pertinho, prefiro o da Oeste. O P.A da zona Norte é mesmo um açougue a céu aberto, sem dizer nos barracos que acontecem  por lá diariamente. Meu Deus, não, não, melhor ir um pouco mais longe e não correr o risco. Já é ruim ficar esperando um século pra ser atendida, daí vou ser cobaia não mão de médicos que mais parecem adolescentes.

              Saindo do bairro ganho a avenida Edgard, o trânsito está tranquilo. Essa avenida vai direto na Itavuvu. Não demoro nada e entro por trás da Coop, um acesso mais fácil para Itavuvu, que infelizmente está movimentada nesse horário . Carros, ônibus, caminhões, buzinas, todo mundo estressado, desse jeito vou demorar um século para chegar. A cada semáforo, uma eternidade, fila interminável, às vezes é preciso parar pelo menos três vezes até passar pelo semáforo e chegar no próximo. Sorocaba de uns tempos para cá ficou horrível de se viver, essa é a verdade.

             Aos poucos, lentamente, semáforo a semáforo, eu chego finalmente no P.A da zona oeste, que por sinal está lotado, saudades do tempo em que eu tinha plano de saúde... Coloco o carro no estacionamento de sempre, na rua lateral ao P.A. O local é simples, pequeno, porém, o pessoal é de confiança. Por sorte, ainda encontrei lugar para estacionar. Saio do carro, pego o papelzinho do estacionamento, guardo-o no bolso, desejo sorte para mim mesma. Na verdade estou tentando disfarçar o horror que tenho de dentistas, as pernas estão tremendo até dor de barriga deu.

               Na recepção do P.A, uma fila enorme para variar, eu estranharia se não houvesse.

               Espero um, dois, dez minutos só para chegar minha vez na recepção. Faço a fixa e procuro um lugar para me encostar. 

                Sentar é impossível. 

                Antes de ser propriamente atendida pelo dentista de plantão tenho que passar pela triagem, certamente, será outra luta contra o relógio, pelo andar da carruagem, não vou sair tão cedo daqui. Os nomes das pessoas que são chamadas para triagem aparecem, são duas salas de atendimento, apesar de estar indo rápido, pela quantidade de gente, a minha vez não chega, enquanto isso, dor, espera interminável deixando ainda mais intensa  a dor, as pernas trêmulas, as mãos suando frio, aquela dor de barriga devido ao nervosismo. A vontade e de sair correndo pela porta e não voltar nunca mais nesse lugar, porém, eu não tenho dinheiro para um dentista particular, ainda que me esforçasse, eu teria que manobrar algumas contas, o Gilberto falaria uma eternidade por causa disso, portanto, desfaço essa ideia do pensamento. O jeito é aguentar, esperar, pedir a Deus forças para aguentar a dor. Com toda certeza esse dente deve de estar inflamado, uma vez nessas condições, adeus anestesia, só em pensar meu desespero se transforma.

           Passa dez, vinte, meia hora, nada, nem mesmo a triagem.

           Já irritadíssima, procuro a recepção para perguntar o que está acontecendo que não me chamam.

            Não demorou nada após a reclamação e já deram um jeito, se eu não falasse nada ficaria aqui o dia todo. Finalmente o meu nome é chamado. A pressão arterial estava um pouquinho alterada, não é para menos, não bastasse a demora havia um caminhão de nervosismo envolvido no processo. Volto ao lugar esperançosa de não ter que esperar muito, porém, ao mesmo tempo, não querendo que me chamem logo, vai entender.

           Finalmente o meu nome é anunciado.

           Entro no consultório de pernas bambas.

           Quando finalmente me sentei na cadeira do dentista, outro susto, só que dos bons. O dentista é mesmo um deus grego de olhos verdes. Se porventura existir deuses no Olimpo, eis que um deles é dentista, momentaneamente esqueço a dor, esqueço tudo, por mim, que demore o quanto for necessário. Que esse deus em forma de homem invada minha boca sem rodeios. É claro que doeu sim, e não foi pouco, porém, o cavalheirismo desse homem é qualquer coisa sem igual. Agora compreendo a fila gigante de mulheres para passar no dentista. Sinceramente, acho que vou ter que vir mais vezes.

              Sentada, de olhos grudados nos olhos verdes desse gato, deixo ele fazer o que bem entende, enquanto me perco em mil devaneios.

        Cheguei em casa um pouco antes do Gilberto sair, a primeira coisa que ele fez foi perguntar ...

         — Como foi lá amor?

         — Uma merda... Pensa numa irritação.

          Os pontos na boca incomodando na fala, ainda amortecida pela anestesia.

           — E o dentista, como foi?

           — Era uma mulher na verdade, troglodita infeliz, por mim nunca mais voltaria lá.

              Ele não diz mais nada, sai apressado para não perder o horário. É claro que não vou dizer para ele que na verdade o dentista era um poço de pecado que fez compensar toda espera e dor, não sou louca, prefiro ficar no silêncio e continuar sonhando acordada, afinal, sonhar ainda é de graça.

domingo, 22 de setembro de 2024

CRÔNICA DE DOMINGO.

    



                 A FOTOGRAFIA.


Desejei os teus lábios logo ao acordar, eu os desejei intensamente, de uma maneira única como nunca houvera desejado antes.

É manhã de domingo, fria manhã, final de inverno, é um domingo qualquer sem tanta importância. Você visitou-me nessa doce manhã logo ao despertar, lembrança de um tempo em que eu era poeta e a juventude vestia de beleza nossos corpos.

Lá estava você, na recordação desse pensamento fugaz, vestida de majestade e beleza, com um universo inteiro de estrelas cintilantes em seu olhar. Os teus lábios em suaves movimentos na pronúncia delicada de doces palavras, o teu corpo tão perfeito, com curvas tão delirantes, eu apenas observava, quieto em meu canto, abismado, sem reação, éramos um jovem casal... Você… A passos lentos aproximando-se, sentando-se ao meu lado, o inebriante perfume de flores do campo, perfume que até as tulipas encantam, você enlouquecendo-me. Quisera eu voltar naquele tempo, poder beijar-te a face em ardentes beijos e ser o alimento dos teus lábios, sentir novamente a doçura do amor, o teu encanto cheio de mistérios e os mistérios no encanto silencioso do olhar. 

Eu era apenas um espectador naquela ocasião, naquela melancólica manhã de um dia qualquer. O insano desejo em minha mente, a incontrolável vontade de ter teus beijos ardentes, este teu sorriso mágico, tão perfeito, tão natural. O tempo passou, restou as lembranças atormentando nossos corpos envelhecidos.

Um discreto sorriso no formato desejável da loucura, já o meu desconcertado sorriso, revelando toda minha admiração, revelando o quanto você me dominava. O teu poder sobre mim deveras era mesmo absoluto. Quisera eu ser como o beija-flor para arrancar da seiva virgem dos teus lábios a doçura de cada primavera. Contudo, sou apenas um poeta observando em silêncio essas dolorosas lembranças. O magnífico ser tão distante de mim, a nossa fotografia, o teu sorriso, a rósea face, por dentro eu me enlouqueço, por dentro eu te desejo. Como eu gostaria de ter aquele fugitivo momento. Minha alma guarda tão grande amor, maior que o próprio peito e o tempo. Recordar é viver uma vez mais, essa nossa fotografia me fez jovem por dentro novamente, uma única e talvez última vez.

Perdoe-me a indiscrição, perdoe-me a indelicadeza das palavras, eu não pude resistir, meus olhos enfeitiçados enlouquecem na contemplação de algo tão divino de curvas tão delicadas. A cor exuberante da pele, tudo enfim, era magnífico, lembra-te amor? Ainda te recordas?

Revela-me ainda mais, meus olhos não resistem.  Então, enlouquecido, na perfeição de tua beleza, tal qual a flor do amor plantada no jardim primavera, a enlouquecer os poetas ingênuos. Talvez sim… Eu... Poeta ingênuo das madrugadas, talvez sim… Eu… Seja mesmo insano, diga qual criatura não seria? 

As horas passaram-se rapidamente, eu continuo a observá-la pela nossa fotografia em meus dedos trêmulos, o tempo não perdoa ninguém, você — anjo ledo, tão perto e distante de mim, sou este poeta louco, perdidamente apaixonado, sou como o beija-flor que sonhou com a rosa da primavera, ou, talvez eu seja a própria rosa da primavera que sonha ser com o beija-flor.

Logo mais tudo será silêncio, apenas essa fotografia e as palavras do poeta continuará um pouco mais, até que o tempo, este déspota sem coração os corroa lentamente.


domingo, 8 de setembro de 2024

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


    UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.


    Um pássaro pousou em minha janela.

    Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pousou em minha janela na tarde desta bela sexta-feira. Quisera eu ter as suas asas e voar livremente pelo imenso azul celeste, entre fogosas nuvens, brincar alegremente, ver o mundo lá de cima, ter a liberdade brincando com o vento em minhas asas. No entanto, é dolorida a realidade em que percebo não ser tal como o pássaro, de não ter asas, de nunca ter sonhos, de nunca poder voar, de não ser livre. Talvez a imaginação me crie asas, ainda que essas, antes mesmo da existência tenham sido cortadas pelos homens, ainda que sejam as asas de Ícaro.

     Um pássaro pousou em minha janela.

     Quisera eu ser esse pássaro de penas reluzentes, com o bico afinado, cantando suave e harmonioso — eu não sou este pássaro, pelo contrário, eu sou o poeta da melancolia e tristeza, bêbado de solidão no meio da multidão, desajeitado com as palavras, tropeçando vez ou outra aqui e ali em alguma desavisada rima que passa, acenando de uma janela triste. A liberdade que eu sonhei, imaginei, voou nas asas do pássaro que estava preso na minha imaginação, estava preso... Agora não mais.

    Um pássaro pousou em minha janela.

   Outro dia veio em minha janela esse pássaro diferente de todos os outros que já pousou por outras vezes. Esse tinha as asas coloridas, mais longas, com o bico também alongado. Contudo, a sua canção parecia a viva entonação de meus versos tristes e melancólicos. Não consegui determinar que ave era aquela, nem entender a sonoridade quase fúnebre de seu canto. Sei que ela causou-me grande admiração, medo e espanto. Uma vez mais faço-me repetir… Quisera eu ser aquela ave, ou qualquer outra a propósito, conquanto que eu tenha asas e possa voar, que tenha a liberdade novamente. Liberdade essa roubada por mercenários do pensamento, da ideologia de que não teremos nada e seremos felizes... Eu não sou esse pássaro, talvez no passado eu tenha sido, porém, até mesmo as lembranças do meu passado foram roubadas de mim.

   Um pássaro pousou em minha janela.

   Quisera eu poder ser todos os pássaros do mundo, pelo menos um de cada nação 

— que fosse apenas um dia — e ter a mais bela canção, ainda que não lírica. Quisera eu ser esses pássaros todos e ganhar todas as nuvens e todas as liberdades em cada céu de cada lugar, e poder voar sempre mais alto possível até quase desmaiar, e ter a liberdade e a solidão entre minhas asas. 

   Quisera eu… 

   Ser apenas uma vez na vida, um pássaro qualquer. Entretanto, me oferecem as asas de Ícaro e um céu terrivelmente ensolarado, me vendem a ideia de que eu posso sim voar perto do sol, que o mito de Ícaro é uma ilusão, afinal, não existem perigos. Os mercenários do pensamento plantam nas mentes essas e outras ideologias mentirosas. Não sou um pássaro, aliás, não somos pássaros, a única certeza de que tenho é a de estar preso numa gaiola, suspensa no mundo, a porta está aberta, ao lado, ( as asas de Ícaro ). A falsa sensação de liberdade chamando do lado de fora.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

A TIRANIA DO RELÓGIO.

 



Dane gostava de acordar cedo, antes do nascer do sol, hábito herdado dos pais e avós. O céu ainda estava escuro quando ela despertou, não quis perder tempo, ela odiava desperdiçar o tempo, embora ainda com sono, evitou o último cochilo. Tratou de levantar-se de um só pulo, como era de costume em todas as manhãs. A primeira coisa que fazia ao se levantar era abrir a janela do quarto, que dava de fundo para o quintal, espaçoso por sinal, ela abria a janela apenas dois palmos nada mais, nada a menos. O silêncio absoluto era interrompido pela algazarra dos pássaros no pé de cereja. O céu começava a ser invadido por pálidos tons de um alaranjado fraquinho se intensificando aos poucos, mudando de tom cintilando no horizonte, era o sol timidamente acenando do outro lado do mundo, pronto para romper a escuridão e dar início aquele novo dia. Dane ficava por alguns minutos olhando o horizonte pelo pequeno espaço da janela, contemplando o silêncio, que logo mais seria maculando por uma manhã barulhenta e de muita correria que era às segundas-feiras. A cidade de Sorocaba era muito diferente do interior Mineiro de onde ela veio. A megalópole interiorana caminhava a passos largos para se tornar uma cópia perfeita com todas as imperfeições que trazia a Pauliceia desvairada onde moravam a maioria dos parentes. Dane esticou-se toda, espreguiçando-se, havia muito a ser feito antes de sair para o trabalho. A segunda coisa era arrumar a sua cama, embora morasse sozinha, podendo dar-se ao luxo de deixá-la desarrumada, a exemplo das amigas, mas, ela não tinha esse costume, aliás, Dane odiava desordens seja qual fosse ela. Dane gostava de tudo em seu devido lugar, gostava de arrumação, limpeza, ordem, às vezes, exagerava demais. Antes mesmo de ir para o banheiro, dobrava o cobertor, lençois, guardava-os e estendia outro lençol, um dos muitos que ganhou da mãe, tudo tinha que ser perfeito, milimetricamente ajustado. Somente depois é que ela ia para o banheiro. Sempre nessa ordem e no mesmo horário, não podia atrasar, ela odiava sair da rotina ou dos horários que ela mesma estabeleceu para sua vida.

       No banho não era diferente.

       Havia uma toalha diferente para cada dia, a toalha rosa era da segunda-feira, sabonetes, shampoo, condicionador, tudo em seu lugar, na ordem e posição que ela estabelecia, Dani não suportava que alguma coisa ficava fora do lugar, nem mesmo um frasco de shampoo. Os banhos em geral não eram demorados, somente quando ela queria se tocar, dar liberdade aos pensamentos e devaneios mais devassos, sem companheiro ou namorados, sentia suas necessidades e as deliberava na solidão de seus banhos, tudo dentro de seus rígidos controles mentais. Até mesmo esses momentos tinham que obedecer a tirania do relógio.

           Terminado o banho, nada além de vinte minutos nesses dias específicos, enxugava-se, trocava-se, recolhia as roupas e toalhas e as deixava na máquina de lavar, para quando voltasse do trabalho. O banheiro deveria ser enxugado, limpo, perfumado, tudo antes de sair. A última coisa a ser feita antes de ir para o ponto de ônibus era separar o que seria feito no jantar. Arroz, mistura, salada, enfim. O que deveria ser feito a noite era separado em medidas pequenas e colocadas na geladeira antes de sair para o trabalho. Refeição para uma única vez, não podendo sobrar nada, nem para o outro dia, salvo finais de semana em que ela não almoçava no trabalho. Era o costume dela, funcionando perfeitamente, com uma leve piora depois de mudar para Sorocaba e morar sozinha, embora para as colegas que a conheciam achar o seu "TOC", algo fora do normal, diziam às amigas que o controle do próprio tempo algo a beira do doentio.

    Tudo pronto, chaves no bolso, bolsa, carteira, crachá. Confere e confere se tudo está fechado, portas e janelas, confere novamente a bolsa, não havia esquecido nada.

    O ponto de ônibus onde ela deveria estar era na avenida Itavuvu, coisa de dez minutos de caminhada, bastava seguir reto até o final da rua e atravessar a direita. Dane abria o portão que dava acesso a rua, olhava para os dois lados, sempre desconfiada, com medo. Na rua, as mesmas pessoas de sempre, alguns alunos indo para escola, outras mulheres e homens em direção aos seus trabalhos, alguns de carro, outros, se dirigindo para o mesmo ponto de ônibus que ela.  Depois de olhar várias vezes para os dois lados, fechava o portão e caminhava cerca de dez ou vinte metros subindo a rua. O ponto de ônibus era na avenida Itavuvu, ao final da rua, bastava virar e atravessar pela Fru Fru e pronto. Ela parava sempre pelo mesmo lugar, em frente a casa da do Cleide, parava por alguns segundos, desconfiada de que esqueceu de algo, conferia bolsa, tudo no lugar. Não conseguia dar um passo a mais se não voltasse e conferisse se havia fechado o portão. Era sempre a mesma coisa, todos os dias da semana. Havia dias em que ela estava no ponto e voltava para conferir se tinha fechado o portão de casa. Se caso ela embarcasse sem retornar para conferir o portão, pronto, o seu dia era complicado, estressante e desajustado, dificilmente conseguia se concentrar no trabalho. As amigas insistiram para Dane marcar um médico e retomar o tratamento, ela era tão teimosa quanto controladora de si mesma.

       Finalmente, depois de voltar, conferir o portão, retornou tranquilamente para o ponto de ônibus, chegou com tempo de sobra. 

        Haviam poucas pessoas com ela, duas mulheres e um rapaz. Ela pegou o ônibus que vinha do Vitória régia sentido rodoviária. Era a linha mais rápida que se utilizava do BRT.

         Dane trabalhava em uma biblioteca no centro da cidade, na verdade uma sebo com ares de biblioteca, o maior da cidade, não ganhava muito, porém, era o tipo de trabalho que sempre desejou. Amante de livros, lutou para conseguir uma vaga naquele emprego. O serviço era tranquilo, catalogação dos títulos, organização dos livros novos que chegavam, indicação de obras para os clientes. Junto com ela havia outras duas meninas no período da manhã, e outras duas que ficariam  até o fechamento. O horário de Dane era das sete às três, com uma hora de almoço. 

           O relógio de pulso marcava seis e dezessete, o horário que o ônibus deveria passar era seis e quinze, estava atrasado, o que angustiava a moça, deixando-a inquieta. Seis e dezoito foi o horário em que o ônibus parou no ponto, a cara fechada de Dane era evidente, para piorar, o seu lugar preferido de sentar estava ocupado, próximo da porta de saída do meio do veículo. No lugar, estavam um casal de namorados, a vontade de Dane era de arrancá-los aos tapas. Irritadíssima, mesmo com outros lugares sobrando, preferiu ficar de pé, próximo a porta. Dane permaneceu quieta todo o trajeto. Não falou uma única palavra com ninguém, nem mesmo um simples bom dia. Era inadmissível ter o seu lugar tomado desse jeito, pensava. 

          O ônibus seguiu o seu caminho. Hora parando e entrando uma multidão, parando e descendo outra maior. Dane permaneceu no mesmo lugar, sem falar com ninguém, sem arredar o pé. Saiu somente no último ponto antes do ônibus entrar no terminal. Nem bem parou no ponto e ela desceu apressada rumo ao trabalho, que era relativamente perto.

    Dane segue o caminho de sempre, nunca mudou o seu trajeto desde que iniciou na sebo. O caminho mais curto seria passando pela rua sete sentido à matriz, depois subir a rua dos bancos. Porém, Dane preferia o calçadão das lojas, subindo a segunda direita, que também leva a matriz, no entanto, esse caminho não era o melhor. Dane demorava exatamente cinco minutos a mais, contudo, mudar de trajeto significava mudar sua rotina, o que no momento estava fora de cogitação.

      Ela odiava mudar seus horários e rotas, era um hábito difícil de se desfazer. No sebo não era diferente. Dane lutava contra o seu transtorno compulsivo, havia dias em que tudo transcorria dentro de uma certa normalidade, o que lhe era favorável. Bastava qualquer coisa fora do seu padrão habitual, ou que lhe fizesse sair da rotina para tudo se tornar um caos completo.

       Dane chegou dez minutos antes da loja abrir, exatamente dez minutos, o que era perfeito, maravilhoso, significava que o seu dia tinha tudo para começar bem. Sem atrasos. O único inconveniente era o fato de não ter conseguido sentar no seu lugar preferido no ônibus. Enquanto a loja não abria, Dane ficou observando as pessoas que passavam, todas apressadas, indiferentes ao que se passava ao derredor. Sorocaba, tão diferente da sua antiga e pacata cidadezinha, onde todos se conheciam. A loja abriu exatamente no horário, era outro motivo de comemoração, seu João, o dono do local, dificilmente abria a loja no horário. Dane era a primeira a chegar, ficava no caixa enquanto as meninas não chegavam. A rotina, massacrante para as amigas, tão confortável para ela. Josiane era a segunda a aparecer, coisa de meia hora depois, assumia a caixa e deixava Dane livre para fazer o que mais gostava, organizar os livros nos devidos lugares, ajudar um e outro cliente em alguma dúvida, assim ela passava o dia. Se nada acontecesse para mudar sua rotina, tudo seria perfeito.

       Não demorou e os primeiros clientes apareceram.

        Josiane era a mais requisitada no caso de dúvidas, por ficar na linha de frente da loja, os clientes a procuravam na maior parte das vezes. Dane estrategicamente pulava de corredor em corredor, evitando o contato com os clientes o máximo que podia. 

        Na rotina de arrumar, sobrava-lhe tempo de sobra para folhear os livros novos. Naquela manhã havia uma pilha enorme. A maioria de semi novos. Poesia, Romances, contos. Dane gostava dos calhamaços, naquela manhã havia vários entre as pilhas. "O homem sem qualidades", "As benevolentes", "Crime e castigo ", " Guerra e paz", na maioria livros em perfeito estado, praticamente novos, possibilitando um preço um pouco acima dos demais. O fluxo da loja era bom, os preços acessíveis, seu João tinha o coração mole, sempre dando descontos generosos para os clientes. Tal atitude o fazia conhecido e procurado, o que lhe parecia perder nos descontos ganhava em número de vendas e clientes.

        O dia transcorreu dentro da normalidade.

        A bela jovem de olhos azuis atendeu tão somente dois clientes. Um moço que procurava um livro do Machado de Assis, e outro que procurava um dos títulos da Mariana Salomão Carrara. Ambos conseguiram os livros e ótimos descontos.

        Seu João, conhecendo que sua funcionária tinha suas neuras com o horário, a liberava dez minutos antes, não importasse a situação da loja. Dez minutos antes era perfeito para ela, saindo sem pressa para o terminal. Naquela segunda-feira, até o presente momento, tudo estava perfeito demais, o que deixou a moça apreensiva, querendo chegar logo em casa e consagrar a perfeição de um ciclo inteiro sem atrasos, como costumava chamar.

   Dane saiu apressada, nem bem guardou o livro que levaria aquele mês e atravessou a rua antes do sinal fechar. Uma das exigências de seu João é que todos os funcionários lessem pelo menos um livro por mês, caso conseguissem, recebiam bonificação. Dane era uma leitora compulsiva, faltando apenas quatro meses para finalizar o ano, ela já havia lido quarenta e nove títulos. Enquanto as amigas lutavam para manter a meta exigida. 

     O livro que ela estava levando era "Lolita", de Vladimir Nabokov. O livro que havia lido anteriormente era, "O médico de homens e almas", da Inglesa Taylor Caldwell. Um calhamaço de quase setecentas páginas.

      O centro da cidade estava terrivelmente movimentado. Carros, engarrafamento, buzinas, pessoas apressadas, uma algazarra incomum, ela ainda não estava plenamente habituada com o frenesi da cidade grande. São Pedro dos Ferros, lugar onde morava em Minas, era um ovo em comparação com Sorocaba. Outro detalhe irritante para ela eram os candidatos a vereadores espalhados pela cidade. Como o período eleitoral se aproximava, candidatos eram o que não faltava, aparecendo aos montes, de todos os lados, sempre com a mesma conversa mole, o papo de sempre que vai fazer isso e aquilo se for eleito. Dane sabia bem que as mesmas caras e sorrisos que se faziam presentes desaparecem assim que terminam as eleições, em São Pedro dos Ferros não era diferente de Sorocaba.

          Não demorou e ela chegou ao terminal.

          Como de sempre, lotado. O que resultaria em atrasos, o de imediato fez o seu semblante transfigurar-se, ignorando a moça que lhe chamava para uma conversa rápida... Os famosos "santinhos", nas mãos, por certo, mais uma candidata. Dane deu de ombros, entrou apressada pela catraca do terminal. Visualizou o ônibus parado, Vitória Régia, linha 140, havia estacionado no ponto naquele momento. Dane atravessou pelo terminal aos tropeços, queria garantir o seu lugar favorito, próximo a saída do meio do veículo. O esforço não lhe valeu muito, novamente, ônibus lotado, ficou de pé, cara emburrada. No pensamento a certeza de que o dia só poderia dar naquilo, que para ela era um desastre. Apesar que, nas segundas, raramente ela conseguia o seu lugar preferido ou os horários certos. Alguma coisa sempre dava errado, dessa vez não foi horário, não por enquanto, por sorte o trânsito estava fluindo normalmente. 

          No ônibus, os mesmos rostos de sempre.

          Faces cansadas, olhos grudados na tela do celular, ninguém queria conversar com ninguém, para ela, perfeito, assim poderia chegar em casa sem ter que dialogar com ninguém. 

            Entre solavancos e balanços do veículo, os pensamentos de Dane se consumiam no que ela ainda tinha a fazer. Indecisa se colocaria as roupas para bater primeiro ou se faria a janta ou tomaria banho. Sem ninguém para ajudar, tudo era por sua conta. Nesses momentos ela se arrependia momentaneamente por não ter ninguém, apenas momentaneamente, só em imaginar outra pessoa, mais roupas para lavar, comida por fazer, todo trabalho dobrado, por sua única conta, sem dizer na casa para arrumar, tudo sozinha, enquanto o possível companheiro, certamente, com os pés esticados no sofá... Só em pensar em tais coisas Dane sentia o rosto avermelhar-se novamente e a pressão arterial subir. Tão logo, ao soar de uma buzina do lado de fora, a bela moça voltou a si, saindo do seu devaneio, faltando apenas um ponto para descer. Por pouco não passaria do ponto.

                 A tirania do relógio ditando o curso frenético de sua vida, faltava dez minutos para as seis. Ela teria que correr se quisesse chegar em casa cinco para a seis. Tal atraso logo na segunda, era inadmissível, era a tirania do relógio.


MOSAICO DE SENTIMENTOS NUS.

      As janelas do castelo estavam abertas, escancaradas ao público de modo que era possível ver dentro do próprio reino.      Nos recôndit...