domingo, 8 de setembro de 2024

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


    UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.


    Um pássaro pousou em minha janela.

    Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pousou em minha janela na tarde desta bela sexta-feira. Quisera eu ter as suas asas e voar livremente pelo imenso azul celeste, entre fogosas nuvens, brincar alegremente, ver o mundo lá de cima, ter a liberdade brincando com o vento em minhas asas. No entanto, é dolorida a realidade em que percebo não ser tal como o pássaro, de não ter asas, de nunca ter sonhos, de nunca poder voar, de não ser livre. Talvez a imaginação me crie asas, ainda que essas, antes mesmo da existência tenham sido cortadas pelos homens, ainda que sejam as asas de Ícaro.

     Um pássaro pousou em minha janela.

     Quisera eu ser esse pássaro de penas reluzentes, com o bico afinado, cantando suave e harmonioso — eu não sou este pássaro, pelo contrário, eu sou o poeta da melancolia e tristeza, bêbado de solidão no meio da multidão, desajeitado com as palavras, tropeçando vez ou outra aqui e ali em alguma desavisada rima que passa, acenando de uma janela triste. A liberdade que eu sonhei, imaginei, voou nas asas do pássaro que estava preso na minha imaginação, estava preso... Agora não mais.

    Um pássaro pousou em minha janela.

   Outro dia veio em minha janela esse pássaro diferente de todos os outros que já pousou por outras vezes. Esse tinha as asas coloridas, mais longas, com o bico também alongado. Contudo, a sua canção parecia a viva entonação de meus versos tristes e melancólicos. Não consegui determinar que ave era aquela, nem entender a sonoridade quase fúnebre de seu canto. Sei que ela causou-me grande admiração, medo e espanto. Uma vez mais faço-me repetir… Quisera eu ser aquela ave, ou qualquer outra a propósito, conquanto que eu tenha asas e possa voar, que tenha a liberdade novamente. Liberdade essa roubada por mercenários do pensamento, da ideologia de que não teremos nada e seremos felizes... Eu não sou esse pássaro, talvez no passado eu tenha sido, porém, até mesmo as lembranças do meu passado foram roubadas de mim.

   Um pássaro pousou em minha janela.

   Quisera eu poder ser todos os pássaros do mundo, pelo menos um de cada nação 

— que fosse apenas um dia — e ter a mais bela canção, ainda que não lírica. Quisera eu ser esses pássaros todos e ganhar todas as nuvens e todas as liberdades em cada céu de cada lugar, e poder voar sempre mais alto possível até quase desmaiar, e ter a liberdade e a solidão entre minhas asas. 

   Quisera eu… 

   Ser apenas uma vez na vida, um pássaro qualquer. Entretanto, me oferecem as asas de Ícaro e um céu terrivelmente ensolarado, me vendem a ideia de que eu posso sim voar perto do sol, que o mito de Ícaro é uma ilusão, afinal, não existem perigos. Os mercenários do pensamento plantam nas mentes essas e outras ideologias mentirosas. Não sou um pássaro, aliás, não somos pássaros, a única certeza de que tenho é a de estar preso numa gaiola, suspensa no mundo, a porta está aberta, ao lado, ( as asas de Ícaro ). A falsa sensação de liberdade chamando do lado de fora.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

A TIRANIA DO RELÓGIO.

 



Dane gostava de acordar cedo, antes do nascer do sol, hábito herdado dos pais e avós. O céu ainda estava escuro quando ela despertou, não quis perder tempo, ela odiava desperdiçar o tempo, embora ainda com sono, evitou o último cochilo. Tratou de levantar-se de um só pulo, como era de costume em todas as manhãs. A primeira coisa que fazia ao se levantar era abrir a janela do quarto, que dava de fundo para o quintal, espaçoso por sinal, ela abria a janela apenas dois palmos nada mais, nada a menos. O silêncio absoluto era interrompido pela algazarra dos pássaros no pé de cereja. O céu começava a ser invadido por pálidos tons de um alaranjado fraquinho se intensificando aos poucos, mudando de tom cintilando no horizonte, era o sol timidamente acenando do outro lado do mundo, pronto para romper a escuridão e dar início aquele novo dia. Dane ficava por alguns minutos olhando o horizonte pelo pequeno espaço da janela, contemplando o silêncio, que logo mais seria maculando por uma manhã barulhenta e de muita correria que era às segundas-feiras. A cidade de Sorocaba era muito diferente do interior Mineiro de onde ela veio. A megalópole interiorana caminhava a passos largos para se tornar uma cópia perfeita com todas as imperfeições que trazia a Pauliceia desvairada onde moravam a maioria dos parentes. Dane esticou-se toda, espreguiçando-se, havia muito a ser feito antes de sair para o trabalho. A segunda coisa era arrumar a sua cama, embora morasse sozinha, podendo dar-se ao luxo de deixá-la desarrumada, a exemplo das amigas, mas, ela não tinha esse costume, aliás, Dane odiava desordens seja qual fosse ela. Dane gostava de tudo em seu devido lugar, gostava de arrumação, limpeza, ordem, às vezes, exagerava demais. Antes mesmo de ir para o banheiro, dobrava o cobertor, lençois, guardava-os e estendia outro lençol, um dos muitos que ganhou da mãe, tudo tinha que ser perfeito, milimetricamente ajustado. Somente depois é que ela ia para o banheiro. Sempre nessa ordem e no mesmo horário, não podia atrasar, ela odiava sair da rotina ou dos horários que ela mesma estabeleceu para sua vida.

       No banho não era diferente.

       Havia uma toalha diferente para cada dia, a toalha rosa era da segunda-feira, sabonetes, shampoo, condicionador, tudo em seu lugar, na ordem e posição que ela estabelecia, Dani não suportava que alguma coisa ficava fora do lugar, nem mesmo um frasco de shampoo. Os banhos em geral não eram demorados, somente quando ela queria se tocar, dar liberdade aos pensamentos e devaneios mais devassos, sem companheiro ou namorados, sentia suas necessidades e as deliberava na solidão de seus banhos, tudo dentro de seus rígidos controles mentais. Até mesmo esses momentos tinham que obedecer a tirania do relógio.

           Terminado o banho, nada além de vinte minutos nesses dias específicos, enxugava-se, trocava-se, recolhia as roupas e toalhas e as deixava na máquina de lavar, para quando voltasse do trabalho. O banheiro deveria ser enxugado, limpo, perfumado, tudo antes de sair. A última coisa a ser feita antes de ir para o ponto de ônibus era separar o que seria feito no jantar. Arroz, mistura, salada, enfim. O que deveria ser feito a noite era separado em medidas pequenas e colocadas na geladeira antes de sair para o trabalho. Refeição para uma única vez, não podendo sobrar nada, nem para o outro dia, salvo finais de semana em que ela não almoçava no trabalho. Era o costume dela, funcionando perfeitamente, com uma leve piora depois de mudar para Sorocaba e morar sozinha, embora para as colegas que a conheciam achar o seu "TOC", algo fora do normal, diziam às amigas que o controle do próprio tempo algo a beira do doentio.

    Tudo pronto, chaves no bolso, bolsa, carteira, crachá. Confere e confere se tudo está fechado, portas e janelas, confere novamente a bolsa, não havia esquecido nada.

    O ponto de ônibus onde ela deveria estar era na avenida Itavuvu, coisa de dez minutos de caminhada, bastava seguir reto até o final da rua e atravessar a direita. Dane abria o portão que dava acesso a rua, olhava para os dois lados, sempre desconfiada, com medo. Na rua, as mesmas pessoas de sempre, alguns alunos indo para escola, outras mulheres e homens em direção aos seus trabalhos, alguns de carro, outros, se dirigindo para o mesmo ponto de ônibus que ela.  Depois de olhar várias vezes para os dois lados, fechava o portão e caminhava cerca de dez ou vinte metros subindo a rua. O ponto de ônibus era na avenida Itavuvu, ao final da rua, bastava virar e atravessar pela Fru Fru e pronto. Ela parava sempre pelo mesmo lugar, em frente a casa da do Cleide, parava por alguns segundos, desconfiada de que esqueceu de algo, conferia bolsa, tudo no lugar. Não conseguia dar um passo a mais se não voltasse e conferisse se havia fechado o portão. Era sempre a mesma coisa, todos os dias da semana. Havia dias em que ela estava no ponto e voltava para conferir se tinha fechado o portão de casa. Se caso ela embarcasse sem retornar para conferir o portão, pronto, o seu dia era complicado, estressante e desajustado, dificilmente conseguia se concentrar no trabalho. As amigas insistiram para Dane marcar um médico e retomar o tratamento, ela era tão teimosa quanto controladora de si mesma.

       Finalmente, depois de voltar, conferir o portão, retornou tranquilamente para o ponto de ônibus, chegou com tempo de sobra. 

        Haviam poucas pessoas com ela, duas mulheres e um rapaz. Ela pegou o ônibus que vinha do Vitória régia sentido rodoviária. Era a linha mais rápida que se utilizava do BRT.

         Dane trabalhava em uma biblioteca no centro da cidade, na verdade uma sebo com ares de biblioteca, o maior da cidade, não ganhava muito, porém, era o tipo de trabalho que sempre desejou. Amante de livros, lutou para conseguir uma vaga naquele emprego. O serviço era tranquilo, catalogação dos títulos, organização dos livros novos que chegavam, indicação de obras para os clientes. Junto com ela havia outras duas meninas no período da manhã, e outras duas que ficariam  até o fechamento. O horário de Dane era das sete às três, com uma hora de almoço. 

           O relógio de pulso marcava seis e dezessete, o horário que o ônibus deveria passar era seis e quinze, estava atrasado, o que angustiava a moça, deixando-a inquieta. Seis e dezoito foi o horário em que o ônibus parou no ponto, a cara fechada de Dane era evidente, para piorar, o seu lugar preferido de sentar estava ocupado, próximo da porta de saída do meio do veículo. No lugar, estavam um casal de namorados, a vontade de Dane era de arrancá-los aos tapas. Irritadíssima, mesmo com outros lugares sobrando, preferiu ficar de pé, próximo a porta. Dane permaneceu quieta todo o trajeto. Não falou uma única palavra com ninguém, nem mesmo um simples bom dia. Era inadmissível ter o seu lugar tomado desse jeito, pensava. 

          O ônibus seguiu o seu caminho. Hora parando e entrando uma multidão, parando e descendo outra maior. Dane permaneceu no mesmo lugar, sem falar com ninguém, sem arredar o pé. Saiu somente no último ponto antes do ônibus entrar no terminal. Nem bem parou no ponto e ela desceu apressada rumo ao trabalho, que era relativamente perto.

    Dane segue o caminho de sempre, nunca mudou o seu trajeto desde que iniciou na sebo. O caminho mais curto seria passando pela rua sete sentido à matriz, depois subir a rua dos bancos. Porém, Dane preferia o calçadão das lojas, subindo a segunda direita, que também leva a matriz, no entanto, esse caminho não era o melhor. Dane demorava exatamente cinco minutos a mais, contudo, mudar de trajeto significava mudar sua rotina, o que no momento estava fora de cogitação.

      Ela odiava mudar seus horários e rotas, era um hábito difícil de se desfazer. No sebo não era diferente. Dane lutava contra o seu transtorno compulsivo, havia dias em que tudo transcorria dentro de uma certa normalidade, o que lhe era favorável. Bastava qualquer coisa fora do seu padrão habitual, ou que lhe fizesse sair da rotina para tudo se tornar um caos completo.

       Dane chegou dez minutos antes da loja abrir, exatamente dez minutos, o que era perfeito, maravilhoso, significava que o seu dia tinha tudo para começar bem. Sem atrasos. O único inconveniente era o fato de não ter conseguido sentar no seu lugar preferido no ônibus. Enquanto a loja não abria, Dane ficou observando as pessoas que passavam, todas apressadas, indiferentes ao que se passava ao derredor. Sorocaba, tão diferente da sua antiga e pacata cidadezinha, onde todos se conheciam. A loja abriu exatamente no horário, era outro motivo de comemoração, seu João, o dono do local, dificilmente abria a loja no horário. Dane era a primeira a chegar, ficava no caixa enquanto as meninas não chegavam. A rotina, massacrante para as amigas, tão confortável para ela. Josiane era a segunda a aparecer, coisa de meia hora depois, assumia a caixa e deixava Dane livre para fazer o que mais gostava, organizar os livros nos devidos lugares, ajudar um e outro cliente em alguma dúvida, assim ela passava o dia. Se nada acontecesse para mudar sua rotina, tudo seria perfeito.

       Não demorou e os primeiros clientes apareceram.

        Josiane era a mais requisitada no caso de dúvidas, por ficar na linha de frente da loja, os clientes a procuravam na maior parte das vezes. Dane estrategicamente pulava de corredor em corredor, evitando o contato com os clientes o máximo que podia. 

        Na rotina de arrumar, sobrava-lhe tempo de sobra para folhear os livros novos. Naquela manhã havia uma pilha enorme. A maioria de semi novos. Poesia, Romances, contos. Dane gostava dos calhamaços, naquela manhã havia vários entre as pilhas. "O homem sem qualidades", "As benevolentes", "Crime e castigo ", " Guerra e paz", na maioria livros em perfeito estado, praticamente novos, possibilitando um preço um pouco acima dos demais. O fluxo da loja era bom, os preços acessíveis, seu João tinha o coração mole, sempre dando descontos generosos para os clientes. Tal atitude o fazia conhecido e procurado, o que lhe parecia perder nos descontos ganhava em número de vendas e clientes.

        O dia transcorreu dentro da normalidade.

        A bela jovem de olhos azuis atendeu tão somente dois clientes. Um moço que procurava um livro do Machado de Assis, e outro que procurava um dos títulos da Mariana Salomão Carrara. Ambos conseguiram os livros e ótimos descontos.

        Seu João, conhecendo que sua funcionária tinha suas neuras com o horário, a liberava dez minutos antes, não importasse a situação da loja. Dez minutos antes era perfeito para ela, saindo sem pressa para o terminal. Naquela segunda-feira, até o presente momento, tudo estava perfeito demais, o que deixou a moça apreensiva, querendo chegar logo em casa e consagrar a perfeição de um ciclo inteiro sem atrasos, como costumava chamar.

   Dane saiu apressada, nem bem guardou o livro que levaria aquele mês e atravessou a rua antes do sinal fechar. Uma das exigências de seu João é que todos os funcionários lessem pelo menos um livro por mês, caso conseguissem, recebiam bonificação. Dane era uma leitora compulsiva, faltando apenas quatro meses para finalizar o ano, ela já havia lido quarenta e nove títulos. Enquanto as amigas lutavam para manter a meta exigida. 

     O livro que ela estava levando era "Lolita", de Vladimir Nabokov. O livro que havia lido anteriormente era, "O médico de homens e almas", da Inglesa Taylor Caldwell. Um calhamaço de quase setecentas páginas.

      O centro da cidade estava terrivelmente movimentado. Carros, engarrafamento, buzinas, pessoas apressadas, uma algazarra incomum, ela ainda não estava plenamente habituada com o frenesi da cidade grande. São Pedro dos Ferros, lugar onde morava em Minas, era um ovo em comparação com Sorocaba. Outro detalhe irritante para ela eram os candidatos a vereadores espalhados pela cidade. Como o período eleitoral se aproximava, candidatos eram o que não faltava, aparecendo aos montes, de todos os lados, sempre com a mesma conversa mole, o papo de sempre que vai fazer isso e aquilo se for eleito. Dane sabia bem que as mesmas caras e sorrisos que se faziam presentes desaparecem assim que terminam as eleições, em São Pedro dos Ferros não era diferente de Sorocaba.

          Não demorou e ela chegou ao terminal.

          Como de sempre, lotado. O que resultaria em atrasos, o de imediato fez o seu semblante transfigurar-se, ignorando a moça que lhe chamava para uma conversa rápida... Os famosos "santinhos", nas mãos, por certo, mais uma candidata. Dane deu de ombros, entrou apressada pela catraca do terminal. Visualizou o ônibus parado, Vitória Régia, linha 140, havia estacionado no ponto naquele momento. Dane atravessou pelo terminal aos tropeços, queria garantir o seu lugar favorito, próximo a saída do meio do veículo. O esforço não lhe valeu muito, novamente, ônibus lotado, ficou de pé, cara emburrada. No pensamento a certeza de que o dia só poderia dar naquilo, que para ela era um desastre. Apesar que, nas segundas, raramente ela conseguia o seu lugar preferido ou os horários certos. Alguma coisa sempre dava errado, dessa vez não foi horário, não por enquanto, por sorte o trânsito estava fluindo normalmente. 

          No ônibus, os mesmos rostos de sempre.

          Faces cansadas, olhos grudados na tela do celular, ninguém queria conversar com ninguém, para ela, perfeito, assim poderia chegar em casa sem ter que dialogar com ninguém. 

            Entre solavancos e balanços do veículo, os pensamentos de Dane se consumiam no que ela ainda tinha a fazer. Indecisa se colocaria as roupas para bater primeiro ou se faria a janta ou tomaria banho. Sem ninguém para ajudar, tudo era por sua conta. Nesses momentos ela se arrependia momentaneamente por não ter ninguém, apenas momentaneamente, só em imaginar outra pessoa, mais roupas para lavar, comida por fazer, todo trabalho dobrado, por sua única conta, sem dizer na casa para arrumar, tudo sozinha, enquanto o possível companheiro, certamente, com os pés esticados no sofá... Só em pensar em tais coisas Dane sentia o rosto avermelhar-se novamente e a pressão arterial subir. Tão logo, ao soar de uma buzina do lado de fora, a bela moça voltou a si, saindo do seu devaneio, faltando apenas um ponto para descer. Por pouco não passaria do ponto.

                 A tirania do relógio ditando o curso frenético de sua vida, faltava dez minutos para as seis. Ela teria que correr se quisesse chegar em casa cinco para a seis. Tal atraso logo na segunda, era inadmissível, era a tirania do relógio.


domingo, 11 de agosto de 2024

GUERREIRO DA LUZ.




    Os dias são de intenso sofrimento...

    Não sei exatamente como começar a escrever a crônica deste domingo. Não encontro as palavras certas para jogar no papel, nem mesmo sei como me expressar, me fazer compreensível aos meus leitores, se é, que ainda os tenho. Inglória profissão essa de escritor. Convivendo com os fantasmas de seus personagens, nem sempre os tornamos grandes, às vezes, para a maioria de nós, são apenas fantasmas da nossa fantasia, acompanhando-nos a vida inteira. Na verdade, tornei-me neste ser solitário e assustado por tantas quimeras, as do passado como do presente.

      No entanto, certo amigo escritor não era assim...

      Me permitam uma breve explicação, se é que vou conseguir fazê-lo, como eu disse no início, dias de intenso sofrimento. Eu tenho um amigo escritor, embora ele não soubesse que é meu amigo, nunca soube e jamais saberá, já explico toda a tragédia que se entrelaça no curso dessa crônica... Muita calma meus amigos, aos desavisados, essa história não termina com um final feliz. Afinal, eu não estou feliz, talvez muitíssimo abalado pelo que aconteceu ao meu amigo das letras, e para completar, fui demitido, tudo acontecendo recentemente. Esse meu amigo escritor era conhecido, mais de trinta livros publicados, dos quais eu tive o prazer de ler a maioria. É com imensa tristeza que venho lhes informar que este amigo faleceu recentemente, na aurora dos seus quinquagésimo sétimo aniversário. Sim... Ele era novo, cheio de vida, com inúmeros projetos, porém, a fatalidade veio ao seu encontro no projétil de uma bala disparada por ele mesmo, em um terrível atentado contra sua própria vida. Pelo menos é o que disse o boletim policial.

   A sua ausência é dolorosa, a partida inexplicável...

   Quanto a seu nome: Daniel Mastral, era um nome artístico. Perdoe-me por não revelar aqui o seu verdadeiro nome de batismo, ele nunca o fez, vou respeitar sua vontade de não revelá-lo. A sua história pessoal é carregada de dor, luta, sofrimento, vitória, perda, enfim, ele foi um guerreiro até o fim. O seu testemunho de vida é belíssimo, resgatado dos porões obscuros do ocultismo e satanismo, o filho do fogo como era conhecido, para se tornar um filho da luz, no evangelho de Cristo. Teve um primeiro casamento com uma médica, um filho magnífico. Daniel tinha muitos conhecimentos do mundo oculto, segredos que eram estarrecedores, coisas que ninguém nunca imaginou, ele trouxe ao conhecimento do seu público. Episódios que vivenciou quando estava na alta magia. Ele também publicou esses segredos nas entrelinhas de seus romances. As coisas que Daniel falava em suas entrevistas davam arrepios, bem como nos livros, eram pesadas, por diversas vezes revelando estar sob ameaças de morte por revelar segredos da alta cúpula ocultista. 

        A vida lhe deu duros golpes...

       O filho único, adolescente, teve que enfrentar o gigante da depressão, lutou muito junto a família, porém, houve o trágico dia em que não suportando a dor, o jovem de quinze anos tirou a própria vida. Perder o filho foi como se uma espada fosse cravada no coração dos pais. Tempos depois, veio o falecimento da esposa. Essas marcas, ou melhor, feridas que não cicatrizam, quase o derrubou, ele também lutava contra esse monstro da depressão. Daniel casou-se novamente, constituiu nova família, teve outro filho. Enfim, tudo parecia bem... Acontece que, para quem sofre de depressão, tendo perdas tão dolorosas, se não tiver muitíssimo apoio de todos os lados, não se recupera facilmente, às vezes o sorriso não é a representação de alegria, mas, de puro desespero. Daniel, segundo o que consta das autoridades policiais, suicidou-se, entretanto, quem o conhecia de perto não consegue aceitar que ele se matou... Eu também não, quanto a verdade dos fatos, quem saberá? O que se vê e ouve na mídia nem sempre corresponde com a verdade. Teorias se erguendo de todos os lados, quanto a verdade... A verdade ele a levou consigo para o túmulo. 

       Mastral foi um escritor sem igual, com inúmeros títulos que o projetou nacionalmente, livros cujas temáticas giram em torno do que ele vivenciou. Entre os títulos de seus livros estão: "Filho do fogo", ele também escreveu, "A história de Mithry", "Guerreiros da Luz", "As sementes do mal", "Catedral das sombras", "Voz do que clama no deserto". Enfim a lista é longa e não vou me recordar de todos os títulos. A sua partida vai deixar saudades entre aqueles que o amavam, admiradores espalhados pelo Brasil, este que vos escreve é um deles.


domingo, 4 de agosto de 2024

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


      

      RABISCOS NO PAPEL.


   O silêncio profundo na manhã de domingo...

   O silêncio profundo... Nada parece se importar, enquanto todos se tornam ausentes, distantes, apenas o frio soprando por debaixo das portas, nas frestas das janelas, em cada canto.  Eu também sou inconstante, e de repente, me vejo sem lugar... Talvez seja o abismo existencial me corroendo por dentro, o tempo todo, todo o tempo.

    O Silêncio profundo continua em seu mergulho no oceano de palavras que nunca foram ditas. O beijo quente que nunca aconteceu, o perfume suave, o toque mágico, quente, ardente, que me enlouquece todas as vezes.  A vida tomou o palco das nossas mentes fantasiosas, mentes insanas, e a fantasia por sua vez, fez da vida um teatro de sombras.

        É domingo.

        Silêncio.

        Nada podemos dizer, entretanto, no palco da imaginação tudo podemos fazer. O café está servido. Derramo um pouco em minha xícara, o vapor da fumaça subindo, tremulando, dançando, rodopiando diante de meus moribundos olhos. Bolachas, pães, pizzas do dia anterior, degustar o café quente, saboroso. Talvez seja esse o destino, mas, afinal, existe mesmo o destino? Seria ele o responsável por criar tudo a seu bel prazer? Às vezes penso que, nós somos os sabotadores do tempo e da vida, tanto das lutas quanto das derrotas acumuladas. Não quero ficar pensando em meus desgraçamentos, na minha vivência maluca e sem sentido. Poeta da solidão que eu me tornei nestes anos. Tendo apenas o sorriso de uma admiradora, os olhinhos ligeiramente puxados debaixo de um gracioso óculos, filha de Júpiter, jovial, sempre atenta com o que escrevo.

      O silêncio profundo na manhã de domingo, os pássaros cantam do lado de fora, a natureza festeja, os homens choram, somos o que desejamos ser, mas, aquilo que desejamos ser não corresponde com o quê de fato deveríamos nos tornar.

    Somos sucessivos aos erros e tentativas, até que haja um ponto certo na imensidão das nossas falhas. Livra-nos ó Deus, livra-nos de nossos eus, de "meus eus", é domingo, finalmente, silêncio momentâneo.

Me sirvo de café pela segunda vez enquanto escrevo essa crônica, à fumaça bailarina sobe rodopiano, o cheiro gostoso do café invade as narinas. Sentado em uma cadeira, estico as pernas para alcançar a outra, 'é minha posição preferida', sigo na incessante busca de qualquer coisa que alegre o coração, e que também diminua a dor da alma.

       É dia de folga,

       Portanto, angústia seguida de descanso e consequentemente, angústia após o descanso, uma vez que, 'minha ansiedade', o meu sofrer 'antecipadamente', me faz triste, menor a cada dia. Não desejo me alongar, o muito falar causa enfado, ainda está silêncio… Ah, que pequeno paraíso terrestre, pena que, daqui a pouco, será maculado com o som de uma cidade que acorda enfurecida.

           Com pressa… 

           Vamos, andem…

           Estou atrasado…

           Buzinas para todos os lados...

           Sai da frente…

           É a cidade despertando, os vizinhos brigando, assim continua o movimento de cada dia. Quisera eu as glórias passadas, os meus dias de infância na fazenda Lindóia, em cima do pé de jambo, o tempo áureo aprisionado na memória… O tempo não volta mais, nunca mais caríssimos, nunca mais....

        Contudo, o meu tempo nunca mais será logo ali na próxima esquina, ou em qualquer outra ,aliás, quem sabe, se dessa vez o destino não me valer, meu silêncio se tornará profundo e eterno, e as minhas palavras serão apenas rabiscos no papel.



sábado, 3 de dezembro de 2022

Crônica de domingo.

 



INSPIRAÇÕES DO CLAUSTRO.


   PARTE  FINAL.


   A primeira impressão que eu tive do seminário foi arrebatadora, todo o conjunto arquitetônico era de uma beleza sem igual, em cada detalhe, cada tijolo,  tudo era magnífico. No seminário de Arujá fiquei em um alojamento pequeno, por nome, cela. Um pequeno quarto, uma cama, banheiro, e um guarda roupas igualmente pequeno, tudo compacto e simples. A casa maior, ou, seminário maior, era um prédio extenso, de quatro andares. Onde também havia salas de aulas e todos os alojamentos.

 No dia seguinte, fomos despertados às seis da manhã, era regra, igualmente no exército, tínhamos que fazer a barba todos os dias, deixar a cama arrumada e lençóis dobrados. Feito isso, íamos para a capela, fazíamos as orações iniciais, logo em seguida era a missa, toda em latim, para somente depois desfrutarmos do café da manhã. Tudo era feito com ordem e decência. Era como se fossemos pequenos soldados.

   Inicialmente, a formação obedecia o seguinte rito. Começava com o candidatado, com duração de três meses. Depois o noviciado; foram dois anos de formação em humanidades, em Arujá ou Curitiba. Concluído esse período, o seminarista teria que viajar para fora do país, provavelmente Espanha, em Salamanca, onde se formaria em Filosofia. Passada essa fase, o seminarista era direcionado para Roma, na Itália, ali teria a fase final, cinco anos de estudos e formação teológica. Basicamente, esse é o cronograma para formação sacerdotal do legionário. 

   Eu não passei da primeira fase, no qual abrangia os três meses iniciais. Embora eu os tenha concluído, não tive autorização para continuar. Os padres me disseram que eu deveria voltar para minha casa e repensar e voltar depois de um ano, caso ainda tivesse certeza da vocação, um ano depois poderia retornar. Na época eu morava com a minha avó, ainda não havia concluído o terceiro colegial. Eu tinha convicção da minha vocação, não compreendia a negativa deles.

   Aceitei, triste é claro, mas não havia o que fazer. Retornei para casa da minha avó, dela, recebi o abraço e o olhar acolhedor de quem sabia que por detrás daquele rostinho cabisbaixo tinha um coração machucado. Os amigos fizeram mil piadas, tive que aguentar tudo. A vida voltou ao seu normal no início daquele ano, escola, trabalho, aos poucos eu fui compreendendo que realmente eu deveria me reavaliar. É claro que foi uma ótima experiência de vida, os ensinamentos que tive, as aulas, as amizades, está tudo no cofre do peito. Agradeço a cada um dos que fizeram parte da minha vida naquele período tão maravilhoso.

   A minha vida seguiu por trilhos bem diferentes depois do seminário. Um ano após ter voltado, eu mudei de religião, o retorno ao seminário jamais aconteceria, mas, os ensinamentos que tive levo-os para a vida toda, ainda nos tempos de hoje lembro-me da oração do pai nosso em latim. A nova religião não me afastou de ninguém, nem me mudou, pelo contrário, continuei com os mesmos amigos nos círculos católicos. A minha mãe é ministra na igreja católica, assídua frequentadora, minha avó também. A vida seguiu o seu curso, tenho apenas que agradecer por tudo. Que o altíssimo abençoe grandemente cada padre, amigos, seminaristas que nunca mais vi. Tenho-os em meu coração, e uma saudade que não cabe no peito. Eu poderia estender essa crônica por muitas outras semanas, contando detalhes das vivências, das descobertas, dos micos e coisas engraçadas que ocorreram, porém, vejo por bem terminar por aqui, quem sabe em outra oportunidade eu volte a falar dessas, aventuras e desventuras desse que vos escreve.

    ( Ut benedicat tibi Deus omnia. )


domingo, 27 de novembro de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 



INSPIRAÇÕES DO CLAUSTRO.


   PARTE 2.


   A van estacionou em frente a casa da minha avó, era o fim de tarde do domingo, o relógio escalava as horas enquanto o sol declinava no horizonte, ficando os últimos lampejos. Minha tia foi quem me chamou, dizendo que os padres haviam chegado, eram dois rapazes bonitos e altos, disse ela. Eu terminei de revisar minha mala, estava muito ansioso. Os dois padres desceram as escadas que davam acesso a casa da minha avó, que ficava ao fundo. Eles estavam descontraídos, risonhos e alegres, como da primeira vez em que vieram me visitar. O meu coração batia em descompasso, lá no fundo da minha alma despontava uma fagulha de medo e incerteza, de repente, eu poderia estar me precipitando, porém, tratei de sufocar aquelas ideias insanas no calabouço da mente.

   "Pronto para uma nova jornada em sua vida?Essas foram as primeiras palavras do padre Juan, "Sim, claro", respondi, repetidamente, entre sorrisos tímidos. Na casa da minha avó estavam presentes minha mãe, prima, tia, tio, enfim, uma galera. Depois de alguns minutos de conversas, peguei a mala, me despedi de todos, lágrimas e abraços. Ganhei a rua, para minha surpresa, todos os vizinhos saíram na calçada para um último aceno ao jovem que pretendia dedicar sua vida ao sacerdócio e serviço a Deus. Meio que sem querer, escutei de algumas colegas, que ali figuravam entre os vizinhos, os dizeres do tipo: " tão novo e vai ser padre", e, "nossa, que desperdício". Não dei atenção para aquelas palavras, porém, nunca as esqueci.

   Seguimos viagem rumo a cidade de Arujá, eu estava ansioso para chegar, imaginei que era logo ali, como fui ingênuo, era um trajeto cansativo, tornou-se mais por não conhecê -lo. Lembro-me apenas da rodovia presidente Dutra, o relógio escalou lentamente as horas, aos poucos o nervosismo foi passando, a mente trabalhando enquanto refletia na minha decisão. Em determinado momento, a luz do sol declinou no horizonte, a escuridão estendeu os seus longos braços, as estrelas cintilavam no céu, eu não sabia exatamente onde estávamos. De repente, saímos da rodovia e entramos em uma rua de terra, estreita, caminho tortuoso, com subidas e descidas, ladeado por matas densas de ambos os lados.

   Confesso que fiquei com medo, pensando onde estaria me levando, foi quando então a luz do veículo se deparou com um grande portão de ferro fixado em duas colunas de tijolos vermelhos. A parte de dentro era toda em pedra, semelhante a ruas de algumas cidades históricas, lajotas de pedras em formato hexagonal. O caminho tinha uma leve subida com uma curva acentuada à direita. Um dos padres abriu o portão, entramos, o meu coração voltou a bater descompassado, quando o veículo terminou a subida virando a direita, descortinou-se diante dos meus olhos o seminário Legionários de Cristo. Embora a noite, as luzes, a capela principal, o restaurante, os aposentos dos novatos, recém chegados, como eu, havia outro complexo maior onde ficavam os seminaristas. Fiquei maravilhado com o que se desenhava diante dos meus olhos. Entramos no refeitório, eu e os dois padres fomos servidos com uma pequena refeição servida por outro padre, afinal, não havíamos jantado. O passo seguinte foi me levar até os meus aposentos. Eu finalmente seria um padre, pensei.


   

domingo, 20 de novembro de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.




 INSPIRAÇÕES DO CLAUSTRO.


   PARTE 1.


   O ano não me lembro com exatidão, talvez 1997, possivelmente isso. Na época eu estava no colegial, segundo ano, provavelmente, perdoe-me a terrível falta de memória. Na ocasião eu estudava na escola Honorina Rios de Carvalho Mello, uma boa escola, com professores excelentes, uma diretora linha dura como costumávamos chamar, Fernanda era o nome dela, sempre atenta a todos os detalhes. A escola ficava na cidade de Alumínio, bairro progresso.

    Naquele momento singular da minha vida, na aurora dos meus dezesseis anos, descortinou para este que vos escreve, a religiosidade. Imagino que por influência da minha mãe e avó, sempre de bíblia e terço nas mãos. Nunca fui um adolescente inclinado para bagunças, rebeldias ou qualquer coisa do tipo. Desde os onze anos que passei a morar com o meu avô, minha vida era escola e trabalho, uma educação quase militar do meu avô me direcionou para os movimentos religiosos do catolicismo da época.

     Aos poucos, o desejo eclesiástico foi aflorando dentro da minha alma, como uma semente que nasce e vai crescendo lentamente, assim foi o desejo pelo sacerdócio católico dentro da alma. Era o que eu queria naquele momento, foi tão forte que eu não consegui segurar. Falei com os meus avós, na época eu morava com eles, contei-lhes das minhas intenções religiosas. No primeiro momento ficaram sem entender, duvidando eu acho, adolescente ainda, parecia muito precoce para ter tais inclinações. É claro que havia outros desejos trancados na caixa do peito " mais tarde falarei deles". Comunicado a todos, comecei a procurar por um seminário. Redentoristas, Carmelitas descalços, seminário diocesano de Osasco, por fim, meio que ao acaso, encontrei um que me agradou demais. Legionários de Cristo na cidade de Arujá, um belíssimo seminário com uma estrutura excepcional.

  Feito os primeiros contatos, as conversas iniciais, agendei com os padres uma visita em minha casa, que foi muito agradável e produtiva, na época eu morava com os meus avós, na cidade de Alumínio, vila Brasilina. Como dito anteriormente, eu deveria ter meus dezesseis, se não me falha a memória, estava no colegial, trabalhava meio período no supermercado do meu tio, a expectativa de um mundo novo tomou conta de mim. Semanas depois, veio uma carta dos padres aceitando minha admissão no seminário, mandaram a lista do que eu precisava, roupas, camisas, calças sociais, enfim, tudo deveria de ser identificado com as iniciais do meu nome. O dia de ir embora para a nova vida, 'religiosa', se aproximava, eu já respirava ares de um seminarista, os meus familiares começaram a levar a sério a minha decisão, a minha avó, católica assídua, integrante da legião de Maria, era uma felicidade só. Os meus pais, na ocasião, residiam Minas Gerais, devido a essa minha decisão, resolveram mudar para São Paulo, chegariam antes da minha partida.

     A minha família, na grande maioria católica, teriam um membro padre, eram as rezas de minha vovó e mãe sendo atendidas, diziam alguns primos. Mamãe havia chegado de Minas, não se cabendo de alegria, abraços e beijos no seu "futuro padre". Comecei a organizar as camisas brancas, calças sociais pretas, cuecas, meias, toalhas, tudo pronto e identificado, mala feita. Era o final de ano, figuravam os primeiros dias de férias. Uma vez no seminário, dando tudo certo, eu faria o terceiro colegial na escola do próprio seminário. O dia chegou, os dois padres que vieram me visitar anteriormente, retornaram, estavam prontos para levar o adolescente desejoso em retornar como padre, vieram em uma Van. Despedidas, abraços, lágrimas. A face iluminada da minha avó e mãe, de uma alegria e orgulho que não cabiam nelas. Um último aceno, o adeus de um adolescente determinado a retornar como sacerdote. 


   

MOSAICO DE SENTIMENTOS NUS.

      As janelas do castelo estavam abertas, escancaradas ao público de modo que era possível ver dentro do próprio reino.      Nos recôndit...