sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

CAPÍTULO 24.




               Capítulo 24.


... O seu Jardim de delícias já não existia, não havia mais sentido em nada do que fazia, sem ela, tudo era incompleto. Buscou em outros jardins o amor proibido, encontrou apenas a perdição e o erro. Era necessário um retorno, primeiramente para dentro, teria que mudar o seu coração desde as raízes. Doloroso processo aos homens amantes de si mesmos, porém, desconheço outro caminho que não seja a negação do próprio eu para assim poder encontrar a sua verdadeira vocação ...



Domingo de manhã, belos pássaros pousaram na janela do quarto de Oséias, lindas aves de várias cores e de cantos harmoniosos, suaves. Diferentes aves, 'ela ama pássaros'. Certa ave de penas amareladas, era a preferida de Gomer, o canto dessa ave é de uma beleza inexplicável, estava entre as demais, Gomer se encantava quando a tal ave aparecia, um canário do reino. Eram raros os momentos de ternura, pureza e inocência de Gomer.


As lembranças da esposa chamando pelo pássaro, os cabelos soltos ao vento, o movimento dos lábios imitando o seu cantar, era quase insuportável a dor de recordar, machucava no mais profundo da alma. Dentro do peito de Oséias acontecia uma grande batalha, de um lado era o coração amoroso, apaixonado, desejando ajudar, enquanto do outro lado era puro rancor e angústia pelos atos de Gomer. Ele não sabia o que fazer, e não saber agir o estava destruindo por completo. Aos poucos, o coração materialista de Oséias ia sendo quebrado e transformado.


O domingo se estendia lentamente, entediado, Oséias deitou-se no sofá, não demorou para adormecer.


Entrou na sala, não havia ninguém, a TV continuava ligada nos noticiários, o sofá maior levemente desalinhado, o que não era comum naquela casa. A janela estava aberta, às cortinas tremulando ao soprar suave da brisa. " Onde estão todos", pensou. Dirigiu-se para a cozinha, muito espaçosa, geminada com a sala, em estilo americano. Na pia estavam algumas louças sujas, no escorredor de pratos outros que já haviam secado. Maçãs e bananas na fruteira, a geladeira estava cheia, a garrafa de café também, quente por sinal. Saiu da cozinha, antes de chegar na sala, do lado esquerdo, uma enorme escada que dava acesso à parte de cima da residência. Subiu lentamente as escadas, receoso de encontrar alguém, olhava sempre assustado, parecia que ele era observado. À sua frente um enorme corredor, com mais três portas à frente, certamente de quartos, pensou. Ficou parado diante da primeira porta, mãos trêmulas na maçaneta, respirou fundo, fechou os olhos, contou até três. Abriu a com muita lentidão, para sua surpresa não havia ninguém no quarto, as camas estavam desarrumadas, um copo de água pela metade estava na cabeceira da cama. Saiu, foi para outra porta de outro quarto, repetiu o processo que fez na anteriormente, a mesma coisa, não havia ninguém em canto algum daquela casa. Percorreu-a toda, cada cômodo, não havia ninguém, a casa era enorme, tinha de tudo o que se imaginava, e ninguém para desfrutar de todas aquelas coisas, apenas ele estava ali. Outra coisa chamou-lhe a atenção, em nenhum momento escutou barulhos na rua, nem de carros, nem de pessoas, nem de motos, até os animais haviam desaparecido. Saiu do interior da casa e foi para garagem, ficou uns minutos, retornou para a enorme casa. Na cozinha, fez um lanche com o que havia no armário, comeu chocolates, bebeu suco. Voltou para a sala, a TV estava ligada, porém, todos os canais estavam fora do ar. Ligou então o vídeo game, jogou até cansar. Subiu para parte de cima da casa, foi no último e maior quarto, deitou-se na enorme cama, estava cansado, ligou a massagem, por fim adormeceu…


Ei… Ô… Acorda - uma misteriosa voz soa em seus ouvidos.


Abriu os olhos assustado com aquela voz, achou que era um dos funcionários, era manhã, parecia que havia tomado remédios para dormir, levou um tremendo susto, olhou para todos os lados, não havia ninguém, os empregados estavam de folga. Ele não estava mais na casa enorme, era a sua mansão no Morumbi. Domingo ainda. Tudo não passou de um sonho, um estranho sonho.


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Na tarde do dia seguinte, Oséias resolveu caminhar pelas imediações, parou em uma praça, cabisbaixo, desatento a tudo é a todos, não parecia o Oséias alegre de sempre. Já não participava das reuniões de seu partido político, nem os da igreja. Não comparecia aos cultos de domingo, faltava as votações no plenário, sua vida estava ladeira abaixo. Nessa mesma praça, apareceu uma visita inusitada. O homem que durante anos foi o seu pastor, estava ali, bem na sua frente, parado diante de Oséias, que, fixou o olhar naquele senhor sem o reconhecer de pronto, fazia mais de dez anos que não o via.


Oséias ficou observando aquele pastor, passado alguns segundos, depois de um sorriso do pastor, Oséias logo o reconheceu. O pastor havia se mudado, estava dirigindo uma igreja no interior Paulista, mas a pedido do seu pastor presidente, mudou-se para a capital. A igreja que passaria a dirigir ficava próximo a casa de Oséias. Os dois ali ficaram horas a fio conversando, Oséias contando-lhe todos os pormenores e maiores de sua vida desastrosa.





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