sábado, 3 de dezembro de 2022

Crônica de domingo.

 



INSPIRAÇÕES DO CLAUSTRO.


   PARTE  FINAL.


   A primeira impressão que eu tive do seminário foi arrebatadora, todo o conjunto arquitetônico era de uma beleza sem igual, em cada detalhe, cada tijolo,  tudo era magnífico. No seminário de Arujá fiquei em um alojamento pequeno, por nome, cela. Um pequeno quarto, uma cama, banheiro, e um guarda roupas igualmente pequeno, tudo compacto e simples. A casa maior, ou, seminário maior, era um prédio extenso, de quatro andares. Onde também havia salas de aulas e todos os alojamentos.

 No dia seguinte, fomos despertados às seis da manhã, era regra, igualmente no exército, tínhamos que fazer a barba todos os dias, deixar a cama arrumada e lençóis dobrados. Feito isso, íamos para a capela, fazíamos as orações iniciais, logo em seguida era a missa, toda em latim, para somente depois desfrutarmos do café da manhã. Tudo era feito com ordem e decência. Era como se fossemos pequenos soldados.

   Inicialmente, a formação obedecia o seguinte rito. Começava com o candidatado, com duração de três meses. Depois o noviciado; foram dois anos de formação em humanidades, em Arujá ou Curitiba. Concluído esse período, o seminarista teria que viajar para fora do país, provavelmente Espanha, em Salamanca, onde se formaria em Filosofia. Passada essa fase, o seminarista era direcionado para Roma, na Itália, ali teria a fase final, cinco anos de estudos e formação teológica. Basicamente, esse é o cronograma para formação sacerdotal do legionário. 

   Eu não passei da primeira fase, no qual abrangia os três meses iniciais. Embora eu os tenha concluído, não tive autorização para continuar. Os padres me disseram que eu deveria voltar para minha casa e repensar e voltar depois de um ano, caso ainda tivesse certeza da vocação, um ano depois poderia retornar. Na época eu morava com a minha avó, ainda não havia concluído o terceiro colegial. Eu tinha convicção da minha vocação, não compreendia a negativa deles.

   Aceitei, triste é claro, mas não havia o que fazer. Retornei para casa da minha avó, dela, recebi o abraço e o olhar acolhedor de quem sabia que por detrás daquele rostinho cabisbaixo tinha um coração machucado. Os amigos fizeram mil piadas, tive que aguentar tudo. A vida voltou ao seu normal no início daquele ano, escola, trabalho, aos poucos eu fui compreendendo que realmente eu deveria me reavaliar. É claro que foi uma ótima experiência de vida, os ensinamentos que tive, as aulas, as amizades, está tudo no cofre do peito. Agradeço a cada um dos que fizeram parte da minha vida naquele período tão maravilhoso.

   A minha vida seguiu por trilhos bem diferentes depois do seminário. Um ano após ter voltado, eu mudei de religião, o retorno ao seminário jamais aconteceria, mas, os ensinamentos que tive levo-os para a vida toda, ainda nos tempos de hoje lembro-me da oração do pai nosso em latim. A nova religião não me afastou de ninguém, nem me mudou, pelo contrário, continuei com os mesmos amigos nos círculos católicos. A minha mãe é ministra na igreja católica, assídua frequentadora, minha avó também. A vida seguiu o seu curso, tenho apenas que agradecer por tudo. Que o altíssimo abençoe grandemente cada padre, amigos, seminaristas que nunca mais vi. Tenho-os em meu coração, e uma saudade que não cabe no peito. Eu poderia estender essa crônica por muitas outras semanas, contando detalhes das vivências, das descobertas, dos micos e coisas engraçadas que ocorreram, porém, vejo por bem terminar por aqui, quem sabe em outra oportunidade eu volte a falar dessas, aventuras e desventuras desse que vos escreve.

    ( Ut benedicat tibi Deus omnia. )


CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...