domingo, 28 de agosto de 2022

ENTÃO FICO PENSANDO...

 



CRÔNICA DE DOMINGO.


   Então fico pensando...

   Afinal, o que está acontecendo com a nossa sociedade? Às pessoas não parecem as mesmas, tudo muda tão rapidamente que é quase impossível perceber o que de fato aconteceu. O mundo parece estar dividido em antes da pandemia e depois dela. Vejam que às atitudes mudaram, não como imaginávamos, porém, existe certa aspereza no trato de uns para com os outros.

    Quem esperou por pessoas mais humanas, depois de tantas perdas e sofrimento, decepcionou-se, ao que parece uma grande parcela do público adquiriu um egoísmo  próprio.

    Seria tudo intencional? 

    Às vezes fico pensando nessas coisas. Não sei exatamente o que pode verdadeira ter acontecido nos bastidores, imagino mil coisas, de erros humanos até mesmo vingança da natureza contra nós.

   Outro ponto delicado...

   Dois lados opostos, a representação do bem e do mal, do certo e do errado, enfim, todo cidadão é levado a uma escolha que deve ser óbvia para ele como sua única verdade absoluta. Observo que às análises de ambos os lados são ácidas, ferozes, por vezes, até agressivas. Um dos lados tende a representação oposta ao outro, quando na verdade, o outro é que reflete no oponente suas atrocidades. A política tornou-se  nisso, meus amigos, depois do inimigo microscópico, invisível, porém, letal, todas as coisas passaram a ter um significado novo. Contudo, vale salientar que ainda existe esperança, embora pareça improvável, é teoricamente possível eleger homens e mulheres de integridade inviolável.

   Outro detalhe crítico...

   Existem àqueles que se acham além do bem e do mal, justamente por terem o poder das leis e serem autoridades sobre os outros, com isso pensam que são intocáveis, acreditando na infalibilidade de seus juízos sobre os demais. Definitivamente não há equilíbrio em nenhuma das partes, nem consensos, tão pouco pontos em concordância. É praticamente impossível realizar um diálogo com esses grupos. Me pergunto quando tudo isso vai acabar, em qual instante da história, se é que haverá um momento de trégua e apertos de mãos, de trabalho em conjunto. Manter-se em silêncio em algumas das vezes é sinônimo de sabedoria, é necessário ouvir mais e falar menos, e não expôr ideias de qualquer maneira. Ainda sim, a presente crônica é a exposição de um profundo sentimento de dor, uma ideia ainda perdida no baú da memória.

   Outra coisa a refletir...

   No princípio havia o homem, a liberdade que o rodeava de delícias, porém, tendo de tudo, sentia-se só, então foi-lhe dado o osso de seus ossos e a carne da sua carne, para com essa dádiva maravilhosa se sentisse completo. No jardim de delícias, o homem duplicado no seu oposto, estava como todos os demais pares, na mesma igualdade, contudo, ele e ela tinham o domínio completo da criação e do jardim. O livre arbítrio, o direito de escolha foi um presente precioso, a única coisa que ele deveria fazer é escolher o certo diante de toda perfeição. Mas, assim como o primeiro homem que tendo o paraíso diante dos olhos escolheu a única coisa que lhe foi instruído a não obter, e foi justamente essa escola, o objeto da sua ruína. Não foi diferente durante o curso da história e nem será agora conosco. Ainda temos o livre arbítrio, não habitamos mais o paraíso, mesmo assim, as nossas escolhas poderá nos levar direto ao objeto completo da ruína.



domingo, 21 de agosto de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 

         


O DESAFIO É SEMPRE MAIOR.

   

   Eu não consigo ligar com certas situações que ocorrem no meu trabalho. Como, por exemplo, dizer que amo o que eu faço, eu não amo e nem vou amar o que eu faço, no máximo suportado até certo limite.

Lidar com o público é um desafio sempre maior, quem já o fez sabe bem como desgasta o psicológico ter que ficar o dia todo em um balcão de atendimento, sorrindo e agradando pessoas, algumas delas, desagradáveis. Essa é a minha realidade de todos os dias, e confesso estar no meu limite. Às vezes eu tenho vontade de chutar o balde, de jogar tudo para cima. Mas aí, a razão, contrária a emoção, aparece para salvar o dia e impedir que o coração cometa besteiras desnecessárias, é sempre assim.

   Existem momentos bons, confesso, não é sempre, porém, há dias calmos em que tudo transcorre normalmente. Pessoas educadas na fila de espera, ritmo de trabalho agradável. Não posso dizer que esse ou aquele dia é o melhor para se trabalhar, não há um padrão definido para traçar parâmetros ou fazer planos. Tudo vai depender do momento e circunstâncias. Algumas vezes a segunda-feira é tranquila, até demais, nos permitindo realizar tarefas muito além do esperado, o serviço rende maravilhosamente. Em outros momentos acontece o contrário, às coisas tendem a darem errado, o simples torna-se complexo, elencado a outros fatores igualmente desgastantes. 

   Esses últimos dias têm sido trabalhosos.

   Lidar com opiniões tão extremas sem poder opinar, afinal, é ano eleitoral, disputa presidencial acirrada. De um lado a direita conservadora, do outro a extrema esquerda com suas doutrinas contrárias às da situação.

   Dois tipos de ideias expostas no balcão, como o cliente tem sempre razão, o melhor é concordar com tudo mesmo quando não estamos de acordo com nada. Em todos os anos eleitorais que eu vivenciei, esse, certamente, esse, está sendo o mais intenso e disputado, tendo forças muito equivalentes de ambos os lados. Com uma divisão nunca antes vista entre os políticos, religiosos, profissionais e todo o resto. Essa queda de braço entre governo e estados acaba sobrando para os mais pobres, é sempre assim, a classe menos favorável paga a conta final. Dentro desse balaio de gato, com opiniões tão ácidas, eu prefiro ficar nulo, não dar a nenhum dos lados vez para discussões desnecessárias.

   A semana que passou foi uma daquelas horríveis, sem expectativas para nada. Eu não sei como explicar, de uns meses atrás para cá a coisa desandou de um jeito anormal, terrível e sem sentido. Nada do que fazemos ou tentamos fazer dá certo, incrível como os planos que elaboramos acabam em nada e lugar nenhum. O chefe faz um tremendo esforço para resolver a situação, porém, os seus esforços são inúteis. Tenho saudades de certos rostos, que outrora estava na frente de batalha, mas, por motivos de força maior teve que se ausentar do trabalho. Talvez eu esteja sendo saudosista demais, no entanto, devo dizer que senti falta do meu antigo emprego. Olha que não era dos melhores, mas, deixou certo resquícios de saudade.

     

domingo, 14 de agosto de 2022

Crônica de domingo.

    

   


PENSAMENTOS E IMAGINAÇÕES.


   Não posso continuar com esses pensamentos em minha cabeça, todos esses devaneios são prejudiciais, devo, e reconheço, reavaliar cada fagulha da minha insana mente trazendo-a para a luz. A princípio esse é o plano, no entanto, estou longe de conseguir obter sucesso. Por vezes tentei declinar de meus sórdidos pensamentos, desviando as imaginações em direções mais agradáveis ao caráter. De início funcionou bem, tendo relativo sucesso, no entanto, bastou uma fagulha contrária e tudo se pôs a perder, todo o meu trabalho se esvaiu como água entre os meus dedos. E lá fiquei novamente, perdido entre tantos pensamentos e imaginações imperfeitas, loucuras da minha, se é que posso denominar assim. Essas desventuras do inconsciente tornam-se visíveis ao quociente em frações de segundos.

   Às minhas conclusões primárias é de que devo estar ficando louco, nada menos do que isso, não me ocorre outra conclusão. Sou constantemente atacado por toda sorte de infortúnios mentais.

    Me recuso a acreditar na minha pessoa, sempre buscando esclarecer o que é óbvio demais. Imagino além do que se pode aos normais, tais imagens na tela da memória, por vezes, tão devastadoras.

   Durante semanas foi isso que aconteceu aqui dentro da cabeça deste que vos escreve. Criei um ponto de contato, uma faísca apenas de certas experiências que acontecem somente na minha cachola. Eu tentei lutar contra isso, extremo esforço para desvencilhar o cérebro de construir as imperfeições deste mundo irreal imaginário, por fim, fracassei. E lá estava esse filho da solidão desfrutando do fruto proibido oferecido por uma consciência degenerada.

   Essa noite tive toda sorte, ou falta dela, não sei ao certo, de pensamentos desalinhados ao caráter, não que sejam ruins, contudo, nada éticos com certeza, se é que me faço entender. Não sei mais o que fazer a respeito. Por esses dias eu tenho trabalhado em um projeto literário novo, um livro de ficção científica. Eu gosto do assunto, me interesso demais por tudo que desrespeito a ciência. Não é a primeira vez que escrevo sobre o assunto. Tempos atrás escrevi um conto por título, jornada no tempo, em que o personagem principal, vivendo no futuro, consegue viajar para o passado. Essa história foi postada no recanto das letras, tendo muitas visualizações, elogios e pedidos para que eu a continuasse. Somente agora que tomei o impulso necessário para voltar a escrever.

   Enquanto eu estiver na árdua tarefa de criar uma história fictícia, de certo modo estarei privando os meus pensamentos de um desalinho total, de vãs e desagradáveis imaginações.Eu sei que, haverá momentos em que a própria mente, completamente em desacordo com a consciência, haverá de me trair, então, quando menos esperar estarei viajando na tela imagética de idéias desfiguradas. É um terrível privilégio ter a capacidade de criar todo um cenário caótico que não existe na realidade com riqueza de detalhes. O poder do pensamento nessas questões delicadas é sem precedentes, de modo que não tenho como detê-lo. Não era bem o que eu pretendia escrever nessa crônica, essas idéias estão mais para um refluxo de pensamentos contrários do que qualquer outra coisa, mas, é o que saiu, sei que, daqui há pouco, estarei com estas mesmas quimeras me assombrando novamente.




domingo, 7 de agosto de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


      ONDE ESTARÁ SEU ALCEBÍADES?


   Do lado de fora do balcão figuravam as mesmas pessoas de todas as manhãs, a maioria de idosos que aproveitavam a caminhada para passar no açougue e comprar mistura do almoço. 

É a rotina massacrante de todos os dias. 

    Alcebíades, funcionário do mercado há cinco anos, estava no seu limite, desejava largar o emprego, arranjar coisa melhor, porém, a idade não lhe favorecia, e, em tempos de pandemia muitas empresas estavam paradas, outras, ameaçavam fechar as portas. Logo no primeiro atendimento, reclamação, não fazia cinco minutos que o cliente estava esperando e disparou a falar e bater no balcão, disse que estava ali quase meia hora e ninguém o atendia e que era um absurdo ficar tanto tempo na fila. Alcebíades respirou fundo, contou mentalmente até às dez, colocou o melhor sorriso no rosto e foi atender o senhor, que continuou com a reclamar. Estava sem máscaras, não respeitou a distância mínima nem o isolamento, e mesmo sendo do grupo de risco, foi ao açougue comprar meio quilo de carne moída. 

   É a massacrante rotina de todos os dias.

   Brigar era besteira, a freguesia mesmo errada, sempre tinha razão. Por muitas vezes Alcebíades tentou argumentar, foi em vão, saiu por mal. Desistiu de explicar aos clientes mais idosos a necessidade de isolamento, seu chefe lhe deu uma bronca por isso. Dia após dia, hora após hora, cliente após cliente. A mesma coisa do mesmo jeito o dia inteiro e o tempo todo. Uma multidão de pessoas no mercado. Corredores lotados, crianças, idosos, pais, mães, famílias inteiras. O coração estava em tempo de explodir dentro do peito tamanha era sua revolta, a sua alma parecia querer voar para bem longe do corpo. Já eram quase três horas da tarde e Alcebíades ainda não havia almoçado, movimento frenético. Um dos colegas de trabalho, percebendo que o pessoal que havia entrado às oito da manhã já tinham retornado do almoço, e Alcebíades ainda figurava no balcão, questionou-o. 

  — Ô seu Alcebíades - disse o colega - Mas já não era para o senhor ter ido almoçar meu camarada? 

  — Sim. 

  — Que horas o senhor entrou? 

  — Nove. 

   — Sério!

   — Meu horário é às dez, mas pediram para entrar antes por causa do movimento… 

    — Caramba! Nove horas seu Alcebíades! 

     — Isso mesmo. 

     — E o senhor deve de estar morrendo de fome né.  

     — E como. 

      Repentinamente, o movimento que estava frenético ficou fora de controle. Clientes apressados, exigentes, carrinhos lotados. Atendeu mais dois, três, quatro, perdeu a conta de tantos, nada de almoço. O colega se incomodou e reclamou ao chefe, que só então foi dar conta que havia esquecido ao funcionário. 

     — Seu Alcebíades - disse o chefe dando-lhe um tapinha nas costas - O senhor não foi almoçar ainda? 

     — Não. 

     — Caramba… Me esqueci. Você pediu para algum outro líder para descer e ir almoçar? 

      — Não. 

      — Tá certo… Faz um favor então. 

      — Sim. 

      — Vai lá almoçar. 

      — Não precisa falar duas vezes chefe.

       — Só mais uma coisa seu Alcebíades, qual é sua idade? O senhor está no grupo de riscos? 

       — Faltam cinco meses para eu entrar no grupo de risco. 

       — Cinco meses seu Alcebíades ! Fazer o que, vai lá almoçar.    

       Alcebíades terminou de atender o último cliente, olhou no relógio, quatro da tarde, a barriga roncava. Saiu da frente do balcão, não conversou com ninguém, foi até o lugar onde se lavavam as botas e as luvas de aço. Higienizou-as, secou-as, saiu do setor a passos lentos, higienizou as mãos com álcool mais uma vez, máscara no rosto. O mercado estava lotado, embrenhou-se na multidão, pessoas sem máscaras, sem respeitar a distância mínima.

     Seu Alcebíades desapareceu na multidão.

     É a massacrante rotina de todos os dias.

     Duas horas depois e nada dele voltar, os colegas perguntavam. Só então o chefe percebeu que ele não havia voltado. Procurou Alcebíades em tudo enquanto foi de canto. Vestiário, banheiro, refeitório, outros setores, entornos da loja, dentro da loja, nada de encontrá-lo… Parou, pensou… Ligou no RH, perguntou para a secretária… Não fazia meia hora que ela viu Alcebíades passando por ali. Alguém disse que ele ia pedir demissão, mas o RH não estava atendendo ninguém por causa da pandemia. A secretária disse que não o viu mais, simplesmente desapareceu. Alcebíades nunca mais foi visto por nenhum dos colegas do mercado, nem os mais conhecidos, em nenhum outro lugar da cidade ou do bairro onde morava, do estado ou do país, do mundo, do planeta, da galáxia, aliás, simplesmente, desapareceu!

     Onde estará Alcebíades? 




CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...