domingo, 3 de abril de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

         



            O SEU E O MEU DIREITO DE DIZER.


Dialogar ideias nunca foi tão perigoso como está sendo agora. Vivemos em uma época em que a simples manifestação de pensamentos tornou-se um risco iminente à integridade moral e por vezes até física. É necessário ter cautela em certas afirmações e posicionamentos, visto que, certas ideias não serão aceitas por outros, que impedirão o livre direito do outro de dizer ou até mesmo discordar da opinião contrária no que desrespeito aspectos sócio cultural. Veja que iniciei o texto com a palavra, "dialogar", e não, "discutir", ou seja, trocar, civilizadamente informações sobre acontecimentos ou assuntos sejam quais forem, notícias, política, arte, enfim, uma boa e velha conversa sem o medo de ser enxotado ou mesmo agredido. 

A coisa está a um nível tão crítico que, às vezes, tenho medo de simplesmente dizer ou apontar um direcionamento para alguém na rua, como por exemplo: 'Olha amigo, vá para a direita ou para esquerda'... A simples menção das palavras citadas, (direita) e (esquerda), em determinados momentos pode trazer transtornos terríveis. Piada a parte, parece absurdo o que estou falando, porém, não é nada fora da realidade considerando tudo o que já tá acontecendo. Vivemos em uma sociedade totalmente diferente nesses novos tempos, os valores que em outros momentos eram tão almejados,  agora, foram abandonados e considerados agressão à liberdade de escolha de alguns grupos.

Eu quero acreditar que existe uma luz no final desse túnel escuro, quero muito acreditar nisso, mas... Ao que parece a extensão do túnel é interminável, não há nenhuma possibilidade nem que seja a mais remota de um resquícios de luz. Vivemos na mais completa escuridão, em todos os sentidos e segmentos. Quantas não são as atrocidades praticadas diariamente sem que ninguém tome uma atitude para frear os absurdos. A natureza humana destas últimas décadas tornou-se mais leviana e caída do que a destruída em Sodoma e Gomorra. O homem está embriagado com o vinho de sua insana rebeldia, andando por aí, cambaleando, atentando contra a moral e os bons costumes enquanto a grande maioria dos demais terráqueos estão apenas assistindo o caos sem poder e  querer fazer alguma coisa. Basta apenas você ver em qual lado se encaixa. Ou é dos que não pode, por inúmeros motivos que não vou mencionar aqui, ou dos que não quer, também por outros tantos motivos obviamente claros.

Alguns homens me dão medo, por exemplo: quando me perguntam sobre política, em qual opção é a melhor para o Brasil, fico, por uns segundos, em modo analítico, suspenso, sem saber o que dizer, tentando entender quem me questiona para então responder sem o perigo de ser "esculhambado", sim... Digo exatamente pelo fato de já ter passado por essa situação desagradável, exatamente quando tentei 'dialogar' quando a outra pessoa queria, na verdade, apenas uma discussão ríspida e até agressiva.

... Posso até não concordar com o que me dizem, mas... Defenderei até a morte o seu direito de dizer... Levo esse princípio filosófico comigo. O sentido mais profundo e amplo desse pensamento é o diálogo, civilizado e amigável, independente da posição ou do assunto abordado.





domingo, 27 de março de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 



                      TUDO É MOMENTO.


   Acordei às seis horas da manhã, é parte da minha rotina nesse novo ano. A escola da minha filha fica a cem metros de casa, o que me permite levá-la sem carro. Minha esposa também ajuda, na verdade, ela é quem levanta primeiro e prepara o café. Um pequeno lanche e  achocolatado para acompanhar, é nossa rotina de todos os dias. Terminado de fazer o lanche, minha esposa volta a dormir, é nesse ponto que eu entro em cena, minha parte é levar minha princesa até a porta da escola. No retorno eu tomo caminho da padaria, que é perto, relativamente à mesma distância da escola, só que no caminho contrário. Vou a passos lentos.

   Compro sempre três pães, não mais do que isso, é sempre a mesma quantidade todos os dias. Essa passou a ser outra rotina. Nesses pequenos trajetos gosto de ficar observando as pessoas, seus rostos, fisionomias distintas, cada um a seu jeito. Sorrisos e gentilezas de uns, rostos fechados de outros, cada um à sua maneira. A padaria é o ponto de encontro de muitas pessoas, algumas prontas para o trabalho, passam, trocam meia dúzia de palavras e saem, outras estão retornando, essas, desejam apenas um café e irem logo para suas casas descansarem.

   Retorno para casa a passos lentos, a cabeça martela muitos pensamentos aleatórios, lembranças de tempos passados, vivências que eu desejaria muito que voltasse. Porém, o tempo não para, não volta atrás, é sempre contínuo e constante. Houve uma época em que eu trabalhei em uma metalúrgica, há alguns anos atrás, nessa época, quando eu saía do turno da noite, fazia a mesma rotina que muitos fazem hoje na padaria mencionada. Observando-os, vejo quanta falta faz àquilo que na época me parecia tedioso. É natural de nós seres humanos, falhas criaturas, desprezamos o momento presente, para no futuro, em outras situações, percebermos o quanto perdemos.

   Quem me vê caminhar, a passos contados, nota que não estou bem. Não é exatamente um problema de saúde, dor ou coisa do tipo - embora, verdade seja dita, estou sim doente e com dores, mas não quero falar sobre isso agora - Acontece que meus problemas são de ordem psicológica, interna, está lá no mais profundo, no âmago da alma. É uma dor diferente de todas que já senti, é uma sensação estranha. Às vezes, eu olho para as pessoas, as coisas, é como se nada disso estivesse ali... Eu sei que é maluquice, mas é assim que eu me sinto.

   Chego em casa e deixo os pães na mesa da cozinha e volto para a cama na intenção de aproveitar um pouco do que restou do sono. Logo mais terei que me levantar, e outra tediosa rotina acontece. Todos os dias sempre a quase insuportável repetição. No entanto, não posso reclamar, ainda que a vida em si, a minha, pareça estar à beira do abismo em todos os aspectos que vocês puderem imaginar, tenho que viver como se tudo estivesse perfeitamente bem. Essa falsa alegria, o falso sorriso, minha falsa maneira de viver alegre está prestes a mudar, eu sei que sim. Mesmo porque, tudo é momento, nada dura para sempre.



domingo, 20 de março de 2022

Crônica de Domingo.

 


                FANTASMAS LITERÁRIOS.


   Não é algo fácil começar uma crônica, buscar o assunto certo, colocar as palavras que estão vagando lá dentro para fora. Expressar o mundo interior em um curto espaço que é o disponível neste amado gênero tão brasileiro. Dizendo assim parece simples, mas acredite, não é... Acontece que esse mundo aqui dentro pertence ao ficcionista, o romancista, não ao cronista. Basicamente quem trabalha com esse tipo de texto tem de ser conciso, trabalhar em assuntos que versam com acontecimentos do presente e deixar de lado os muitos personagens que ficam gritando o tempo dentro da cabeça, dizendo mil coisas. Parece loucura o que estou dizendo, e na verdade é, porém, é um terrível privilégio esses fantasmas literários.

    Voltando ao tema da crônica, não sei, ou melhor, não tenho a mínima ideia do que eu vou falar. Todos os possíveis assuntos me parecem tão repetitivos, como se eu estivesse dizendo a mesma coisa sempre, um papagaio tagarela. Apesar de que o mundo não me oferece muitas opções; guerra, política, corrupção, eleições, enfim, temas nada agradáveis de se digerir, há quem goste, quem escreva sobre esses assuntos, e  admiro muito cronistas políticos, artigos de geopolítica, economia. Embora a mídia seja um prato cheio para se beliscar, do outro lado, termina por oferecer pratos tão mais corrompidos quanto os assuntos abordados. Basta assistir o primeiro noticiário e pronto, nada de novo debaixo do sol, todos os outros falaram a mesma coisa em momentos diferentes. A pauta é sempre a mesma para todos, mudando somente a ordem. Por esse motivo não gosto de ficar falando sobre tais assuntos.

   Não sei ainda o que dizer, na verdade eu quero escrever sobre qualquer assunto aleatório, sem temas específicos.

   Talvez eu diga sobre os sentimentos do coração.

... Confuso e teimoso coração que fica vagueando sem saber o seu destino, marinheiro dos sentimentos alheios, buscando mares nunca antes navegados. Sou uma vítima desse torturador de almas, carrasco e algoz, sempre machucando o peito em badalas desconcertantes. Talvez eu seja um eterno sofredor, derramando lágrimas por onde passava, espalhando os seus rastros de solidão e palavras aleatórias, talvez... Sou intenso na medida do próprio desespero existencial, buscando o incompreensível. A vida se tornou em uma eterna procura de qualquer coisa impossível de se achar. O coração é cheio de mistérios, terra de ninguém como dizem por aí. Será mesmo? Fico pensando nestas coisas, sentimentos que nascem repentinamente, bastando um olhar, um sorriso, ou a sonoridade da voz. Eu já busquei compreender esse órgão que batalha dentro do peito, quantos não foram os poemas em que me debrucei na tentativa de entendê-lo... Foi em vão, eu sei, por mais que eu me esforce, e coloque todo o meu intelecto na tentativa de esquadrinhá-lo, percebo como estou sendo feito de tolo, por fim, termino como dominado ao invés de dominador. A palavra é a ilusão de que se tem uma saída, quando na verdade não há...

   Esse é o tipo de texto, palavras vagando dentro de mim nesse momento. Nada do que pede uma autêntica crônica. Enfim, hoje, por não ter exatamente um assunto definido para lhes oferecer, acabei por ficar - como se diz no ditado popular - enchendo linguiça. Espero que na próxima semana esse tagarela tenha assuntos mais robustos para vocês.


domingo, 13 de março de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO

 


         " MAIS ATITUDES E MENOS PALAVRAS".


"Não sei mais o que fazer para agradar a pessoa amada".

Quem nunca escutou essas palavras, seja de um amigo, colega de trabalho, na faculdade, enfim, em algum momento da vida você já escutou essas 'reclamações', se é que posso definir desse modo. Outra frase clássica é a seguinte: "Eu faço de tudo e não sou reconhecido e nem valorizado".

Tornou-se comum tais frases e outras tantas mais. Porém, quero deixar bem claro que minha abordagem é apenas uma análise de fatos ocorridos para ambos os lados. Estou me baseando nas palavras que muitos homens escutam das suas mulheres. Eu mesmo sou um entre tantos anônimos. ( Não escutamos por sermos injustiçados, mas, por que erramos e não percebemos nossos erros).

Permita uma explicação breve, dos pecadores, sou muito mais dos que erram, por falta de atitudes do que os que erram pelos excessos. A coisa é simples de entender, existem dois tipos de pessoas. As que erram tentando acertar, e as que erram por errar. No final das contas são todos igualmente pecadores, navegantes no mesmo mar de erros. Quando falamos de erros, em geral é mais cômodo apontar o dedo para frente do que para si mesmo. Hoje vou fazer diferente, o meu dedo está acusando aquele cara refletido no meu espelho.

A segunda frase da crônica entre aspas é complemento da primeira. Então, o certo seria dizer: "Eu faço de tudo e não sou reconhecido e nem valorizado, não sei mais o que fazer para agradar essa pessoa". Veja que a amada foi retirada da frase, não por esquecimento, mas por ser exatamente assim é que eu a escuto com frequência. Quando digo escuto, é porque sou o enquadramento do pecador que erra por ser um completo incompetente... É isso mesmo que você leu, caríssimo leitor. Farei desse texto meu chicote de flagelo.

Não sou o tipo de esposo que chega tarde em casa, não sou dado a bebidas, não tenho vícios com cigarros e nada do tipo. Sou o tipo de pessoa que conhece apenas o caminho do trabalho para casa. Não sou de sair com amigos para o futebol, nem pescarias. Sou extremamente caseiro. Quando posso, ajudo na casa, cozinhando, lavando louça, o básico. Para muitos não há nada de errado nisso.  O meu único passatempo é a literatura, meu ofício de escrever e de ler. Então você me pergunta: " O que há de tão pecador e errado nisso?". Tudo... Na ótica conjugal 'tudo'. Já explico.

O fato de garantir o sustento da casa, pagar as contas, não ser dado a bebidas e tal, não é o suficiente, acredite... Não é. Temos que ser muito mais. A mulher deseja ser surpreendida, amada, valorizada como ele merece ser. Às vezes, somos levados a um comodismo perigoso, nós esquecemos de coisas pequenas que fazem toda a diferença. Uma rosa, um perfume, levar ao restaurante, não se esquecer de datas. Enfim, são tantas coisas que poderíamos fazer e não fazemos que isso vai deteriorando o casamento. Eu poderia dizer muito mais coisas, porém, cada um tem a sua realidade, e, mais do que dizer é fazer. Aprendi que as pequenas atitudes são mais poderosas do que mil palavras de amor. Perfeito nós não somos, por isso, nos esforçamos para uma melhoria contínua em nossos relacionamentos.





sexta-feira, 11 de março de 2022

RESENHA

 



Clive Staples Lewis ou, simplesmente, CS Lewis, nasceu na Irlanda, em 1898. Perdeu a mãe bastante cedo e isso foi o motivo de inúmeros questionamentos surgirem nele. Durante a juventude, participou da I Guerra Mundial. Durante boa parte da vida se considerou ateu e isso fez com que tentasse se afastar de tudo relacionado a Deus.

Após ler várias obras de autores que admirava, como Santo Agostinho, Dante Alighieri, Santo Tomás de Aquino e G. K. Chesterton, percebeu que não eram apenas religiosos, como profundamente cristãos. Aliás, foi após ler um dos livros deste último e depois de várias conversas com seu amigo J. R. R. Tolkien, que finalmente se tornou um cristão.

Lewis já era escritor e, após a conversão, suas obras passaram a ter essa temática. Durante a II Guerra Mundial, foi convidado a dar uma série de palestras com fundamentos cristãos para levar conforto para milhares de pessoas desesperançosas com a situação. Foi assim que se tornou mundialmente famoso e se estabeleceu entre os principais autores cristãos.



O livro é sem dúvidas uma obra prima. 

Neste fabuloso livro, Lewis, escreve na ótica de um diabo experiente que está ajudando o seu sobrinho, Maldonado, um jovem demônio recém-formado na Faculdade de Treinamento de Tentadores, a tentar seu paciente (um rapaz inglês, novo convertido).

As cartas se passam no período da Segunda Grande Guerra.

Em todas as 30 cartas enviadas ao aprendiz, o diabo experiente fala sobre artimanhas que podem ser usadas para levar a alma do seu paciente ao reino inferior, mostrando de modo satírico o "modus operandi do Reino inferior".

 O livro enfoca a falsa espiritualidade, orgulho, egoísmo espiritual, gula, frustração, castidade, amor, ansiedade, covardia, entre tantos outros sentimentos humanos. 

Apesar de Lewis ser conhecido por seus escritos não tão fáceis de serem lidos, “Cartas de um diabo ao seu aprendiz” é um livro bem tranquilo e de fácil compreensão.




domingo, 6 de março de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.




                O MONSTRO DA GUERRA.


A primeira guerra foi um marco na história da humanidade. Sendo o primeiro conflito em escala global do século XX. Estendeu-se de 1914 a 1918.  O resultado não poderia ser outro, deixando um trauma em todos, tendo um saldo nas trincheiras ocidentais de 10 milhões de mortos. As causas são complexas, envolvem acontecimentos não resolvidos, rivalidades, tensões nacionalistas, alianças militares.

A segunda guerra mundial teve seu início em 1939 arrastando-se até 1945. Caracterizada como conflito em estado de guerra total, ( no qual há mobilização de recursos para o conflito ). Foram seis anos de lutas sangrentas e muita destruição. Mais de 60 milhões de pessoas morreram, alguns dados apontam para 70 milhões. O estopim foi a invasão da Polônia pelos alemães em setembro de 1939. Nesse contexto de guerra temos um dos episódios mais sombrios da história, que foi o lançamento das bombas atômicas sobre o solo Japonês, nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em 1945. Armas nunca antes usadas, lançadas pelos Estados Unidos a fim de forçar a rendição dos Japoneses. Esse absurdo revelou ao mundo até que ponto o homem é capaz de semear a destruição.

Outro capítulo tenebroso do monstro da guerra foi o Holocausto, Especialista trabalham com um número entre cinco a seis milhões de Judeus mortos. Quando o partido nazista surgiu, em 1920, o antissemitismo era um elemento que já fazia parte da plataforma do partido, e os historiadores acreditam que Adolf Hitler tornou-se antissemita em algum momento de sua juventude, quando vivia em Viena, capital da Áustria. A presença do antissemitismo no nazismo, durante sua fundação, era perceptível no programa do partido, que afirmava que nenhum judeu poderia ser considerado cidadão alemão. 

Vejam que todo conflito é descabido e sem sentido, com propósitos e intenções totalmente fora da realidade. As vítimas são sempre os mais fracos, pobres, mulheres, crianças e idosos. Como se não bastasse todas as guerras acontecidas até este momento da história, temos no palco mundial os acontecimentos envolvendo Rússia e Ucrânia. Além de potência agrícola, a Ucrânia tem uma expressiva produção de minérios e carvão mineral, concentrada na região de Donbass, onde há um movimento separatista apoiado pelos russos. Os primeiros ataques na Ucrânia ocorreram justamente nesta região. Sempre há interesses envolvidos que não são exatamente declarados. Com falsos pretextos disso e daquilo, o que ataca sempre domina e usufrui da riqueza do conquistado. 

A história de guerras é muito anterior a todos esses fatos históricos citados e outros que não mencionei aqui. O pai das guerras, no começo das eras, tentou se posicionar na mesma perspectiva de seu criador. ' Subirei aos céus, disse ele, e colocarei o meu trono acima das estrelas em serei semelhante ao altíssimo'. Nesse momento levanta-se Miguel, comandante dos exércitos celestiais e faz guerra com o dragão, a antiga serpente, expulsando- a do céu. Uma vez precipitado na terra, esse monstro da guerra mostrou e ensinou aos homens todas as faces da cobiça, inveja, horror e poder. Embora escolhas sejam dadas, o homem nunca desejou pelo caminho da paz, sempre almejou a luta. Um bom exemplo é o que acontece nesse momento lá fora.






domingo, 27 de fevereiro de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 



Talvez.

   Eu sempre gostei de desenho, rabiscava paredes, o chão, cadernos velhos, folhas em branco. Lembro-me do meu primeiro presente, ganhei do meu avô materno, foi uma caneta esferográfica, Bic, vermelha. Naquele dia eu descobri a paixão pela cor vermelha e pelos desenhos. Levei muitas broncas por rabiscar em qualquer lugar. Eu desenhava bonecos desengonçados, casas tortas, árvores monstros, enfim, desenhava tudo do meu jeito, e me achava um artista. As linhas tortas, Os rostos deformados, eram a expressão da beleza na minha ótica. Talvez, se tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande artista.

Talvez.

   Na época da escola me encantei pelas aulas de filosofia. As aulas eram ministradas pelo pároco da cidade, o padre Francisco. A Filosofia sempre me encantou. Estudar as escolas filosóficas, os grandes pensadores, idéias, conceitos. Durante um bom tempo, antes do término do colegial, quando me perguntavam sobre qual profissão eu queria ter, eu sempre respondia que seria um filósofo. As minhas melhores notas eram de filosofia. Talvez se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande filósofo. Talvez. Mas... Na estrada da vida tomei caminhos diferentes que levaram para o lado oposto.

   Veja que, nessa mesma época da filosofia, eu me vi inclinado a carreira eclesiástica. Nascia em meu coração o desejo de ser um padre. Comecei a procurar por um seminário, Carmelitas descalços, Franciscanos, Beneditinos, havia muitas ordens que eu pudesse escolher. Por fim, optei por uma ordem religiosa por nome, Legionários de Cristo, em Arujá. Me encantou aquele lugar, toda organização do seminário, todo esplendor e beleza. Estudos, Latim, Grego, filosofia, Teologia, humanidades. Era tudo o que eu queria. Não muito depois iniciei o meu candidatado, que era um período de duração curto. Ao término desse tempo, muitas coisas aconteceram que me forçaram a mudar os planos. Talvez se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande sacerdote.

Talvez, mas... Havia uma curva na estrada que me fez mudar de rota.

   Uma paixão que percorre em paralelo com todas essas que já citei, é o amor pelas palavras, poesias primeiramente, sendo seguido da prosa. Todas as outras mencionadas anteriormente as considero paixões passageiras. Cada uma teve o seu papel na minha formação e gosto artístico. No caso da literatura, essa, na figura da poesia nasceu de dentro para fora, não é algo que veio de fora. É um tipo de amor difícil de se explicar, que nasce lá dentro. Desde que comecei a rabiscar, ( as primeiras palavras ), a poesia surgiu tímida entre frases curtas, dizeres simples, com o tempo foi ganhando corpo e beleza. Ainda sim, se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande escritor. Contudo, creio que o tempo ainda me é favorável para realização de muitos sonhos. Alguns citados, a exemplo da filosofia, outros não citados nem mencionados aqui. O talvez presente e constante na crônica não significa estagnação ou desistência de meus sonhos. Para este que vos escreve o talvez tenha um sentido de suspensão momentânea de alguns sonhos, para que no tempo e oportunidade certa tudo aconteça da melhor forma possível.

   Enquanto isso.

   Fico no talvez.




MOSAICO DE SENTIMENTOS NUS.

      As janelas do castelo estavam abertas, escancaradas ao público de modo que era possível ver dentro do próprio reino.      Nos recôndit...