domingo, 26 de junho de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 


        TUDO VALE A PENA QUANDO A ALMA NÃO É PEQUENA.


    A minha infância foi maravilhosa, eu tenho lembranças encantadoras de momentos que foram inesquecíveis em minha tenra infância. Até os doze anos eu morei em uma fazenda no interior de Minas Gerais,( fazenda Lindoya ), era o meu reino encantado com certeza. Quem já morou ou viveu em uma fazenda sabe bem o que estou dizendo. Natureza, diversidade na flora e fauna, rios de águas transparentes, pássaros de inúmeras espécies, o nascer e o pôr do sol. As imagens que guardo dentro de mim são as mais belas pinturas da natureza, quisera eu ter as habilidades de um Da Vinci para eternizá-las em telas, mas, muito timidamente vou tentando riscar com palavras as belezas que tenho nas molduras da memória. 

    Vamos começar falando da natureza, que, aos olhos daquela tímida criança, era como se fosse um pedaço do Éden. A fazenda Lindoya tinha mais de novecentos alqueires de terra, uma grande criação de vacas leiteiras e bois de corte. Havia também uma usina que fabricava aguardente, em tempos passados, na época de adolescência de meus pais fabricava-se açúcar, depois é que passou a fazer a famosa cachaça. Eram três os donos, dois irmãos e uma irmã, que a propósito, 'se odiavam', vivendo sempre em questões sobre como ficaria a divisão da fazenda após a morte da mãe, na época "ainda viva". 

    Cercada por montanhas, devidamente preservada, com inúmeras espécies de árvores de lei, mata atlântica preservada, uma fauna invejável. Caçar ou retirar madeira era extremamente proibido, resguardado pelos próprios moradores. Havia também um pequeno riacho, da qual chamávamos de 'ribeirão'. Foram muitas as pescarias nas águas tranquilas e límpidas do riacho. Vara de bambu, tardes de silêncio à beira da água ouvindo o harmonioso som das correntezas, o canto dos grilos e sapos. Tarrafas era proibido também, igualmente resguardado por todos os moradores. Foi um período que jamais esquecerei, não tínhamos modernidades, nem o luxo de ter tudo no mercado da esquina, porém, a natureza se encarrega de nos dar exatamente o necessário, nem mais nem menos. Do jeito que deveria ser, e éramos felizes em um equilíbrio perfeito de homem e natureza. 

   Houve um tempo que o próprio ( tempo ) pareceu parar, no entanto, o mundo moderno invadiu as nossas casas conforme as televisões ganharam espaços nas salas. O reino encantado começou a perder espaço para a ilusão de um novo mundo, as grandes cidades cativaram o imaginário daquele povo simples da roça. Aos poucos, famílias após famílias deixaram a fazenda para migrar para a cidade em busca de prazeres e ilusões perdidas. 

    Esse que vos escreve com saudosismo e dor no coração, foi um dos tais que veio para os grandes centros. Descobriu que o preço da suposta felicidade é por demais alto, embora possível. No entanto, ficou no âmago da alma a sensação de liberdade que foi perdida, de ser expulso do próprio Éden pelo pecado de desejar o fruto proibido na ilusória árvore dos grandes centros. Muitas coisas eu conquistei, outras tantas eu perdi. 

    Hoje eu trabalho incansavelmente para ter possibilidades de comprar novamente a liberdade que eu tinha. Enfim, sempre há um aprendizado em tudo, nas lutas, vitórias e derrotas em casa fase, ganhando ou perdendo nós sempre aprendemos. Eu sei que daqui um tempo poderei ter novamente um pedacinho do meu reino encantado, custará o preço de uma vida inteira eu sei, mas valerá a pena. Afinal, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena".


domingo, 19 de junho de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 




O FERIADO DE CORPUS CHRISTI.



   Embora essa crônica esteja sendo postada no domingo, como é de costume, os acontecimentos da última quarta me deram impulso para escrever naquele mesmo dia o presente texto sobre os pormenores que se passaram. Em geral, eu ganho o assunto que será exposto aqui durante a semana, no entanto, decidi compartilhar o ocorrido já citado.

   Sendo assim...

   Hoje, quarta-feira, dia quinze, foi um dia cansativo, extremamente exaustivo, trabalho de todos feito por poucos. O sistema em que ( eles ) — me permitam chamá-los assim, trabalham, é terrivelmente ineficiente, eu nunca imaginei que fosse passar por semelhante situação. Aconteceu a seguinte situação, o feriado de amanhã, por exemplo, de Corpus Christi, Quinta-feira, dia dezesseis, não seria pago pela empresa. Segundo ( eles ), o mesmo foi adiantado ano passado por meio de um decreto municipal, portanto, essa quinta seria dia comum, revisando o decreto do ano passado, percebi pelo artigo citado que houve certo equívoco. 

    Veja.

   ( Art. 1º Ficam antecipados para o dia 31 de março e dias 1º, 3, 5 e 6 de abril de 2021 os feriados de Corpus Christi, do Aniversário de Sorocaba e do Dia da Consciência Negra do ano de 2021 e os feriados do Aniversário de Sorocaba e da Consciência Negra de 2022, previstos no Decreto nº 26.235, de 31 de maio de 2021, conforme autorizado pelo artigo 2º, da Lei nº 12.288, de 29 de março de 2021." (NR) ).

  Portanto, não é mencionado o adiantamento do feriado de Corpus Christi de 2022.

  Ainda que fosse, mesmo que a empresa tivesse optado por antecipá-lo no ano passado, acontece que, eu e outros funcionários mais novos que não trabalhávamos na empresa no período da antecipação, não poderíamos ser afetados pela medida, tendo o entendimento que teríamos o direito de receber sim o feriado. Questionado a respeito, o meu chefe não soube me informar com precisão sobre o assunto, eu trouxe ainda a referência da associação dos comerciários afirmando que o Corpus Christi, na minha cidade, será sim feriado. Depois de algumas ligações do meu chefe para o RH buscando esclarecer minha dúvida, um pouco de demora, outro chefe veio me informar lá pelas nove da noite da quarta que eu e todos os demais funcionários do mercado tínhamos sim direito ao feriado, reconhecendo-o sim, na quinta, com cem por cento e direto a folga extra para todos que estavam trabalhando. Agora se eu não falasse nada, se me calasse aceitando sem questionar minha dúvida inicial, perderíamos o  direito por uma inobservância simples. Não sou o tipo de pessoa que costuma reclamar e questionar, na verdade nunca fui dessas coisas, contudo, depois de tanto apanhar na vida, de tantos desaforos e negativas, passei a ficar mais atento com o que se referem a minha pessoa e meus direitos.

    Por muitas vezes guardei silêncio em situações semelhantes por onde passei, por medo, por receio e até vergonha, joguei em mãos de outros direitos que eram meus. Foram tantos desafios, de apanhar constantemente que a vida ensinou-me que não há demérito nenhum quando tomamos posição dentro das quatro linhas dos nossos direitos. Não sei quais serão as consequências de meu ato recente, uma vez que, a particularidade duvidosa de um funcionário, no caso eu, beneficiou a todos os outros funcionários, que ficaram muito alegres em face dos chefes superiores com ares de poucos amigos. Se esse episódio fez de mim alvo eu não sei, porém, de uma coisa tenho certeza, não me calarei mais, aliás, aconselho a todos, desde que façam dentro dos limites legais, a reivindicar o que lhes cabe por direito.




domingo, 12 de junho de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 




O DESAFIO DE SORRIR QUANDO A VONTADE É DE CHORAR.

  

   Exaustivo trabalho de todos os dias, cansativa labuta diária, ter que sorrir para clientes, por vezes, ignorantes, ser cortês e educado com pessoas que não refletem igual tratamento. Às vezes, para não dizer em quase todos os momentos, tenho a vontade de chutar o balde, jogar tudo para o alto, abandonar o ambiente claustrofóbico, ( para mim pelo menos ), e sumir no mapa. Porém, ainda existe lá dentro do meu ser um senso de responsabilidade, onde a análise apurada e calculista racional da situação me permite sensatez, me impedindo de fazer qualquer besteira ou de tomar decisões da qual eu venha me arrepender depois. A vida de quem lida com o público não é nada fácil, como dito inicialmente, tenho que sorrir quando a vontade é de chorar. Certa vez me disseram que o sorriso de um palhaço não é reflexo de sua alegria, mas, de seu profundo desespero; pois é bem isso que sinto, desespero contrapondo a falsa alegria que meus lábios demonstram. Na maioria das vezes, quem está do lado de fora do balcão de atendimento notará uma alegria exagerada do lado de dentro, dirão uns para os outros, como são alegres esses aí. Pois bem, não se engane, alegria em excesso é loucura. Não é que somos excessivamente contentes, mas, abismos certo de insanidade.

   Lidar com o público é um desafio, há de se entender que o atende também será atendido em algum momento, por isso, assim como o balconista quer ser atendido ele também terá que fazê-lo com a sua clientela. A empatia tem que acontecer dos dois lados, pesos diferentes desequilibra a balança, não é saudável no atendimento partes que não se entendem. O cidadão do lado de dentro do balcão tem por obrigação oferecer o melhor serviço possível, e, em contrapartida, espera-se que a pessoa atendida seja no mínimo educada, e que tenha disponibilidade de diálogo, pois é com ele que se chega ao entendimento. Em cada lugar de trabalho existem as suas regras, cada ambiente, seja qual for o balcão, açougue, padaria, frios, enfim, existem algumas regras que o funcionário tem por obrigação seguir. Agora entenda, em face de tais ordenanças, existe o código de defesa do consumidor que, na maioria das vezes, conflita com as regras daquele ambiente, e o empregador nem se dá conta disso... É nesse momento que o diálogo é fundamental, com uma boa conversa é possível corrigir certos erros sem agredir nenhuma das partes. No entanto, seria muito bom se isso acontecesse de fato em harmonia.

Eu já falei em outras crônicas do meu ambiente de trabalho, 'balcão de açougue', o que eu acabei de relatar acontece sempre, eu conheço o código de defesa do consumidor, também conheço as regras de onde eu trabalho, sei que algumas dessas regras estão em conflito com o código, por isso, busco ser a ponte entre um e outro, com bom entendimento e diálogo entre as partes para que o cliente não seja lesado em seus direitos garantidos pelo código e nem o empregador fique com raiva por eu ter retrabalhado certa regra interna. Como disse anteriormente, nem sempre esse equilíbrio é possível, existem clientes 'ignorantes', que desprezam qualquer norma, desprezam a si mesmos, não são educados e machucam o próximo, assim como empregadores inflexíveis em suas regras. Mas, tenho que lidar com todos igualmente, sendo ou não agredido. Não é fácil sorrir quando se é xingado e maltratado. Caríssimos amigos leitores, a crônica deste domingo retrata apenas uma mínima parcela do que é o meu trabalho, com tempo, escreverei um pouco mais sobre o assunto.







domingo, 5 de junho de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.





 TENHO EM MIM TODOS OS SONHOS DO MUNDO.

   

   "Tenho em mim todos os sonhos do mundo", reza o verso de certo poema. Porém, eu acredito que os sonhos são ilusões transitórias, momentos em que a mente deseja relaxar fugindo da realidade. Geralmente, em especial quando estamos dormindo, a nossa mente se utiliza desse artifício para descansar a memória. No entanto, quando acordados, raramente sonhamos de olhos abertos, e quando o fazemos, a mente utiliza desse mecanismo como arma de tortura contra corações despercebidos. 

   Independente de como seja isso, tortura ou não, eu sonho e ouso sonhar até de olhos abertos, pois tenho em mim todos os sonhos do mundo, existe um prazer nesse tipo de flagelo psicológico, talvez o torturador não seja tão cruel assim. Uma vez que o mundo se tornou em horrendo monstro de crueldade sem limites, de dores infinitas e sem possibilidades de prazer.

   Às vezes eu passo bons minutos observando as pessoas, no que fazem, como andam, nos gestos da face, o tom de voz, o movimento das mãos, enfim. Eu sou o típico cara que fica de canto, sem dizer nada, sem interagir, apenas observando. Pessoalmente eu não gosto de interagir, prefiro o anonimato e a solidão, contudo, são esses os momentos em que toda a cena no meu campo de visão entra para dentro de mim. Tudo é recriado para dentro, do modo como a minha mente deseja, cada pessoa se transforma em personagens, eu as transformo e as refaço. Eu sei que isso parece loucura, e confesso que realmente é, mas, é um terrível privilégio, um sonhar de olhos abertos.

    A mente é um depósito de tudo, um campo de concentração das imagens e sons visualizados e capturados durante o dia. Ainda que não nos recordemos, esse filme está lá dentro. O inconsciente é a parte do depósito que fica sempre trancado, o acumulado vai prá lá, a superficialidade fica na sala menor, fora desse cofre, se é que posso chamá-lo assim. É o espaço da mente, em que detém a chave para entrar e sair quando bem se entende desse lugar maravilhoso, ou infernal a depender do que se acumulou.

      Ao se dizer: "tenho em mim todos os sonhos do mundo", significa que existe no interior de cada um o mesmo universo do exterior de todos nós. Cada mente faz o que quer e como bem entende na reconstrução do cosmo interno. Sei da minha parte, das insanidades que me cabem diariamente. O conceito científico de multiverso, universo paralelo, enfim, é real para este que vos escreve, a porta de entrada está no íntimo de cada ser humano da terra, tenha ele conhecimento ou não disso. Tudo está acontecendo nesse momento em que escrevo essa crônica.

     Ah! Caro leitor. Se você soubesse o que se passa nessa massa cinzenta, ficaria espantado. Aquele moço, a jovem que passou por mim, a conversa de amigos no bar da esquina, o senhor entregando refrigerante no supermercado, as pessoas que atendo diariamente, o brilho no olho de minha colega de trabalho, as palhaçadas do outro... Refaço o tempo todo o curso das coisas dentro de mim. No meu mundo particular amo quem eu quero sem medo ou preconceitos e nem normas impostas pela sociedade. No meu mundo eu sou a lei, eu sou tudo é tudo sou eu.

      Hoje pela manhã despertei com essa vontade de falar um pouco daquilo que se esconde dos meus olhos para dentro, onde habita alguém completamente desregulado, mas, dos olhos para fora, alguém centrado e conciso, quieto. A maluquice de dentro fica ao encargo da mente, em seus devaneios, nós personagens literários criados, em cada verso ou palavra escrita. Este que vos escreve, é apenas uma ponte dele para ele mesmo.

    


domingo, 29 de maio de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO.

 



                A ILUSÃO DO MELHOR.

   

   Trabalho, casa, descanso. É sempre nessa ordem, durante seis dias, período da tarde, das treze horas às vinte e duas e trinta. Uma folga por semana, na terça, a cada dois domingos trabalhados um de folga. Balcão de açougue é isso, cortar, arrumar, preparar, limpar, atender, e por aí vai. Parece fácil, interessante, até gostoso de se fazer, mas não é. O salário não é ruim, a empresa ( parece ) ótima, oferece alguns benefícios, ( por enquanto ) mantém bom plano de saúde, porém, o gerenciamento de todo o conjunto que isso representa é falho, não deveria de ser pelo nome que a empresa carrega, pelo contrário, antes de trabalhar ali imaginei que seria o exemplo de gestão e benefícios, pelo menos foi o que falavam, mas... Enfim, teve a ilusão de ser melhor em comparação ao antigo balcão de açougue.

    A minha rotina é simples, eu acordo cedo, às seis da manhã, a minha esposa também. São os compromissos impondo o ritmo, como a nossa filha estuda no período da manhã, esse é o horário que temos que deixar o melhor do sono e preparar o café dela, passar o uniforme, levá-la a escola. Dividimos a tarefa, o café e o lanche dela fica por conta da esposa, eu, me encarrego de passar o uniforme e de acompanhá-la até o portão da escola, que fica a cinco minutos de casa. Depois que retorno, dormimos um pouco mais, eu, precisamente até às oito e trinta, às vezes nove, para então dar cabo da outra parcela da rotina. Depois de levantar da pequena extensão do sono, após tomar o meu café, sigo com a ajuda nos afazeres domésticos até o horário de sair para o trabalho, que é exatamente às doze e quarenta, tenho que entrar às três em ponto, portanto, o meu local de trabalho é perto. O tempo que tenho em casa disponível até o horário de sair é curto, pode parecer que não, pois digo que é como uma sombra que passa e nem percebo, se durante o café eu me distrair nas redes sociais, complica todo o resto.

   Já no local de trabalho, coloco o uniforme, pego minha luva de aço, touca branca na cabeça, e vou para o relógio de ponto registrar a entrada. No local de trabalho, cumprimento os colegas do turno da manhã, três ou quatro dependendo do dia. Eu e mais dois entramos, ou somente mais um comigo, também vai depender do dia, rendemos os amigos para o almoço. Temos exatamente duas horas até eles retornarem. Nessas apertadas duas horas, temos que dar conta de repor todo o balcão, que é enorme por sinal, controlar o fluxo de atendimento, fazer produção de bandejas, quando possível, limpar a bagunça deixada por eles, e alguns outros afazeres. Duas horas depois eles retornam e nós saímos para o intervalo também de duas horas. Quando voltamos, eles que entraram às seis e sete e meia, vão embora lá pelas dezessete e trinta da tarde e ou dezoito. Nós seguimos o curso do turno até o fechamento. E novamente toda a sistemática da rotina se repete. Repor o balcão, fluxo de atendimento, que é sempre maior da tarde para noite. Ou seja, é muito trabalho para poucos funcionários, seria necessário mais dois em cada turno para ficar em equilíbrio, no mínimo, mas, como eu disse no início. Problemas de gestão e falta de vontade dos mandatários maiores.

    Por isso as minhas rotinas não divergem muito, é a mesma coisa de todos os dias, com picos frequentes para pioras. Basicamente é isso amigo leitor. Nas próximas crônicas relatarei pormenores do dia a dia em si, os desafios que enfrento na minha interminável e exaustiva labuta diária.

   




domingo, 22 de maio de 2022

CRÔNICA

 



       ROTINAS INTERMINÁVEIS.


   Intensa semana em que o tudo representa o nada, a totalidade das coisas são enfado e cansaço. A rotina de todos os dias impõe o seu fardo pensado em ombros desnudos e machucados. Não há o que se fazer a respeito, é praticamente impossível mudar algumas realidades. Os dias se amontoando, afazeres que se repetem, dificuldades cada vez maiores, dúvidas intermináveis, o mundo gira em uma velocidade assombrosa. Não temos tempo suficiente para raciocinar, por fim, tomamos decisões erradas, caminhamos por estradas tortuosas, impiedoso, o tempo não permite retorno para determinados acontecimentos. Os ombros desnudos e já calejados, sangra um pouco mais, gotejando por onde passamos.

     A minha rotina é odiosa, sempre a mesma coisa, todos os dias e o ano inteiro. Os únicos momentos diferentes e agradáveis são os que passo com a minha esposa e filha, ainda sim, o monstro dos afazeres diários engole fatias generosas de nossos momentos. Uma pequena fração em escassos minutos, dedico a literatura, outra paixão. Mesmo a literatura sendo dividida entre escrita e leitura, não é nada do que eu pretendia, porém, a vida tem o seu preço a cada alma. Por isso, me submeto à condição humana da interminável labuta diária.

       Mesmo com os ponteiros do relógio correndo apertados, encontro "tempo" para minhas leituras, e quando posso divido com vocês leitores, algumas impressões dos livros que li, como o que vou mostrar agora. O livro, ( Cavalo de tróia, lido não tão recentemente ), do autor, J.J. Benitez, narra uma incrível aventura, e como eu gostaria de ser o protagonista dessa aventura, se é que posso chamá-la assim. O livro, neste primeiro volume, fala de uma operação secreta da força aérea americana que, ao descobrir um modelo seguro de viagem no tempo, cria, em 1973, uma operação, denominada cavalo de tróia, para acompanhar os últimos dias de Jesus Cristo na terra. A parte inicial deste primeiro volume, é contada pelo próprio J.J. Benitez, onde ele descreve como conseguiu se encontrar com o major americano e conseguiu os seus diários pessoais, de onde origina-se o conteúdo do livro. No decurso desse calhamaço, temos a narrativa de Jasão, codinome do major, que volta no tempo, no modelo de uma, por assim dizer, nave, chamada de 'berço'. E junto com seu colega, Eliseu, ambos voltaram a época de Jesus Cristo,  presenciando os fatos mais marcantes de sua vida. Jasão, foi escolhido para a missão devido ao seu ceticismo e imparcialidade, mas ao encontrar-se com Jesus, é tocado profundamente por sua mensagem. O livro nos fornece dados da sociedade da época: seus costumes, as leis, crenças, ( judaicas e pagãs, bem como geografia e ambiente). A narrativa refere-se, na sua grande maioria, à vida do mestre, narrativa essa, que contrapõe em partes com o que foi descrito pelos evangelistas no livro sagrado, não desmentindo o que os evangelistas escreveram, mas, apontando para dados deixados de lado pelos mesmos. O livro, na visão do major, fala de uma mensagem deixada por Cristo, falando do pai - sempre bom - Um Deus que não requer templos e rituais, mas o amor ao próximo. Quanto à veracidade dos fatos no livro, fica a critério de cada leitor - segundo o próprio autor - a história é real, no entanto, real ou não, é sem dúvidas um livro extraordinário.

    É nesse tipo de leitura, caro leitor, que me desligo da dor do mundo, das aflições diárias, das dores na alma. Quando estou lendo me transfiro para a história contada, vivo aquilo como se fosse real. É assim que suporto as dores da existência desse tempo tenebroso a qual vivemos. Considere a possibilidade de tais aventuras.





domingo, 15 de maio de 2022

CRÔNICA DE DOMINGO

 



      O TEMPO É UMA SOMBRA QUE PASSA.


 

   Estamos em Maio, daqui a pouco tempo será junho, metade do ano, os dias estão passando tão rápido quanto uma sombra no final de tarde. A impressão que tenho é de que o Natal foi semana passada, pisquei o olho e se passaram quase cinco meses. Não sei quanto aos leitores, eu fico com essa sensação de não ter aproveitado nada, e de não ter feito o que queria. Antigamente não era assim, tudo parecia passar tão devagar, as datas comemorativas demoravam uma eternidade para chegar, e quando se aproximavam pareciam tão mais interessantes, bonitas, havia mais expectativas nas comemorações festivas. Era como se houvesse uma áurea diferente cobrindo cada uma, porém, os tempos são outros caros amigos, as pessoas mudaram, a verdade é que não existe a mesma importância nas comemorações e vivências humanas.

    Eu gosto de observar as pessoas, é uma particularidade minha, gosto de observar os seus comportamentos, conversações, a interação com outras pessoas, veja que até isso mudou. Não que antigamente fosse tão diferente assim, negativo, havia os mesmos desinteresses, o que eu quero dizer é a respeito do quanto de importância cada situação ou data tinha na vida pessoal de cada um. Na minha época valorizava-se o ser do que o ter... Às vezes não tínhamos nada, apenas o básico, contudo, éramos felizes com o pouco que tínhamos, cultivando as melhores amizades do mundo era mais ser do que ter. Parte disso desrespeito a tecnologia, que na época era apenas um bebê engatinhando, estava à espreita, na sua inocência inicialmente, esperando pacientemente pelos seus futuros escravos. Não tínhamos a mínima ideia do que se tornaria o que para nós era tão irreal até inverossímil. Havia um mundo escondido por trás de grandes mentes, um mundo enigmático, digital, de tecnologias enclausuradas de almas no casulo de impossibilidades.

    Basta observar as pessoas de hoje, sejam no supermercado, praça pública, igreja, enfim, não importa o lugar, a situação será sempre a mesma para todos, ou quase todos... A tecnologia está na ponta dos dedos e tomou conta do mundo, dominou as casas, lojas, empresas, shopping, não existe um lugar na terra que não esteja debaixo do império digital. Antigamente, era olho no olho, diálogos, vistas, convívio contínuo social. Hoje, basta um celular e internet para estar em qualquer lugar do planeta. Mensagens, chamadas de vídeo, o universo na palma das mãos. Até mesmo os computadores estão ficando para trás, os celulares de hoje são mais interessantes e versáteis. Vejam as crianças brincando... Antigamente era tudo dinâmico, correr, pegar, soltar pipa, esconder, enfim, a tecnologia transformou crianças espertas em sedentárias. Os jogos virtuais simulam a realidade com uma precisão assombrosa. Jogos de futebol, lutas, estratégias, guerra e por aí vai. 

   É impressionante a diversidade de opções.

   Todo esse salto tecnológico encurtou o tempo, não o vemos passar, as horas que gastamos em coisas superficiais são enormes e não voltam atrás, e o mais impressionante é que as tendo diante dos olhos não há vemos passar. Os ponteiros do relógio roubam nossos dias sem o notarmos, as horas são traiçoeiras, e a tirania do relógio impõe o seu domínio. Sim amigos leitores... Estamos em Maio, logo mais, quando piscarmos os olhos, enquanto estivermos distraídos nas redes sociais, já será natal.



MOSAICO DE SENTIMENTOS NUS.

      As janelas do castelo estavam abertas, escancaradas ao público de modo que era possível ver dentro do próprio reino.      Nos recôndit...