domingo, 27 de fevereiro de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 



Talvez.

   Eu sempre gostei de desenho, rabiscava paredes, o chão, cadernos velhos, folhas em branco. Lembro-me do meu primeiro presente, ganhei do meu avô materno, foi uma caneta esferográfica, Bic, vermelha. Naquele dia eu descobri a paixão pela cor vermelha e pelos desenhos. Levei muitas broncas por rabiscar em qualquer lugar. Eu desenhava bonecos desengonçados, casas tortas, árvores monstros, enfim, desenhava tudo do meu jeito, e me achava um artista. As linhas tortas, Os rostos deformados, eram a expressão da beleza na minha ótica. Talvez, se tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande artista.

Talvez.

   Na época da escola me encantei pelas aulas de filosofia. As aulas eram ministradas pelo pároco da cidade, o padre Francisco. A Filosofia sempre me encantou. Estudar as escolas filosóficas, os grandes pensadores, idéias, conceitos. Durante um bom tempo, antes do término do colegial, quando me perguntavam sobre qual profissão eu queria ter, eu sempre respondia que seria um filósofo. As minhas melhores notas eram de filosofia. Talvez se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande filósofo. Talvez. Mas... Na estrada da vida tomei caminhos diferentes que levaram para o lado oposto.

   Veja que, nessa mesma época da filosofia, eu me vi inclinado a carreira eclesiástica. Nascia em meu coração o desejo de ser um padre. Comecei a procurar por um seminário, Carmelitas descalços, Franciscanos, Beneditinos, havia muitas ordens que eu pudesse escolher. Por fim, optei por uma ordem religiosa por nome, Legionários de Cristo, em Arujá. Me encantou aquele lugar, toda organização do seminário, todo esplendor e beleza. Estudos, Latim, Grego, filosofia, Teologia, humanidades. Era tudo o que eu queria. Não muito depois iniciei o meu candidatado, que era um período de duração curto. Ao término desse tempo, muitas coisas aconteceram que me forçaram a mudar os planos. Talvez se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande sacerdote.

Talvez, mas... Havia uma curva na estrada que me fez mudar de rota.

   Uma paixão que percorre em paralelo com todas essas que já citei, é o amor pelas palavras, poesias primeiramente, sendo seguido da prosa. Todas as outras mencionadas anteriormente as considero paixões passageiras. Cada uma teve o seu papel na minha formação e gosto artístico. No caso da literatura, essa, na figura da poesia nasceu de dentro para fora, não é algo que veio de fora. É um tipo de amor difícil de se explicar, que nasce lá dentro. Desde que comecei a rabiscar, ( as primeiras palavras ), a poesia surgiu tímida entre frases curtas, dizeres simples, com o tempo foi ganhando corpo e beleza. Ainda sim, se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande escritor. Contudo, creio que o tempo ainda me é favorável para realização de muitos sonhos. Alguns citados, a exemplo da filosofia, outros não citados nem mencionados aqui. O talvez presente e constante na crônica não significa estagnação ou desistência de meus sonhos. Para este que vos escreve o talvez tenha um sentido de suspensão momentânea de alguns sonhos, para que no tempo e oportunidade certa tudo aconteça da melhor forma possível.

   Enquanto isso.

   Fico no talvez.




domingo, 20 de fevereiro de 2022

Crônica de Domingo.

              



                         RECORDAÇÕES.


   Quero apenas as lembranças da minha infância, e as ter diante dos olhos como miragens que surgem e depois desaparecem. A simplicidade das coisas é tão mais importante do que as complexidades do mundo, meu olhar é de poeta, só se pode compreendê-lo na perspectiva de uma criança. As pessoas perderam mais do que ganharam. Perderam a inocência, a pureza, deixaram de ver e de sentir. Os seus mundos tem a cor cinza, não há flores e nem pássaros cantando nas janelas. Quisera eu que as coisas que vejo de fora tivessem a grandeza das que mora dentro de mim.

   Quero apenas as lembranças da infância. Fazenda Lindóia, meu reino encantado que já não existe mais. Que saudades tenho de todas as coisas que vivenciei. Que saudades tenho das manhãs e dos passarinhos, do cheiro das flores, do pé de pitanga carregado, o balanço amarrado aos galhos. Tudo ainda está aqui dentro do peito, trancado no cofre da saudade. Quando estou cheio de tudo, me tranco em mim mesmo, pego a chave do cofre escondida no seio da alma e me tranco lá dentro. Passo horas e horas de olhos fechados para mundo e coração aberto para as recordações.

   O mundo é tão cheio de medo, de homens uniformizados, faces carregadas de rancor, cuspindo desaforos e regras sem sentido. E passam o dia desejando a ilusória fumaça do poder. Lutam por um pedaço vil de papel, dão a este papel, mais valor do que as flores. Desejo mais as abelhas do que papéis. O mundo se tornou opressor, sem sentido, caminhando como bêbados em noite escura. Raramente vejo sorrisos, o que se vê são apenas máscaras e homens sem face. Olhares presos em aparelhos de inutilidades. Por isso acredito que tão mais feliz seria se fossemos pássaros do que reis de gaiolas douradas.

    O mundo vive para o trabalho, e o trabalho escraviza o homem. Acordar muito cedo, água no rosto, engolir o café sem ao menos sentir o sabor. Sair como louco, feras na selva de pedra em busca da caça. Autos girantes desgovernados pelas avenidas, sinais, motos, buzinas. O homem deste tempo não encontra mais o seu próprio tempo. Aquele espaço de minuto, ainda que seja pouco, para olhar para si mesmo. A maior riqueza não está do lado de fora, não é o número da nota, nem a marca do carro, tão pouco no cargo que tem na empresa. 

    Quero apenas lembrar da infância, nada mais importa. Desejo ainda o tempo de pescarias, nadar nos ribeirões, correr descalço na terra vermelha, caminhar pelas matas. Quando criança eu passava horas olhando o horizonte em um fim de tarde. O sol deitando atrás do morro, as nuvens em brasas Enquanto nas copas das árvores os pássaros se despediam do dia com sonoras notas harmoniosas. A noite então surgia devagar, escalando o céu, os seres da noite surgiam, e tudo era tão mais belo e grandioso. Agora entendo tudo, o motivo do homem ser convidado a se retirar do Paraíso... Ele preferiu as coisas sem sentido, belezas transitórias e prazeres fúteis do que a simplicidade de uma beleza eterna e de um gozo infinito escondido bem diante de seus olhos.



  


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

RESENHA.

   



APÓCRIFOS E PSEUDO-EPÍGRAFOS DA BÍBLIA. 


Há um ano atrás, iniciei a leitura do primeiro volume dos Apócrifos e pseudo-epígrafos da Bíblia sagrada. Foi um período intenso, de descobertas maravilhosas nas 881 páginas deste fantástico livro. Os apócrifos são livros escritos por comunidades cristãs e pré-cristãs, nos quais os líderes e a comunidade cristã não se reconhecem como Escritura Sagrada e, portanto, não foram incluídos no cânon bíblico. 

Resumir resenhar cada livro desse primeiro volume seria escrever outro, tamanho o volume que teríamos. 

O primeiro volume é dividido em cinco partes. A primeira parte, contém os textos Judaicos e Pseudo-Epígrafos, com livros, de " O primeiro livro de Adão e Eva, livro de Enoque ao livros dos Jubileus''. Contando mais de trinta livros somente nessa primeira parte.

A segunda parte fala dos livros da infância de Jesus ao Evangelho Pseudo-Tomé, que também contém narrativas da infância do Salvador.

Na parte três, temos os Evangelhos, Apócrifos. Que vai de Tiago ao Evangelho Valentino, contando mais de doze livros, tendo entre eles a descida de Cristo ao inferno ( Versão Grega e Latina ).

Na parte quatro, a mais extensa, temos as epístolas. Que tem início com o ciclo de Pilatos ao Didache, "O ensino dos doze Apóstolos". Somando quase quarenta livros. 

A quinta e última parte fala dos Apocalipses. Contendo sete livros apocalípticos. Baruch, Adão, Abraão, Moisés, Elias, Pedro e Tomé. 

Alguns livros são enormes, de leituras maçantes, já outros, leves e de fácil compreensão.

Os apócrifos são o resultado da tradição oral dos primeiros crentes da era cristã, tornaram-se importantes documentos reveladores do modo como vivia e pensava uma grande parcela da cristandade, cuja voz foi abafada pela igreja oficial. Reunidos em três volumes, com inúmeros livros em cada, temos a oportunidade de aprender um pouco mais da Cultura da época. Aconselho e encorajo aos amantes da leitura essa fascinante jornada nas páginas destes preciosos documentos históricos. 

Sigo agora no início da minha segunda fascinante viagem no segundo tomo. O meu desejo era detalhar cada livro, resenhar a riqueza de cada um, mas, como seria um árduo e massante trabalho, não o fiz. Minha esperança é que o seu interesse desperte e que comece o quanto antes essa grande jornada.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 



     LETRAS TRAIÇOEIRAS EM NOITES ESCURAS.

    Estou completamente vazio, sem ideias. Nenhum resquício de pensamento ou qualquer coisa válida que se possa comentar. Não é comum, isso lhes garanto. Tão pouco é falta de inspiração, na prosa, principalmente na crônica, trabalhamos com os prazos, literatura sob pressão, inspiração é campo da poesia. Acontece que os dias têm sido difíceis, para não dizer insuportáveis, posso até estar sendo exagerado, dramático demais como diz minha amiga de trabalho, Vanessa. Até concordo em certos pontos, porém, a coisa toda é bem mais complexa, profunda, envolve sentimentos, dor, decisões, tantas coisas que não sei nem por onde começar.

   O que quero tornar evidente para todos é o meu descontentamento, com tudo, com o curso da minha vida até o presente momento. Não sei exatamente o que dizer quando me perguntam sobre planos e tal... Fico sem resposta, ou, com um nó cego na garganta com essa falta de perspectiva e possibilidades. Que o mundo está um caos não é novidade, pelo menos para aqueles que realmente conseguem enxergar as coisas como realmente são. Desejei o que jamais pude ter, é tão verdade que por esses devaneios psicológicos me tornei poeta também. Mas até nisso me decepcionei.

   Falando assim, a primeira impressão que fica é de que sou um pessimista, catastrófico e tal, talvez eu seja mesmo, confesso, mas... Cá para nós, com o mundo na atual situação, não é para menos. Há momentos na vida em que tudo parece dar errado, é aquela situação de quase desespero. Pois bem, caríssimos amigos, me vejo em uma situação semelhante. Trabalho, casa, negócios, finanças, enfim, não consigo acertar nenhuma flecha no alvo. Quando eu chego nesse patamar de tristeza profunda, me entrego de corpo e alma a literatura - é minha válvula de escape - crônicas, poesia, prosa. Me derramo por completo, porém, neste momento, estou em um deserto das próprias palavras. Letras traiçoeiras em noites escuras.

  E por falar em "noites traiçoeiras", esse é o título do meu novo romance, estou perto da conclusão, mas... É justamente esse final que está enroscado. Talvez eu demore algumas semanas para finalizar. Eu tenho outros trabalhos em andamento, poesia por exemplo. Todos esses livros, depois prontos, são postados na plataforma de escrita do wattpad, aqueles com contas por lá é só procurar por ( Macedo Pena ) e você terá toda a lista de meus livros. Tenho outros projetos literários em mente, para um futuro próximo, pelo menos assim espero, como dito anteriormente, sou constantemente solapado por crises depressivas. Crises essas cada vez mais frequentes.

    Outra ocupação que traz equilíbrio na minha vida, o que me dá tanto prazer quanto escrever, é a leitura. Tenho que ler todos os dias. É como tomar café, almoçar e jantar. Atualmente estou lendo cartas de um diabo ao seu aprendiz. De C.S Lewis, livro maravilhoso, é o que eu posso dizer, depois de concluir a leitura talvez eu lhes traga uma resenha. Enquanto o mundo caminha a beira do abismo, prestes e despencar, nós, meros mortais, seguiremos as nossas vidas tranquilos, como se nada estivesse acontecendo. A exemplo dos músicos no filme do Titanic, tocando suas belas canções em meio ao caos.


domingo, 6 de fevereiro de 2022

Crônica.

   


  O ESPINHOSO CAMINHO DA LITERATURA NO BRASIL.


   Confesso que está cada vez mais difícil o caminho da literatura, escrever é uma realidade muito diferente da de ser publicado, viver daquilo que você escreve e publica é quase uma utopia. Sabemos que os brasileiros em geral leem pouco, por isso o mercado livreiro é tão pequeno, aliado a baixa procura de livros, poucas bibliotecas e custos altos, fica quase inviável altos investimentos. A consequência disso é que temos mais prestadoras de serviços do que editoras tradicionais, são pouquíssimas as editoras que bancam todo o custo de um livro, mesmo as que o fazem, preferem nomes conhecidos do público, como uma garantia de venda. Considerando todas as circunstâncias de nosso país, não os culpo pelas estratégias tomadas, é necessário para se manter vivo no mercado.

    Outro caminho interessante são as publicações independentes, plataformas como clube de autores e outras. Nessa modalidade de publicação, gratuita, toda parte de 'construção do livro fica por conta do autor', inclusive a definição do preço final. O que facilita para quem deseja ver seu trabalho impresso. Essas plataformas estão cada vez mais sofisticadas e inovadoras, trazendo opções diferentes para os seus autores. Parabenizo cada uma pelo belíssimo trabalho que desenvolveram e tenho esperanças de que essa ideia ganhe e cresça cada vez mais.

    O livro, deveria ser uma paixão nacional, penso eu, se assim fosse, teríamos mais bibliotecas do que bares, mais intelectuais do que bêbados urinando em postes. Se o livro fosse uma paixão nacional, gostaríamos mais tempo devorando páginas do que tempo perdido correndo o dedo na tela de um celular ou assistindo noticiário tendencioso e desinformativo. Se o livro fosse uma paixão nacional, haveria, inclusive, nos supermercados - isso mesmo que você leu - haveria uma seção somente de livros ao invés de duas três de bebidas, não somente alimento para o corpo mas para o intelecto também. E com toda a certeza, os nossos livros seriam mais parecidos com tijolos. Não que os menores não tenham seu valor, cada um é uma pérola, porém, em uma nação onde leitura é uma paixão, a tendência é justamente de se ter livros no estilo, " Montanha Mágica", "Viva o povo Brasileiro".

    Os livros digitais também ganharam o seu espaço. Em um mundo cada vez mais tecnológico e digital, não era para menos. As grandes e tradicionais editoras também compartilham os seus títulos em versões eletrônicas, disponíveis para aqueles com tempo e disposição escassas, podendo carregar uma biblioteca inteira por aí. Aos amantes do livro físico, do cheiro de papel impresso, nada se compara.

    Voltando ao raciocínio inicial, está cada vez mais, 'espinhoso', o caminho da literatura no Brasil. Os escritores, no geral, necessitam de outro emprego para pagar as contas, é quase impossível viver única e exclusivamente de literatura. Escritores são profissionais como quaisquer outros. Deveriam ser reconhecidos como tal. Tenho esperanças de que um dia isso possa acontecer, de que nós, escritores, tenhamos o reconhecimento ( trabalhista ) merecido e garantido, com direito a férias e tudo mais. Enquanto esse milagre não acontece, temos que fazer malabarismos para produzir nossas histórias. É muito mais do que simplesmente colocar palavras no papel, é uma paixão, amor que transcende o próprio entendimento.


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

CAPÍTULO 24.




               Capítulo 24.


... O seu Jardim de delícias já não existia, não havia mais sentido em nada do que fazia, sem ela, tudo era incompleto. Buscou em outros jardins o amor proibido, encontrou apenas a perdição e o erro. Era necessário um retorno, primeiramente para dentro, teria que mudar o seu coração desde as raízes. Doloroso processo aos homens amantes de si mesmos, porém, desconheço outro caminho que não seja a negação do próprio eu para assim poder encontrar a sua verdadeira vocação ...



Domingo de manhã, belos pássaros pousaram na janela do quarto de Oséias, lindas aves de várias cores e de cantos harmoniosos, suaves. Diferentes aves, 'ela ama pássaros'. Certa ave de penas amareladas, era a preferida de Gomer, o canto dessa ave é de uma beleza inexplicável, estava entre as demais, Gomer se encantava quando a tal ave aparecia, um canário do reino. Eram raros os momentos de ternura, pureza e inocência de Gomer.


As lembranças da esposa chamando pelo pássaro, os cabelos soltos ao vento, o movimento dos lábios imitando o seu cantar, era quase insuportável a dor de recordar, machucava no mais profundo da alma. Dentro do peito de Oséias acontecia uma grande batalha, de um lado era o coração amoroso, apaixonado, desejando ajudar, enquanto do outro lado era puro rancor e angústia pelos atos de Gomer. Ele não sabia o que fazer, e não saber agir o estava destruindo por completo. Aos poucos, o coração materialista de Oséias ia sendo quebrado e transformado.


O domingo se estendia lentamente, entediado, Oséias deitou-se no sofá, não demorou para adormecer.


Entrou na sala, não havia ninguém, a TV continuava ligada nos noticiários, o sofá maior levemente desalinhado, o que não era comum naquela casa. A janela estava aberta, às cortinas tremulando ao soprar suave da brisa. " Onde estão todos", pensou. Dirigiu-se para a cozinha, muito espaçosa, geminada com a sala, em estilo americano. Na pia estavam algumas louças sujas, no escorredor de pratos outros que já haviam secado. Maçãs e bananas na fruteira, a geladeira estava cheia, a garrafa de café também, quente por sinal. Saiu da cozinha, antes de chegar na sala, do lado esquerdo, uma enorme escada que dava acesso à parte de cima da residência. Subiu lentamente as escadas, receoso de encontrar alguém, olhava sempre assustado, parecia que ele era observado. À sua frente um enorme corredor, com mais três portas à frente, certamente de quartos, pensou. Ficou parado diante da primeira porta, mãos trêmulas na maçaneta, respirou fundo, fechou os olhos, contou até três. Abriu a com muita lentidão, para sua surpresa não havia ninguém no quarto, as camas estavam desarrumadas, um copo de água pela metade estava na cabeceira da cama. Saiu, foi para outra porta de outro quarto, repetiu o processo que fez na anteriormente, a mesma coisa, não havia ninguém em canto algum daquela casa. Percorreu-a toda, cada cômodo, não havia ninguém, a casa era enorme, tinha de tudo o que se imaginava, e ninguém para desfrutar de todas aquelas coisas, apenas ele estava ali. Outra coisa chamou-lhe a atenção, em nenhum momento escutou barulhos na rua, nem de carros, nem de pessoas, nem de motos, até os animais haviam desaparecido. Saiu do interior da casa e foi para garagem, ficou uns minutos, retornou para a enorme casa. Na cozinha, fez um lanche com o que havia no armário, comeu chocolates, bebeu suco. Voltou para a sala, a TV estava ligada, porém, todos os canais estavam fora do ar. Ligou então o vídeo game, jogou até cansar. Subiu para parte de cima da casa, foi no último e maior quarto, deitou-se na enorme cama, estava cansado, ligou a massagem, por fim adormeceu…


Ei… Ô… Acorda - uma misteriosa voz soa em seus ouvidos.


Abriu os olhos assustado com aquela voz, achou que era um dos funcionários, era manhã, parecia que havia tomado remédios para dormir, levou um tremendo susto, olhou para todos os lados, não havia ninguém, os empregados estavam de folga. Ele não estava mais na casa enorme, era a sua mansão no Morumbi. Domingo ainda. Tudo não passou de um sonho, um estranho sonho.


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Na tarde do dia seguinte, Oséias resolveu caminhar pelas imediações, parou em uma praça, cabisbaixo, desatento a tudo é a todos, não parecia o Oséias alegre de sempre. Já não participava das reuniões de seu partido político, nem os da igreja. Não comparecia aos cultos de domingo, faltava as votações no plenário, sua vida estava ladeira abaixo. Nessa mesma praça, apareceu uma visita inusitada. O homem que durante anos foi o seu pastor, estava ali, bem na sua frente, parado diante de Oséias, que, fixou o olhar naquele senhor sem o reconhecer de pronto, fazia mais de dez anos que não o via.


Oséias ficou observando aquele pastor, passado alguns segundos, depois de um sorriso do pastor, Oséias logo o reconheceu. O pastor havia se mudado, estava dirigindo uma igreja no interior Paulista, mas a pedido do seu pastor presidente, mudou-se para a capital. A igreja que passaria a dirigir ficava próximo a casa de Oséias. Os dois ali ficaram horas a fio conversando, Oséias contando-lhe todos os pormenores e maiores de sua vida desastrosa.





domingo, 30 de janeiro de 2022

Crônica

            


                    DENTRO DE MIM.


 As trevas cobrem toda a extensão do céu, não há estrelas, apenas nuvens sendo clareadas pelo lume causado pelos relâmpagos. Trovões ao longe, que se aproximam, se intensificam. Formou-se a tempestade que logo mais vai desabar. Da janela do meu quarto observo, apaguei todas as luzes, o calor é intenso neste final de Janeiro. Estou em mais uma noite de solidão, os pensamentos fugitivos, a alma angustiada, o coração apertado. São tantas as questões a serem resolvidas, problemas que parecem insolúveis, das quais não dependem de mim unicamente, todas essas ideias flagram a alma levando-me uma vez mais a pena e ao papel, então me desfaço em palavras e ideias.

   Todo esse silêncio me trouxe inquietação, desatino, ligo a luz novamente, peguei alguns livros na estante e os joguei na cama. Um se destacou logo de cara, leitura recente, que espressa exatamente a nossa sociedade atual e seus possíveis destinos, em um breve resumo: O livro foi publicado em 1945, imediatamente interpretada como fábula satírica sobre os descaminhos da Revolução Russa, chegando a ser usada como propaganda anticomunista. O livro traz uma duríssima crítica ao totalitarismo soviético; mas seu sentido transcende o contexto stalinista. O livro conta a história que se passa na fazenda do senhor Jones, os animais que viviam ali, percebem o quanto são maltratados por Jones, e que se matam de trabalhar para os humanos, e que lhes dão toda as suas energias em troca de uma mísera ração, para ao final, serem abatidos. Certo dia, um porco já velho, por nome Major, faz um tremendo discurso incentivando a todos os animais a uma revolução. Major morre, e dias depois, liderados por dois porcos, Bola-de-neve e Napoleão, os bichos então se rebelam e expulsam o fazendeiro de sua propriedade e passam a viver em liberdade, em uma espécie de Estado onde todos são iguais. Porém, essa utopia tão maravilhosa no início, não dura muito tempo, e logo começam a surgir as disputas, os porcos, por se considerarem mais inteligentes, são os novos líderes, criam leis, prometem um novo mundo, mas aos poucos, os demais bichos, não percebem as manobras e manipulações dos porcos, tanto das leis criadas quanto dos assuntos tratados e das regalias que os porcos têm. Tempos depois, Bola-de-neve, que era então o líder, foi expulso da fazenda por Napoleão, que agora, ladeado de seus ferozes protetores cães que criará escondido, se intitula o novo líder. Napoleão distorce sutilmente as leis, faz com que os animais trabalhem mais do que antes da revolução, mas eles estão tão cegos que não percebem nada, e a nova vida, que em tese era para ser de igualdade para todos e melhor, passa a ser pior do que antes. Tentativas de tomar a fazenda acontecem, mas os porcos, hábeis manipuladores das massas, convence os animais em todas as vezes, fazendo deles, o que bem entende para benefício próprio. O livro é de um brilhantismo descomunal, e serve muito bem para ilustrar a sociedade de hoje, das políticas corrompidas com discursos de igualdade, mas que na verdade, assim como na revolução dos bichos, visão apenas a manipulação para o benefício de seus pares.

O livro fala por si, nada mais tenho a dizer nessa crônica. Chuvas e trovões povoam a noite lá fora, assim como a noite aqui, dentro de mim.





CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...