domingo, 27 de novembro de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 



INSPIRAÇÕES DO CLAUSTRO.


   PARTE 2.


   A van estacionou em frente a casa da minha avó, era o fim de tarde do domingo, o relógio escalava as horas enquanto o sol declinava no horizonte, ficando os últimos lampejos. Minha tia foi quem me chamou, dizendo que os padres haviam chegado, eram dois rapazes bonitos e altos, disse ela. Eu terminei de revisar minha mala, estava muito ansioso. Os dois padres desceram as escadas que davam acesso a casa da minha avó, que ficava ao fundo. Eles estavam descontraídos, risonhos e alegres, como da primeira vez em que vieram me visitar. O meu coração batia em descompasso, lá no fundo da minha alma despontava uma fagulha de medo e incerteza, de repente, eu poderia estar me precipitando, porém, tratei de sufocar aquelas ideias insanas no calabouço da mente.

   "Pronto para uma nova jornada em sua vida?Essas foram as primeiras palavras do padre Juan, "Sim, claro", respondi, repetidamente, entre sorrisos tímidos. Na casa da minha avó estavam presentes minha mãe, prima, tia, tio, enfim, uma galera. Depois de alguns minutos de conversas, peguei a mala, me despedi de todos, lágrimas e abraços. Ganhei a rua, para minha surpresa, todos os vizinhos saíram na calçada para um último aceno ao jovem que pretendia dedicar sua vida ao sacerdócio e serviço a Deus. Meio que sem querer, escutei de algumas colegas, que ali figuravam entre os vizinhos, os dizeres do tipo: " tão novo e vai ser padre", e, "nossa, que desperdício". Não dei atenção para aquelas palavras, porém, nunca as esqueci.

   Seguimos viagem rumo a cidade de Arujá, eu estava ansioso para chegar, imaginei que era logo ali, como fui ingênuo, era um trajeto cansativo, tornou-se mais por não conhecê -lo. Lembro-me apenas da rodovia presidente Dutra, o relógio escalou lentamente as horas, aos poucos o nervosismo foi passando, a mente trabalhando enquanto refletia na minha decisão. Em determinado momento, a luz do sol declinou no horizonte, a escuridão estendeu os seus longos braços, as estrelas cintilavam no céu, eu não sabia exatamente onde estávamos. De repente, saímos da rodovia e entramos em uma rua de terra, estreita, caminho tortuoso, com subidas e descidas, ladeado por matas densas de ambos os lados.

   Confesso que fiquei com medo, pensando onde estaria me levando, foi quando então a luz do veículo se deparou com um grande portão de ferro fixado em duas colunas de tijolos vermelhos. A parte de dentro era toda em pedra, semelhante a ruas de algumas cidades históricas, lajotas de pedras em formato hexagonal. O caminho tinha uma leve subida com uma curva acentuada à direita. Um dos padres abriu o portão, entramos, o meu coração voltou a bater descompassado, quando o veículo terminou a subida virando a direita, descortinou-se diante dos meus olhos o seminário Legionários de Cristo. Embora a noite, as luzes, a capela principal, o restaurante, os aposentos dos novatos, recém chegados, como eu, havia outro complexo maior onde ficavam os seminaristas. Fiquei maravilhado com o que se desenhava diante dos meus olhos. Entramos no refeitório, eu e os dois padres fomos servidos com uma pequena refeição servida por outro padre, afinal, não havíamos jantado. O passo seguinte foi me levar até os meus aposentos. Eu finalmente seria um padre, pensei.


   

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