A FOTOGRAFIA.
Desejei os teus lábios logo ao acordar, eu os desejei intensamente, de uma maneira única como nunca houvera desejado antes.
É manhã de domingo, fria manhã, final de inverno, é um domingo qualquer sem tanta importância. Você visitou-me nessa doce manhã logo ao despertar, lembrança de um tempo em que eu era poeta e a juventude vestia de beleza nossos corpos.
Lá estava você, na recordação desse pensamento fugaz, vestida de majestade e beleza, com um universo inteiro de estrelas cintilantes em seu olhar. Os teus lábios em suaves movimentos na pronúncia delicada de doces palavras, o teu corpo tão perfeito, com curvas tão delirantes, eu apenas observava, quieto em meu canto, abismado, sem reação, éramos um jovem casal... Você… A passos lentos aproximando-se, sentando-se ao meu lado, o inebriante perfume de flores do campo, perfume que até as tulipas encantam, você enlouquecendo-me. Quisera eu voltar naquele tempo, poder beijar-te a face em ardentes beijos e ser o alimento dos teus lábios, sentir novamente a doçura do amor, o teu encanto cheio de mistérios e os mistérios no encanto silencioso do olhar.
Eu era apenas um espectador naquela ocasião, naquela melancólica manhã de um dia qualquer. O insano desejo em minha mente, a incontrolável vontade de ter teus beijos ardentes, este teu sorriso mágico, tão perfeito, tão natural. O tempo passou, restou as lembranças atormentando nossos corpos envelhecidos.
Um discreto sorriso no formato desejável da loucura, já o meu desconcertado sorriso, revelando toda minha admiração, revelando o quanto você me dominava. O teu poder sobre mim deveras era mesmo absoluto. Quisera eu ser como o beija-flor para arrancar da seiva virgem dos teus lábios a doçura de cada primavera. Contudo, sou apenas um poeta observando em silêncio essas dolorosas lembranças. O magnífico ser tão distante de mim, a nossa fotografia, o teu sorriso, a rósea face, por dentro eu me enlouqueço, por dentro eu te desejo. Como eu gostaria de ter aquele fugitivo momento. Minha alma guarda tão grande amor, maior que o próprio peito e o tempo. Recordar é viver uma vez mais, essa nossa fotografia me fez jovem por dentro novamente, uma única e talvez última vez.
Perdoe-me a indiscrição, perdoe-me a indelicadeza das palavras, eu não pude resistir, meus olhos enfeitiçados enlouquecem na contemplação de algo tão divino de curvas tão delicadas. A cor exuberante da pele, tudo enfim, era magnífico, lembra-te amor? Ainda te recordas?
Revela-me ainda mais, meus olhos não resistem. Então, enlouquecido, na perfeição de tua beleza, tal qual a flor do amor plantada no jardim primavera, a enlouquecer os poetas ingênuos. Talvez sim… Eu... Poeta ingênuo das madrugadas, talvez sim… Eu… Seja mesmo insano, diga qual criatura não seria?
As horas passaram-se rapidamente, eu continuo a observá-la pela nossa fotografia em meus dedos trêmulos, o tempo não perdoa ninguém, você — anjo ledo, tão perto e distante de mim, sou este poeta louco, perdidamente apaixonado, sou como o beija-flor que sonhou com a rosa da primavera, ou, talvez eu seja a própria rosa da primavera que sonha ser com o beija-flor.
Logo mais tudo será silêncio, apenas essa fotografia e as palavras do poeta continuará um pouco mais, até que o tempo, este déspota sem coração os corroa lentamente.
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