domingo, 11 de agosto de 2024

GUERREIRO DA LUZ.




    Os dias são de intenso sofrimento...

    Não sei exatamente como começar a escrever a crônica deste domingo. Não encontro as palavras certas para jogar no papel, nem mesmo sei como me expressar, me fazer compreensível aos meus leitores, se é, que ainda os tenho. Inglória profissão essa de escritor. Convivendo com os fantasmas de seus personagens, nem sempre os tornamos grandes, às vezes, para a maioria de nós, são apenas fantasmas da nossa fantasia, acompanhando-nos a vida inteira. Na verdade, tornei-me neste ser solitário e assustado por tantas quimeras, as do passado como do presente.

      No entanto, certo amigo escritor não era assim...

      Me permitam uma breve explicação, se é que vou conseguir fazê-lo, como eu disse no início, dias de intenso sofrimento. Eu tenho um amigo escritor, embora ele não soubesse que é meu amigo, nunca soube e jamais saberá, já explico toda a tragédia que se entrelaça no curso dessa crônica... Muita calma meus amigos, aos desavisados, essa história não termina com um final feliz. Afinal, eu não estou feliz, talvez muitíssimo abalado pelo que aconteceu ao meu amigo das letras, e para completar, fui demitido, tudo acontecendo recentemente. Esse meu amigo escritor era conhecido, mais de trinta livros publicados, dos quais eu tive o prazer de ler a maioria. É com imensa tristeza que venho lhes informar que este amigo faleceu recentemente, na aurora dos seus quinquagésimo sétimo aniversário. Sim... Ele era novo, cheio de vida, com inúmeros projetos, porém, a fatalidade veio ao seu encontro no projétil de uma bala disparada por ele mesmo, em um terrível atentado contra sua própria vida. Pelo menos é o que disse o boletim policial.

   A sua ausência é dolorosa, a partida inexplicável...

   Quanto a seu nome: Daniel Mastral, era um nome artístico. Perdoe-me por não revelar aqui o seu verdadeiro nome de batismo, ele nunca o fez, vou respeitar sua vontade de não revelá-lo. A sua história pessoal é carregada de dor, luta, sofrimento, vitória, perda, enfim, ele foi um guerreiro até o fim. O seu testemunho de vida é belíssimo, resgatado dos porões obscuros do ocultismo e satanismo, o filho do fogo como era conhecido, para se tornar um filho da luz, no evangelho de Cristo. Teve um primeiro casamento com uma médica, um filho magnífico. Daniel tinha muitos conhecimentos do mundo oculto, segredos que eram estarrecedores, coisas que ninguém nunca imaginou, ele trouxe ao conhecimento do seu público. Episódios que vivenciou quando estava na alta magia. Ele também publicou esses segredos nas entrelinhas de seus romances. As coisas que Daniel falava em suas entrevistas davam arrepios, bem como nos livros, eram pesadas, por diversas vezes revelando estar sob ameaças de morte por revelar segredos da alta cúpula ocultista. 

        A vida lhe deu duros golpes...

       O filho único, adolescente, teve que enfrentar o gigante da depressão, lutou muito junto a família, porém, houve o trágico dia em que não suportando a dor, o jovem de quinze anos tirou a própria vida. Perder o filho foi como se uma espada fosse cravada no coração dos pais. Tempos depois, veio o falecimento da esposa. Essas marcas, ou melhor, feridas que não cicatrizam, quase o derrubou, ele também lutava contra esse monstro da depressão. Daniel casou-se novamente, constituiu nova família, teve outro filho. Enfim, tudo parecia bem... Acontece que, para quem sofre de depressão, tendo perdas tão dolorosas, se não tiver muitíssimo apoio de todos os lados, não se recupera facilmente, às vezes o sorriso não é a representação de alegria, mas, de puro desespero. Daniel, segundo o que consta das autoridades policiais, suicidou-se, entretanto, quem o conhecia de perto não consegue aceitar que ele se matou... Eu também não, quanto a verdade dos fatos, quem saberá? O que se vê e ouve na mídia nem sempre corresponde com a verdade. Teorias se erguendo de todos os lados, quanto a verdade... A verdade ele a levou consigo para o túmulo. 

       Mastral foi um escritor sem igual, com inúmeros títulos que o projetou nacionalmente, livros cujas temáticas giram em torno do que ele vivenciou. Entre os títulos de seus livros estão: "Filho do fogo", ele também escreveu, "A história de Mithry", "Guerreiros da Luz", "As sementes do mal", "Catedral das sombras", "Voz do que clama no deserto". Enfim a lista é longa e não vou me recordar de todos os títulos. A sua partida vai deixar saudades entre aqueles que o amavam, admiradores espalhados pelo Brasil, este que vos escreve é um deles.


domingo, 4 de agosto de 2024

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


      

      RABISCOS NO PAPEL.


   O silêncio profundo na manhã de domingo...

   O silêncio profundo... Nada parece se importar, enquanto todos se tornam ausentes, distantes, apenas o frio soprando por debaixo das portas, nas frestas das janelas, em cada canto.  Eu também sou inconstante, e de repente, me vejo sem lugar... Talvez seja o abismo existencial me corroendo por dentro, o tempo todo, todo o tempo.

    O Silêncio profundo continua em seu mergulho no oceano de palavras que nunca foram ditas. O beijo quente que nunca aconteceu, o perfume suave, o toque mágico, quente, ardente, que me enlouquece todas as vezes.  A vida tomou o palco das nossas mentes fantasiosas, mentes insanas, e a fantasia por sua vez, fez da vida um teatro de sombras.

        É domingo.

        Silêncio.

        Nada podemos dizer, entretanto, no palco da imaginação tudo podemos fazer. O café está servido. Derramo um pouco em minha xícara, o vapor da fumaça subindo, tremulando, dançando, rodopiando diante de meus moribundos olhos. Bolachas, pães, pizzas do dia anterior, degustar o café quente, saboroso. Talvez seja esse o destino, mas, afinal, existe mesmo o destino? Seria ele o responsável por criar tudo a seu bel prazer? Às vezes penso que, nós somos os sabotadores do tempo e da vida, tanto das lutas quanto das derrotas acumuladas. Não quero ficar pensando em meus desgraçamentos, na minha vivência maluca e sem sentido. Poeta da solidão que eu me tornei nestes anos. Tendo apenas o sorriso de uma admiradora, os olhinhos ligeiramente puxados debaixo de um gracioso óculos, filha de Júpiter, jovial, sempre atenta com o que escrevo.

      O silêncio profundo na manhã de domingo, os pássaros cantam do lado de fora, a natureza festeja, os homens choram, somos o que desejamos ser, mas, aquilo que desejamos ser não corresponde com o quê de fato deveríamos nos tornar.

    Somos sucessivos aos erros e tentativas, até que haja um ponto certo na imensidão das nossas falhas. Livra-nos ó Deus, livra-nos de nossos eus, de "meus eus", é domingo, finalmente, silêncio momentâneo.

Me sirvo de café pela segunda vez enquanto escrevo essa crônica, à fumaça bailarina sobe rodopiano, o cheiro gostoso do café invade as narinas. Sentado em uma cadeira, estico as pernas para alcançar a outra, 'é minha posição preferida', sigo na incessante busca de qualquer coisa que alegre o coração, e que também diminua a dor da alma.

       É dia de folga,

       Portanto, angústia seguida de descanso e consequentemente, angústia após o descanso, uma vez que, 'minha ansiedade', o meu sofrer 'antecipadamente', me faz triste, menor a cada dia. Não desejo me alongar, o muito falar causa enfado, ainda está silêncio… Ah, que pequeno paraíso terrestre, pena que, daqui a pouco, será maculado com o som de uma cidade que acorda enfurecida.

           Com pressa… 

           Vamos, andem…

           Estou atrasado…

           Buzinas para todos os lados...

           Sai da frente…

           É a cidade despertando, os vizinhos brigando, assim continua o movimento de cada dia. Quisera eu as glórias passadas, os meus dias de infância na fazenda Lindóia, em cima do pé de jambo, o tempo áureo aprisionado na memória… O tempo não volta mais, nunca mais caríssimos, nunca mais....

        Contudo, o meu tempo nunca mais será logo ali na próxima esquina, ou em qualquer outra ,aliás, quem sabe, se dessa vez o destino não me valer, meu silêncio se tornará profundo e eterno, e as minhas palavras serão apenas rabiscos no papel.



CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...