domingo, 31 de julho de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


         SOLIDÃO QUE ENLOUQUECE. 


   Arde em meu peito um descomunal amor 'à solidão', amor que jamais saberei descrever, todavia, esse amor não somente arde, por vezes, o vejo apunhalando o meu peito. É semelhante a brasas vivas tiradas do fogo e colocadas sobre a pele, ou como facas usadas em sacrifícios cravados na carne. 

   Esse amor à solidão é assim. 

   Não há muito o que dizer a respeito de tão misterioso sentimento, não há como defini-lo de outra maneira, embora os dizeres sejam imprecisos, são as únicas palavras que encontro neste momento. Toda a sua grandiosidade não pode ser mensurada e nem descrita.

   A solidão surgiu, de repente.

   O meu peito parece querer arrebentar a fibra que o enlaça à dor vivente tamanha é o pesar de amar a solidão, sim, é a mágoa de amá-la tanto, esse amor desmedido, desmesurado. Sou este ser sem qualidades, louco apaixonado, jogando palavras pela janela da alma. Meus versos ao vento… Nada podem me dizer. A solidão causa essa sensação em mim, esse desconforto, esse incômodo. Já não sei o que fazer; já não sei o que pensar. O meu peito apenas arde, é dolorido, é bom, é ruim, como pode ser tudo e tanto? Diga-me, como pode tamanha dor ser tão boa? 

   Quisera eu compreender os mistérios de nossos corações, quisera eu ter todas as respostas para as perguntas simples que o amor deixou em minha janela. Talvez por esse motivo tornei-me eremita, sim… Agora entendo, ou, pelo menos, penso entender a razão de ser quem sou, a solidão deixou-me assim. Os poemas, são os dizeres não entendidos de uma alma que não se pode decifrar.

Hoje é um dia qualquer de um mês sem importância, a solidão, esse anjo ledo de meus sonhos, é a razão da minha insanidade, é na verdade, a razão de toda minha decadência moral. Às vezes, quando ela surge no castelo de cristal do coração, na torre alta dos pensamentos, muito raramente quando tenho a oportunidade de estar com ela, sem que os súditos ( sentimentos ) do castelo venham perturbar — eu confesso — Meu desejo é de beija-lá… Ah!! Como eu desejo aqueles lábios tão divinamente formados, molhados de paixão, a cada movimento, a cada palavra dita, enfim, a solidão tem lábios que me enlouquecem como bem podes perceber. 

   Outro dia, permita-me contar-lhes rapidamente, quando a solidão ainda estava ausente, em um fim de tarde agradável, eu bem me lembro, leciona ainda sobre as divagações da alma, quando ela saiu em desespero à minha procura. A certa hora da tarde, temendo que a razão percebesse todo o meu intento, pois era visível a todos, toda minha vontade de agarrá-la ali mesmo, acabei por me esconder. Certamente que se me flagrasse, seria um escândalo em toda escala cósmica cerebral. Eu tive que intervir em meus próprios sentimentos, me despir do meu eu, desfazer o status, a vida, coloquei vestes do anonimato, e fugi.

   Ninguém nunca compreendeu. 

   Retornei à escola da alma depois, oculto, eu a instrui como deveria proceder perante minha nova identidade, eu era um fantasma, assim ela fez, e nada de ruim aconteceu-nos. Lembro-me, que naquele trajeto de retorno a casa verde, ainda abandonada, certamente foram os melhores de todos os momentos que tivemos. Eu a amo… Sim… Eu amo a solidão. Embora seja proibido a este aedo relacionar-se com um ( sentimento mesquinho ), sendo eu quem sou, ou, quem era — sei que um dia, em algum lugar, ou em um universo qualquer, encontrarei uma maneira para amar o que não pode ser amado, o abstrato da vida.




domingo, 24 de julho de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


                   A SERVIDÃO DO RELÓGIO.

 

   Os dias parecem todos iguais, não há diferenças entre eles, o mesmo sofrimento diário na labuta que nunca termina, cansaço o tempo todo presente, lamúria de inúmeros lábios exibindo dentes e sorrisos raivosos. A semana é odiosa, o trabalho enfadonho como no antigo, porém, havia algo de interessante anteriormente, que me agradava eu sei, mas, deixei passar como tantas outras coisas. Não adianta arrependimento, tudo é dor. O começo é sempre calmo, não como eu gostaria que fosse de verdade, é uma calma traiçoeira, daquelas que sempre traz revelações ruins ao final. Eu que diversas vezes fechei os meus olhos para não ver a dor chegar. 

   O final de tarde é sempre pior, o cansaço já dominando os braços, fazendo o raciocínio fica lento, esquecido, enquanto a paciência também acena ao longe. A vontade é de jogar tudo para o ar, de fugir para longe.

   O começo de semana é calmo, a maioria dos transeuntes não comparecem, estão com as provisões completas, somente aqueles mais desatentos que retornam para repor o estoque, ainda tímidos, desconfiados. A dinâmica não muda - poderia ser diferente - porém, existe qualquer dificuldade no comando que impede de realizar o que para mim é óbvio. Somos excessivamente levados ao limite do limite corporal e mental. No antigo trabalho haviam prioridades diferentes, nesse de agora, não se preocupam tanto com o cliente na fila. O que importa para quem manda no que lidera é completar balcões de auto serviços, o resto é detalhe. Confesso que estou muito cansado, não é só o físico, a dor no corpo, a coluna latejando, é também o psicológico sendo cruelmente agredido dia a dia, com palavras e atitudes que ferem mais do que as facas afiadas com as quais trabalho.

   Me considero o menor entre eles, sempre superiores em tudo no que fazem na maioria das atividades exercidas. Dizendo que não têm ninguém igual a eles em seus afazeres. São maiorais, gigantes, não cometem erros, são intocáveis.

   Às vezes, realmente tento me igualar, não para apontar o dedo e me comparar, mas, para oferecer o melhor de meu serviço para o cliente. Ainda sim, escuto nas entrelinhas críticas ao meu jeito de fazer e falar. Gosto do que faço, não amo, por favor, não confundam gostar com amor, são coisas totalmente diferentes. O que eu amo verdadeiramente está muito distante da profissão que exerço atualmente, não é o ideal, contudo, paga as contas e sobrevivo. No meu atual trabalho, por vezes tranquilo, em outros momentos odioso, tenho companheiros legais, pessoas boas, colegas, maravilhosas demais. Aprendi a conviver com as diferenças de cada um, isso é o que importa de verdade.

   Talvez esse trabalho seja temporário, assim espero, de coração. Caso eu não consiga me desvencilhar dele para outro melhor, terei paciência, continuarei a fazer o que faço com o máximo de dedicação e profissionalismo, embora não seja a  (profissão) do meu coração, vou exercê-la enfrentando os desafios com toda força possível. Quem sabe um dia eu consiga o que tanto almejo, pode ser que demore, não importa quanto, estarei esperando com toda a paciência que cabe a esse coração. A vida é cheia de desafios, de altos e baixos. Houve tempo que eu estava na parte alta da roda gigante, hoje, estou por baixo, não reclamo por isso. São experiências importantes para o crescimento como ser humano, agradeço por tudo, ainda que doa agradecer.


domingo, 10 de julho de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


                   NA MESMA SINTONIA.


   A noite se aproxima de mansinho no horizonte, vem subindo a colina verdejante, esticando os seus longos dedos de escuridão. Enquanto isso, o fim de tarde, melancólico, vai descendo o mesmo horizonte, escondendo-se da noite que está logo adiante.

   Sinto a brisa fria do inverno beijando a minha face, os olhos já cansados, perdidos na contemplação do fim de mais uma jornada. Noite e dia param por um instante no alto da colina, os vejo trocarem as últimas palavras em faiscantes raios de luz, que logo se transformam em multicores espalhadas pelas nuvens. Pássaros se amontoam no fio de energia, transeuntes desavisados pelas ruas da cidade, o aroma suave de quietude que se espalha.

   Sou apenas um observador, me embriagando com o espetáculo que é o pôr do sol, o lampejo das primeiras estrelas no cair da noite.  

   Há tempos que eu não paro para contemplar tal maravilha que é do ocaso. Vivemos vidas tão apressadas, cheias de um nada sem sentido, correndo o tempo todo e nunca estando contente com nada. O algoz 'crono' rouba os nossos anos e sonhos sem o percebermos. As conquistas das nossas mãos, os esforços de nosso trabalho não tem sentido prático. Criamos regras e colocamos objetivos que em um momento passa como uma sombra, como dizia o sábio Salomão, no fim, tudo é vaidade das vaidades.

   Ainda pouco acabei de chegar do Shopping, levei a minha esposa e filha para um passeio, apenas para distrair a mente, tentar relaxar da correria no meu dia de folga. Eu tinha apenas o dinheiro do estacionamento e de um sorvete para mim e elas, nem um centavo a mais e nem menos. Passeamos bastante, entramos em várias lojas, corremos os olhos em diversas coisas, utilidades domésticas, lojas de artigos japoneses, roupas, calçados, enfim, coisas maravilhosas demais das quais podíamos apenas admirar. Houve um tempo em que eu tinha condições para alguma coisa, no presente momento, não mais. Tudo passou a ser objeto de um desejo inalcançável - pelo menos por enquanto.

   O que mais me impressiona, de verdade, são as aves que contemplo neste momento em que escrevo essa crônica. Quisera eu ser como qualquer uma delas, quisera eu ter a liberdade que corre por entre as suas asas. Quisera eu ver o pôr do sol lá do alto, rente às nuvens. Cada uma dessas aves que neste momento estão empoleiradas no fio de energia é mais rica que qualquer um de nós, toda liberdade que as fazem voar é parte de uma riqueza que dinheiro nenhum no mundo é capaz de comprar. Invejo-lhes o suave canto, a beleza que veste suas coloridas penas, o vento assobiando entre suas asas. 

   Ainda não é noite, e nem dia, estavamos naquele estado intermediário entre um e outro, o exato momento da qual lhes falei que noite e dia param no horizonte do firmamento para se curvar diante do criador, render-lhe adoração, depois trocarem meias palavras e alguns acenos, e cada um seguir o seu curso até o próximo encontro no romper da aurora. Continuarei por aqui por mais uns minutos, pensativo, silencioso. Eu quero ver a noite chegar, ver o brilho das primeiras estrelas, e saber que não há no universo coisa mais linda que as obras da criação. O meu último desejo é que os teus olhos, "caríssimo leitor", por um instante, sejam os meus, e que o teu coração bata na mesma sintonia em que o meu está agora. 

domingo, 3 de julho de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


    APENAS DOIS DÍGITOS.


   É indispensável termos garantias ao livre direito de pensamento, de uma escolha única é pessoal, não forçada por outros. Existem situações acontecendo no Brasil em que esse direito está sendo usurpado e querem nos forçar a conceder opiniões e pensamentos de terceiros como se essas fossem de fato nossas. Eu, você, enfim, cada um tem o direito de escolher com base na sua capacidade própria de análise, do livre arbítrio. Não me refiro a se basear no que fulano disse ou no que Beltrano falou... Cada um tem direito de tomar sua decisão livre de qualquer amarra ideológica. O problema é que não está acontecendo assim. O que ocorre é decisões com base na imposição, dizendo que você deve fazer 'assim' ou 'assado' sem lhe dar espaço de questionamento, querem nos empurrar goela abaixo do que se servem friamente, isso é completamente insano, imoral.

   O que nós estamos vendo nesses últimos e conturbados meses é uma disputa acirrada entre a verdade e mentira, porém, a confusão e distorção de notícias têm sido terríveis, tão absurdas ao ponto de se levantar questionamentos sobre onde de fato está a verdade apresentada, de qual lado e afinal qual é a cor que ela veste. O que para uns é o certo, para outros é absurdamente abusivo, contraditório; o que para uma ala fere bons costumes, para outra é preconceito e caretice. Fica a pergunta na cabeça de muitas pessoas: Quem está mentindo e quais lábios resguarda a verdade? Podemos dizer que a mídia, "não toda ela", alimenta intencionalmente os dois lados da moeda. Para uns, meias verdades, para o outros, mentiras completas com trajes de verdade. O resultado não poderia ser outro... Confusão e conflito.

     Quem é melhor? 

     Opção "A", ou seria a "B".  

     No entanto, vale analisar que, independente de qualquer que seja a sua opção, não será exatamente ( um ), e sim o ( quê ) o todo por trás desse um representa. Fica claro que o verdadeiro poder está no parlamento, a pessoa empossada na cadeira maior, mesmo que tenha todas as boas intenções do mundo, se o parlamento não estiver afinado e em sintonia com essa cadeira maior, nada do que propor levará a lugar nenhum. Teremos confusões, trocas de acusações, uma tremenda perda de tempo em questões sem relevância e sem sentido. A desconstrução de valores se dará como certa, e tudo estará de cabeça para baixo. É exatamente o que estamos vivendo hoje. Não adianta eu colocar nomes e nem fatos desse ou daquele, não importa... Fazer isso é pôr mais lenha na fogueira.

      O mundo e seus habitantes, sonhos desfeitos, por outros refeitos, desejos reprimidos, enfim, cada um tem a sua história e individualidade de pensamento. Ter um governante que agrade a todos é impossível. Agora, ter um governante honesto para todos, isso é possível, ainda que as partes não concordem com essa honestidade, ela deve ser inviolável. O tempo será responsável por mostrar se foi "essa" a melhor escolha ou se deveria ser, "aquele". Embora o que é óbvio demais para uns não é para outros.

     Que Deus nos ajude a superar as dificuldades presentes. O destino de uma nação em apenas dois dígitos...

CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...