domingo, 8 de maio de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO

 



              LITERATURA A CONTA GOTAS.


    

    Última semana antes da primeira audiência judicial - em cinco anos - isso mesmo, cinco longos e intermináveis anos, que, pareceu-me uma eternidade. Do meu desligamento da empresa até a data dessa primeira audiência de instrução muitas coisas aconteceram. Só relembrando, a empresa em que trabalhei por quinze anos, companhia brasileira de alumínio, que tinha por dono o saudoso doutor Antônio Ermírio de Moraes, já falecido, é uma empresa metalúrgica no ramo do Alumínio. A maior do mundo no sistema integrado, onde se recebe a Bauxita, matéria prima, e passa por todos os processos até se transformar no produto final.

   Ser desligado da empresa foi um tremendo choque para mim, eu havia passado por um procedimento cirúrgico um ano e três meses antes da demissão, enquanto ainda na empresa, fui realocado de setor e função para readaptação, por isso, eu não imaginava que seria demitido, porém, isso aconteceu e me pegou de surpresa, aliás, todos os meus conhecidos quando souberam ficaram de admirados e sem entender. Eu sabia que conseguir um novo emprego em uma fábrica seria praticamente impossível devido às minhas limitações. Naquele momento senti como se tivessem aberto um buraco debaixo de meus pés. Eu tive medo, angústia, incertezas, tudo escondido dentro de mim.

   Durante quase dois anos fiquei sem trabalhar, vivendo dos valores recebidos da indenização - esse foi o pior erro da minha vida - nesse período fiz reformas na casa onde estou morando, casa essa que nem é minha de fato - outro erro imperdoável - percebendo que os meus recursos estavam acabando, a minha esposa começou a fazer pães, bolos e doces para vender; e deu certo por um tempo. Foi então que veio outra tempestade... Ele descobriu que tinha doença mista do tecido conjuntivo, fenômeno de Reno, enfim, isso a limitava muito. Foi então que tomei forças onde não tinha e resolvi me arriscar trabalhar no mercado, exercendo meu antigo ofício de açougueiro. Consegui uma colocação em um determinado mercado, mesmo limitado devido aos problemas de coluna, com dificuldade fui me adaptando. Por três anos trabalhei nesse primeiro mercado, surgiu a oportunidade de entrar em outro supermercado, esse cinco minutos de casa, não pensei duas vezes. Estou nesse novo emprego há quase um ano, as dificuldades que encontrei aqui foram tão ou mais desafiadoras do que no primeiro mercado. Sem ter muitas opções, tenho que suportar a rotina massacrante, é questão de sobrevivência, no entanto, recentemente, depois de realizar novos exames na coluna descobri que a minha doença, 'degenerativa', progrediu, tanto que, está afetando fortemente o meu desempenho. 

    Confesso, estou cansado de trabalhar com o público, em mercado, é muito estressante. Voltar em uma empresa com todos os agravantes que carrego é quase impossível. Aquela primeira empresa em que eu trabalhei, na qual tenho um processo trabalhista em andamento. Espero que dê resultados positivos nessa 'primeira audiência', embora, minhas esperanças para tal sejam pífias. Os meus dias são assim, corridos e cansativos, mesmo com toda essa loucura encontro tempo para escrever. Não é nada perto do que realmente eu quero, por isso tenho que aproveitar ao máximo no pouco tempo que tenho disponível para dar vida ao mundo que existe aqui dentro de mim. Talvez um dia, quem sabe, eu possa viver única e exclusivamente para a escrita e nada mais. Por enquanto, minha literatura é a conta gotas.

domingo, 1 de maio de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO

 



                       FORTE BASTIANI.


Ainda sem um assunto definido para a crônica, comecei a pensar nos livros que eu tenho em casa, em cada título, em seus personagens e tramas. O momento que estou vivendo agora, por exemplo, em casa e no trabalho, me fez pensar em um título, que surgiu agora na memória, portanto, me sinto no próprio, "Deserto dos Tártaros", escrito por Dino Buzzati Traverso (San Pellegrino di Belluno, 16 de outubro, 1906 — Milão, 28 de janeiro, 1972). Quero falar um pouco desse belíssimo livro e do autor no espaço da crônica deste domingo.

Dino Buzzati foi um escritor italiano, bem como jornalista do Corriere della Sera. Sua fama mundial se deve principalmente ao seu romance - Deserto dei Tartari, de 1940, traduzido para português como O Deserto dos Tártaros. Dino Buzzati detém um estilo inconfundível,( que particularmente eu amo ) que não obedece a modas e etiquetas, explorando sempre uma visão fantástica e absurda do real. A sua obra está traduzida em inglês, francês, alemão e espanhol e difundida largamente em todo o mundo.

O escritor serviu ao exército e saiu como sargento. Essa experiência serviu para que escrevesse essa obra-prima antes da Segunda Guerra Mundial. Segundo o autor, o romance veio num jorro, numa madrugada quando voltava do jornal para casa. A ideia aconteceu na monotonia do turno da noite, quando trabalhava no Corriere della Sera, naqueles dias. A sensação da rotina que nunca acabava e consumia a vida do autor fez com que o romance acontecesse rapidamente. ( Quem nunca se viu engolido pela exaustiva rotina do trabalho... Eu que o diga ... )

A narrativa nos apresenta Giovanni Drogo, jovem tenente enviado ao forte Bastiani localizado em uma colina totalmente isolada do mundo, onde o Forte é erguido. Um grande deserto, absolutamente isolado de tudo e de todos. A princípio, Drogo nutre grandes expectativas quanto a nova função, pensando no esplendor da carreira, pronto a defender o forte. ( Todos nós temos o nosso forte Bastiani, onde nos isolamos das loucuras deste mundo ).

Quando Drogo chega no forte, admirado com suas muralhas e sentinelas, cheio de sonhos, o tenente Giovanni Drogo anseia pela glória militar no campo de batalha, e isso nunca aconteceu no Forte Bastiani. Apesar de alguns oficiais de idade tentaram animá-lo dizendo que os tártaros ainda estão lá se preparando para a guerra, e que a melhor atitude é esperar, esperar e esperar. Drogo encontra senão um lugar praticamente abandonado, parado. O tenente se vê frustrado, fadado ao esquecimento em um forte onde nada acontece. Entregue a solidão, a monotonia, em uma rotina que nunca termina, Drogo perde-se no tempo, sempre esperando que a qualquer momento o forte seja atacado, porém, o ataque nunca acontece.

Esse é um romance filosófico, que fala do tempo, de tudo que perdemos e deixamos de fazer quando somos acorrentados pela rotina contínua de afazeres que desbotam o viço da juventude. Se o romance perde em ação ganha em momentos de reflexão sobre a vida, o que parece familiar para quem já parou para pensar se nós estamos fazendo o melhor uso do tempo que temos na terra. Quem já não se sentiu como o próprio Drogo. Às vezes me vejo como ele, entregue ao meu forte Bastiani, fadado ao esquecimento, diante de almas mortas e olhos cegos. O autor tem uma narrativa fantástica. Esse é aquele livro que ao iniciar a leitura, não dá vontade de parar.

Acredito que todos nós, em algum momento de nossas vidas, temos experiências e sensações muito semelhantes a do personagem, todos somos Drogo em sua agonia existencial preso a rotina de um momento que aparentemente, parece não ter mais fim. Para aqueles que não leram, recomendo fortemente o livro.



segunda-feira, 25 de abril de 2022

POESIA.

 A xícara de café.


O líquido escuro na xícara vermelha, a fumaça subindo e

tremulando, ele a observa até que ela lentamente

   desaparece no ar, mil pensamentos rastejando em seus

   desavisados neurônios, terríveis desejos descontrolados.


   Outro pequeno gole da bebida escura exageradamente

    doce, ele completa a xícara uma vez mais, está confuso

    e inserto no que deveria de fazer, são possibilidades que

    lhe parece inviável, mas o desejo, é mais forte que ele.


   Sem que perceba, a xícara está vazia, e pela terceira vez

   derrama a fumacenta bebida, assopra, toma outro gole

   que lhe queima os lábios, no susto, derrama sobre a mesa.


    Enquanto a fumaça teimosa sobe dançarina se esvaindo

    no ar, os seus pensamentos estão nela, ele a ama, mas não

    pode se declarar a um amor cheio de impossibilidades.

domingo, 24 de abril de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO

           



                         FINAL DE TARDE.


   Desavisadas nuvens dispersas pelo azul celeste, tarde movimentada na rua da minha casa. Carros apressados que passam, buzinando, freadas bruscas em frente a lombada. Alguns motoristas são mais atentos e prudentes, mãos firmes no volante, passando na velocidade correta da via, outros, descuidados, dividem a direção com o celular ou uma lata de cerveja, quase batendo, quase atropelando. É a rotina do trânsito de todos os dias.

   Uma brisa suave começa a soprar, o sol lentamente vai descendo no horizonte, trazendo tons de vermelho e laranja incríveis, uma obra prima do criador. Todos os finais de tarde são pinturas em pleno céu, é de encantar o olhar de qualquer artista.

   De frente a minha casa tem uma creche, da sacada é possível ver quase todo o interior dela, espaços muito bem aproveitados, de uma arquitetura admirável. O barulho das crianças é intenso, correndo e gritando o tempo todo, deixando as funcionárias malucas. Gravei o nome de algumas crianças, que por terem os nomes tantas vezes repetidos considero os mais arteiros. O intervalo dos pequenos termina rapidamente, alguns carros começam a estacionar do outro lado da rua, acredito ser os pais de alguns deles chegando para buscá-los. Não é somente a creche que tem em frente a minha casa, outras duas escolas foram construídas abaixo da creche. Uma delas, "Osmar de Almeida", outra, "Hélio del Cistia", a segunda é a escola da minha filha. Então, os senhores leitores podem imaginar quão movimentada é a rua da minha casa. 

   Faces e sorrisos, mães que passam com os filhos sendo puxados, outros, sendo segurados para não atravessarem a rua. O movimento de carro se intensifica, à medida que os alunos da Escola Osmar de Almeida estão saindo. É um verdadeiro desfile de carros das mais variadas marcas e cores. Novamente a rua trava, buzinas, manobras, e no meio de tudo isso motos e mobiletes barulhentas. É impossível assistir alguma coisa nesse horário na sala de casa.

   O dia vai dando adeus, cedendo lugar ao começo de noite. A brisa antes suave começa a ficar fria, ardendo na pele. Os últimos raios de sol desaparecem, lentamente a noite estica os seus longos e escuros braços, trás consigo as primeiras estrelas, o frio é mais intenso.  A rua continua com movimento forte de carros, provavelmente motoristas que estão vindo do trabalho, apressados seguem caminho para suas casas.

   A noite chega, com ela o quase silêncio, a rua antes cheia de vida e de barulho agora cochila, exibe ainda alguns transeuntes oriundos da própria noite. A infinidade de estrelas cobrem o céu de um lado a outro. O que seria dessa tela escura sem a beleza reluzente de cada uma delas? A dama da noite não poderia ser outra. Luar majestoso que surge com toda pompa, em todo o seu resplendor. Não sei dizer qual tela é mais bela, a do fim de tarde ou da noite. Sei apenas que as obras do criador são perfeitas. As horas que passei na sacada de casa para escrever essa crônica foram maravilhosas... Ver, ouvir, sentir a vida pulsando em cada canto, em cada detalhe, terminarei dizendo que... O senhor é bom o tempo todo e o tempo todo o senhor é bom.





domingo, 17 de abril de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

         



           A HISTÓRIA DO PUDIM QUE EXPLODIU.


    Na minha modesta opinião, a culinária de nosso país é uma das mais ricas de todo o mundo. O motivo é que o povo brasileiro foi formado por uma mistura de raças e cultura de outros povos que no passado vieram para o Brasil. Crescia no  solo pátrio abundante riqueza, em todos os aspectos, uma das mais notáveis talvez seja a gastronômica. Temos bom gosto quando o assunto é 'comida'. Os nossos restaurantes e chefes culinários estão entre os melhores. De um simples prato do dia a dia a sofisticação dos grandes restaurantes, em nada ficamos para trás. Basta trazer pessoas de outros países para degustar as especialidades em nossos restaurantes que o resultado vai ser inesquecível para o visitante, digo sem sombra de dúvidas. É claro que muitas outras nações também são gigantes na arte de cozinhar, mas, como bom patriota que sou, tenho que defender e enaltecer nossa exuberante e magnífica cozinha, que, me atrevo a dizer, está entre as primeiras do planeta gastronômico.

     De Norte a Sul do país temos pratos que figuram entre os mais conhecidos, como exemplo da Feijoada, moqueca, acarajé, pato no tucupi, tacacá, baião de Dois, arroz com Pequi, arroz Carreteiro, feijão Tropeiro, paçoca de Carne Seca, barreado, galinhada, frango ao molho pardo, virado à Paulista, camarão na Moranga e por aí vai a lista, me foge o nome de tantos outras delícias. Cada Estado traz o seu próprio universo de opções de dar água na boca. 

Tempos atrás, eu participei de uma festa onde havia barracas com comidas típicas de cada Estado brasileiro, cada barraca apresentou, 'algumas', das comidas típicas dessas localidades. Foi sem sombra de dúvidas qualquer coisa sem palavras para explicar, confesso que fiquei perdido, boquiaberto com tanta coisa gostosa, o aroma era arrebatador, a beleza de cada prato uma obra prima da arte culinária. Naquele dia aproveitei ao máximo, comendo um pouquinho aqui e alí, ainda faltou algumas opções a serem degustadas, mas, eu estava tão cheio que não cabia mais nada. Que festa maravilhosa foi aquela...

    A arte de manipular os alimentos de modo a transformá-los em delícias vem do berço. A avó ensina para a mãe que ensina para a filha e assim por diante. Minha avó é uma cozinheira de primeira linha, descendente de italianos, aprendeu e ensinou várias das receitas de família. A minha mãe, por sua vez, aprendeu e ensinou à minha irmã várias receitas. Muitas ela aprendeu, outras, razoavelmente, mas, uma delas, na primeira vez que ela fez, meu Deus! Foi um desastre... É justamente a receita que deu título a crônica deste domingo. 'A história do pudim explosivo', é exclusividade da minha irmã. É isso mesmo que você está pensando, caro leitor, o pudim que minha irmã fez, seguindo toda a receita cuidadosamente, ao final, quando ela foi desenformar, ele simplesmente explodiu... Sim, explodiu... Que sujou toda a cozinha. Aquilo foi algo inacreditável, é claro que depois ela acertou e fez outros que ficaram perfeitos. Já o primeiro... Foi trágico, sempre me recordo do episódio quando me deparo com um pudim. Eu não mencionaria a história aqui, mas, eu não resisti, desculpa aí maninha, você sabe o quanto te amo.







domingo, 10 de abril de 2022

Crônica de domingo

 



DESISTIR JAMAIS.


    Trabalhar com o público é um grande desafio, um dos maiores eu diria. Não é nada fácil se despir de todos os seus problemas, dificuldades, dores, incertezas, angústias, colocar um sorriso largo no rosto e atender o seu cliente como se você fosse a pessoa mais feliz da face da terra oferecendo o melhor produto do mundo. Nem sempre, o que você está oferecendo é assim tão bom, no entanto, você tem que fazer parecer que é. As suas palavras, os seus gestos, todo o teu ser tem que passar para o cliente a confiança de que aquilo, ou aquele produto, é simplesmente sensacional.

    Durante muitos anos eu trabalhei em indústria, em uma metalúrgica para ser mais específico. Foram quinze anos em uma fábrica que produzia alumínio. O ritmo e a sistemática de uma fábrica é muito diferente de quem trabalha em comércio com público. No meu caso, eu trabalhava em turnos de seis por dois, ininterruptos.  Com uma equipe de doze pessoas que eram divididas nas tarefas relacionadas à demanda do dia. Não tínhamos que lidar com público, nem ter que oferecer nada para ninguém. Na maioria das vezes eu apenas eu em uma determinada máquina, o turno todo. 

    E claro que, o ambiente de uma fábrica não é dos melhores, em cada segmento tem os seus desafios e desgostos. Na época eu não tinha a compreensão nem a experiência de vida que tenho hoje. Se eu tivesse a mente de hoje naquele corpo jovem e saudável talvez eu teria ido muito mais longe. Mas, nem sempre as coisas são do jeito que queremos. Porém, hoje percebo quanto tempo eu desperdicei. Quantas não foram as oportunidades que deixei passar, se fosse possível voltar no tempo, mas, o tempo... O tempo é como um rio, não volta atrás.

    Depois que fui desligado da antiga empresa fiquei por dois anos parado, outra parcela de tempo perdido que não será possível recuperar. Devido a um processo trabalhista que abri contra a antiga empresa, fiquei com medo de ter um trabalho com carteira assinada e isso influenciar no ritmo do processo, tolo que fui, o processo simplesmente estagnou. Agora, está a passos de tartaruga, e sabe lá quando vou ter um resultado favorável dessa dura batalha. Foi então que depois de dois anos retornei ao mercado de trabalho. Meu antigo ofício, que aprendi quando adolescente, valeu para que eu conseguisse me recolocar profissionalmente.

    Três anos trabalhei em um supermercado, balcão de açougue. Saí recentemente, estou a seis meses em outro supermercado, novamente, balcão de açougue. Não é o tipo de profissão desejada, pelo contrário, ninguém quer, no entanto, não é uma profissão que se paga tão ruim assim. Trabalha-se muito, público exigente, labuta exaustiva e interminável. É sempre a mesma coisa todos os dias. O desafio maior talvez seja o de ligar com as pessoas, sorrir para elas quando na verdade a vontade é de chorar. Enfim, nada é tão fácil como, às vezes, se parece e nem tão difícil que não possa ser feito. Dedicação e amor é o segredo dessa profissão tão singular como é em qualquer outra. O segredo é não desistir jamais.

domingo, 3 de abril de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

         



            O SEU E O MEU DIREITO DE DIZER.


Dialogar ideias nunca foi tão perigoso como está sendo agora. Vivemos em uma época em que a simples manifestação de pensamentos tornou-se um risco iminente à integridade moral e por vezes até física. É necessário ter cautela em certas afirmações e posicionamentos, visto que, certas ideias não serão aceitas por outros, que impedirão o livre direito do outro de dizer ou até mesmo discordar da opinião contrária no que desrespeito aspectos sócio cultural. Veja que iniciei o texto com a palavra, "dialogar", e não, "discutir", ou seja, trocar, civilizadamente informações sobre acontecimentos ou assuntos sejam quais forem, notícias, política, arte, enfim, uma boa e velha conversa sem o medo de ser enxotado ou mesmo agredido. 

A coisa está a um nível tão crítico que, às vezes, tenho medo de simplesmente dizer ou apontar um direcionamento para alguém na rua, como por exemplo: 'Olha amigo, vá para a direita ou para esquerda'... A simples menção das palavras citadas, (direita) e (esquerda), em determinados momentos pode trazer transtornos terríveis. Piada a parte, parece absurdo o que estou falando, porém, não é nada fora da realidade considerando tudo o que já tá acontecendo. Vivemos em uma sociedade totalmente diferente nesses novos tempos, os valores que em outros momentos eram tão almejados,  agora, foram abandonados e considerados agressão à liberdade de escolha de alguns grupos.

Eu quero acreditar que existe uma luz no final desse túnel escuro, quero muito acreditar nisso, mas... Ao que parece a extensão do túnel é interminável, não há nenhuma possibilidade nem que seja a mais remota de um resquícios de luz. Vivemos na mais completa escuridão, em todos os sentidos e segmentos. Quantas não são as atrocidades praticadas diariamente sem que ninguém tome uma atitude para frear os absurdos. A natureza humana destas últimas décadas tornou-se mais leviana e caída do que a destruída em Sodoma e Gomorra. O homem está embriagado com o vinho de sua insana rebeldia, andando por aí, cambaleando, atentando contra a moral e os bons costumes enquanto a grande maioria dos demais terráqueos estão apenas assistindo o caos sem poder e  querer fazer alguma coisa. Basta apenas você ver em qual lado se encaixa. Ou é dos que não pode, por inúmeros motivos que não vou mencionar aqui, ou dos que não quer, também por outros tantos motivos obviamente claros.

Alguns homens me dão medo, por exemplo: quando me perguntam sobre política, em qual opção é a melhor para o Brasil, fico, por uns segundos, em modo analítico, suspenso, sem saber o que dizer, tentando entender quem me questiona para então responder sem o perigo de ser "esculhambado", sim... Digo exatamente pelo fato de já ter passado por essa situação desagradável, exatamente quando tentei 'dialogar' quando a outra pessoa queria, na verdade, apenas uma discussão ríspida e até agressiva.

... Posso até não concordar com o que me dizem, mas... Defenderei até a morte o seu direito de dizer... Levo esse princípio filosófico comigo. O sentido mais profundo e amplo desse pensamento é o diálogo, civilizado e amigável, independente da posição ou do assunto abordado.





CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...