domingo, 31 de outubro de 2021

Crônica

 BUSCANDO O EQUILÍBRIO.



Eu não compreendo o motivo de não encontrar o meu equilíbrio... Eu devia de tê-lo nas palmas das mãos, tão facilmente, 

O que acontece? 

Os dias foram ruins, isso eu sei, pelo menos coisa de três semanas para trás, foram dias terríveis e tenebrosos, que me tiraram completamente a paz de espírito, correria, incertezas, chateações, enfim, deu para entender que não foi nada fácil. Agora a realidade é outra, e se mostra tão mais tranquila em certos aspectos, em paz, sem perturbações aparentes, porém, lá dentro do coração, no âmago dos sentimentos, existe alguma coisa fora do lugar que não atinei no que é. Esses sentimentos são complexos, quase inexplicáveis.

Você já tentou esquadrinhar os teus sentimentos?

Talvez como eu, você tenha tentado de muitas maneiras, sem obter sucesso nesta difícil tarefa... Sendo assim, seja bem vindo ao meu mundo caríssimo leitor. Eu sempre busquei o equilíbrio em todas as áreas da minha vida, inclusive, sentimental, contudo, em quase todas, obteve, certo, sucesso em medida aceitável, em algum momento da vida. Já os sentimentos regidos pelo déspota coração, esses são como touros bravos, dificilmente domináveis, inconstantes, perigosos. É justamente essa instabilidade que me jogou no barco da literatura, poesia e da prosa. Busco explicar nas palavras o que eu não consigo dizer ou expressar pessoalmente. Em prosa e em verso é outra história, o meu próprio universo inexplicável passa a fazer sentido.

Nesse teatro de complexidade da vida, sou apenas mais um na fila do pão, nessa de dominar essa fera enjaulada dentro do peito. 

Quem nunca tentou que atire a primeira pedra.

É da natureza do ser humano o querer dominar e conquistar, ser dominado é conquistado está fora de cogitação, mas, justamente nesse quesito que somos pegos de surpresa por esse... Como vou dizer... O amigo que mora dentro do nosso peito. Há pessoas, não muitas - eu peco por invejá-las - que tem um completo domínio de si mesmas e jamais se deixam ser domadas por nada, aliás. São verdadeiros guerreiros, que não se deixam abater por qualquer acontecimento, são duros na queda.

Por não ter essa estabilidade, foi que na época da escola criei o meu primeiro pseudo-heterônimo, a exemplo de Fernando Pessoa. Dei-lhe o nome de 

"Alberto de Andrade Lispector" essa minha, 'personalidade', da qual também se utiliza desse espaço para escrever suas crônicas, é alguém mais voltado para política, resolvido pessoalmente, com algum viés para poesia em algumas ocasiões. Recentemente descobri outra personalidade habitando dentro de mim, dessa vez feminina, essa se auto proclama, 'Luise Batiliere', também presente nesse espaço literário, porém, totalmente avessa à política, mulher firme e muito decidida. Os seus textos por vezes são ácidos, melancólicos, extravagantes. São duas faces dentro do meu próprio eu... 'Loucura', sim eu confesso... É loucura ser eu mesmo. Afinal, loucura é necessária.

Essas vozes literárias dentro de mim representam aquilo que eu desejaria ser mas por motivos que desconheço, jamais serei. Encontrar o equilíbrio é fundamental, buscá-lo, é necessário. Não significa que vamos encontrar sempre, só o fato de tentar mudar tudo. Estou exatamente nesse ponto da vida, de uma busca constante por mudanças, e sei que vou conseguir, eu, e todos os meus "eus".



  ( T. P )


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

CONTO.

 BREVE HISTÓRIA.


   Amanheceu. 


   Segunda-feira, pouco vento, a Edward Fru-Fru está movimentada. Algumas pessoas passam apressadamente pela calçada, outras, figuram estatísticas, veículos parados em um congestionamento enorme, é mais um dia eufórico na cidade de Sorocaba. Bernadete está quase a correr para não perder o ônibus, sigo logo atrás dela, Os meus pensamentos vagam tumultuosos, perambulando pela minha cabeça de um lado a outro, desvio dos buracos no calçamento, também tenho pressa, vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Entramos no ônibus, sentei-me atrás dela, seguimos rumo ao nosso destino.


  Trânsito travado como de sempre, meia hora depois Bernadete desceu no ponto mais próximo possível da escola, 'QualiMoura Cursos', espero para descer mais a frente. Bernadete vai a passos largos, olhando de um lado para outro, desconfia de tudo e todos.


  Não demora e chegamos quase juntos na escola, que está vazia por sinal, sete e meia da manhã, somos uns dos primeiros alunos a chegar. Estamos cursando gestão da qualidade total, um bom curso, uma junção de outros quatro; metrologia, qualidade, desenho mecânico, auditor ISO. Exigências da maioria das empresas da cidade.


  Verdade seja dita, embora a escolha seja boa, Bernadete não simpatizou com o curso, 'segundo suas próprias palavras', mas… Desempregada (ou melhor), disponível no mercado, não estava na posição de fazer muitas escolhas, por isso ela buscava a opção mais favorável para se conseguir emprego.


   Os demais alunos começam a chegar a passos de tartaruga, preguiçosos, cabisbaixos. Aglomeram-se próximos a secretária, permanecendo indiferentes um ao outro. Distraem-se com os seus celulares nas mãos e fones nos ouvidos. São poucos os que se dispõem a trocar algumas palavras com Bernadete ou comigo, um e outro que perguntam qualquer coisa sem relevância.


  Bernadete é tímida, eu ainda mais, ela continua em seu canto, o mais próximo possível da sala de aula, apenas observando todo o movimento. Uma nova arremessa de alunos começa chegar - em cima do horário por sinal - a escola antes vazia agora está quase sem espaço. Aos poucos cada aluno procura a sua classe, um a um vão saindo, ainda cabisbaixos e com os seus celulares nas mãos. Quando o relógio marca oito horas em ponto, toca o sinal da escola, um barulho enjoado que machuca os ouvidos. Os demais buscam cada um o seu lugar de sempre. Eu e Bernadete entramos na classe, ela ficou do lado oposto, bem no canto da parede. 


  A professora chega logo em seguida, é dia de prova, temida prova de desenho mecânico. Bernadete está confiante quanto ao seu desempenho… Eu nem tanto.


  Prova nas mãos, depois de uma breve leitura e releitura das questões propostas, ela começa respondendo cada uma delas, com muita calma e usufruindo sabiamente de todo o tempo disponível - mulher esperta - depois de responder tudo, 'ainda com tempo de sobra' faz uma última correção. Quando finalmente ela entregou a prova, entreguei a minha em seguida, a professora corrigiu na mesma hora, o meu coração estava em descompasso novamente. Veio a primeira notícia, 'boa', Bernadete tirou dez, eu errei uma, depois veio a segunda boa notícia; a professora lhe disse, "Pode ir embora, está liberada Bernadete é Alberto". 


  Ela não perdeu tempo, foi apressadamente para o ponto de ônibus enfrentar mais uma parcela do suplício das esperas intermináveis, saiu novamente quase a correr, certamente que queria chegar logo em sua casa, na segurança de seu lar. Eu saí no seu encalço.


  De tão apressada e assustada que estava com alguns jovens que estavam fumando e bebendo na esquina próxima, ela atravessou a rua sem prestar atenção, o sinal estava aberto, gritei, não houve mais tempo para mais nada,  Bernadete foi atropelada… chamei o resgate, era tarde demais.


  E o dia se foi, levou Bernadete, sua breve história termina aqui... 


domingo, 24 de outubro de 2021

Resenha.

 

Quase memória, de Carlos Heitor Cony, é sem dúvida um belíssimo livro, dessas leituras que te prende, arrebata, levando-o a viajar pela imaginação de um mundo e um tempo que não existe mais. Essa foi a minha primeira experiência de leitura com o autor. Posso dizer sem medo que foi uma das melhores do ano. Mergulhar nessas páginas foi maravilhoso.

Cony recebe um embrulho misterioso, tudo naquele pacote, cada detalhe, o faz relembrar de seu pai, morto já há anos. 

Como seria possível tal coisa? Era como se o próprio pai estivesse enviado, todo o conjunto do envelope, a forma que foi amarrado, papéis, tudo tinha a assinatura dele. Nesse ponto, nós leitores já corroídos pela curiosidade queremos saber o que está ali dentro. O que mais me surpreendeu - é vai te surpreender também - é de saber que o presente recebido, cheio de mistérios, não trazia exatamente coisas materiais, mas, um conjunto de recordações, uma verdadeira viagem ao passado de pai e filho. A cada página vivenciamos fatos importantes da vida de cada um deles.

O importante não é o que está dentro do embrulho, mas, tudo aquilo que ele representa na vida do escritor.

Recomendo fortemente a leitura desse livro.

Crônica

 NA ÚLTIMA CURVA DA ESTRADA ESTAVA VOCÊ.



Almas que caminham para o vale da indecisão, não sabem exatamente que rumo tomar, apenas seguem o fluxo sem ao menos prestar atenção no caminho. Algumas desnudas, moribundas, melancólicas, ainda sim seguem, parecem não querer chegar e nem sair ao mesmo tempo, são passos incertos, indecisos na escuridão da noite. 

Quem são elas?

Quais os seus nomes e suas histórias?

Quem saberá os mistérios que as cercam?

As vezes sou entre elas mais uma alma sem um norte, nem ritmo, sem nome... O mundo está cada vez mais cheio de pessoas assim, 'almas ambulantes' esqueletos vestidos de carne caminhando pela rua. Vão aos bares, contam suas mentiras, perturbam por onde passam com e suas meias verdades distorcidas. Cada um conta vantagem no que fez, no que é e foi... São um bando de almas dançarinas, desejando uma valsa a mais com o caos. Você as vê todos os dias pelas ruas, se esbarram o tempo todo nelas, as cumprimentam, as olham nos olhos, mas, você não as enxerga, e nem elas a você. É um mistério que se segue sem explicação.

'Almas mortas', como diz Gogol, sim, sem vida e sentido no que fazem, buscam coisas sem razão, nada lhes satisfazem, não percebem que na verdade, são todas, 'almas mortas'. A cidade está ficando cheia de pessoas que não tem o mínimo de objetivo, nada querem, tudo lhes aborrece, são egocêntricas, gananciosas. Não sabem o que fazer.

Será que existe algo para ser feito? 

Afinal, ainda existe esperança?

Quem poderá trazer todas essas respostas?

Eu caminho em um mundo de palavras mudas, e cada uma delas fazem parte de mim, do meu eu, do meu ser, meu decadente e desconsiderado ser.

Sensações, múltiplos sentimentos que me roubam a razão, que me conduz a insensatez momentânea de achar que o nada vale tudo. Sou mais uma entre essa turba de alucinados, insanos compulsivos, sou a pior entre inúmeros. No entanto, os motivos que me levam à beira do abismo da própria loucura são complexos demais. Às vezes penso que sou um caso de internação em hospital psiquiátrico. 

Quem, afinal, nesta vida é completamente são? 

Quem nunca sucumbiu à loucura?

Somos ovelhas perdidas nas tenebrosas terras desta vida, amamos loucamente, vivemos da mesmíssima maneira, e nem percebemos que somos almas ambulantes à beira do caos. O meu coração está sendo tomado, sem muito esforço, 'ela', sim, aqueles olhos, pernas, bocas e lábios, 'ela', minha loucura voltou... Agora pensem...

Eu mesma não acreditei quando, de repente, ela desprendeu-se da multidão. Surgiu do nada mudando tudo. Eu era apenas aquela que a exemplo de todos os demais caminhava rumo ao Vale da indecisão, contudo, bastou a simplicidade da insensatez para mudar o minha direção. Eu que pensei que seria o fim, a última jornada desta desajustada. A vida tem dessas coisas, dizem tanto que de fato acreditamos que podemos ser quase tudo...

Almas que caminham até não serem mais vistas na última curva da estrada, no entanto, era você quem figurava além da curva.



( L. B )


sábado, 23 de outubro de 2021

A CAVERNA.

 A CAVERNA.




Havia qualquer coisa de diferente com Alice, ela perguntou a todos quantos conhecia a respeito da caverna e seus mistérios. Madame Lili bem que a alertou sobre as histórias assustadoras que os antigos moradores contavam daquele sombrio lugar. 

Diziam os anciões da aldeia, que a caverna da rocha era a porta de entrada para o mundo intraterreno,  habitado por demônios e criaturas desconhecidas. Alice ignorou todas as advertências de madame Lili, mesmo sabendo do risco que corria, entrou na caverna mesmo assim, curiosa em descobrir se aquelas histórias eram verídicas ou se eram meros contos populares.


Era o começo de tarde de uma calorenta sexta-feira quanto o fato aconteceu...


Aquela criatura pequena, de nariz pontiagudo, roupas estranhas, esfarrapadas e de orelhas pontudas, parada diante de Alice era a prova definitiva de que a caverna e tudo quanto diziam eram reais, e que uma das tais criaturas de que tanto se falava estava ali, diante de seus pequenos olhos assustados. 

A estranha criatura permaneceu imóvel por alguns segundos, depois moveu a cabeça levemente para esquerda e depois para a direita, parecendo estar estudando a reação da jovem, que, diante do inusitado encontro, permaneceu petrificada. Todas as suas palavras sumiram, silêncio absoluto, tamanho era o seu espanto.

Aquilo pareceu-lhe um duende, dessas das histórias de contos de fadas. A estranha criatura começou a acenar para ela com as mãos, dedos magros, unhas grandes, acenava chamando-a para acompanhá-lo. Alice estava incerta quanto a oferta do pequeno demônio, deu um passo para trás, pensou em sair correndo o quanto antes da caverna, porém, a sua curiosidade foi ficando cada vez maior do que o próprio medo, vencendo-o pouco a pouco. 

O duende acenava com as mãos, era um convite muito estranho, tudo ali era estranho. Por fim, a criatura vendo que Alice permanecia no mesmo lugar, a chamou pelo nome, proferindo sua rouca voz que ecoou no interior da caverna.


- Não tenha medo Alice - sua voz ecoava no interior da caverna - Venha comigo menina, não tenha medo minha criança doce criança de olhos verdes.


Alice admirou-se do duende estar falando com ela, aquilo tudo era surreal, o espanto foi dando lugar para admiração e curiosidade. Alice estava receosa, no primeiro momento, nada respondeu, ameaçou em dar mais um passo para trás, quando novamente ouviu a voz do pequeno ser.


- Por favor! Não vou lhe machucar... Venha conhecer um mundo cheio de seres fantásticos e mágicos, não é esse o  desejo de seu coração, conhecer os mistérios da caverna?


Vencendo o seu medo, Alice arriscou dialogar com o duende.


- Você é mesmo real? Como sabe o meu nome? E meus desejos? É a primeira vez que venho a esta caverna... Como me conhece?


- Nós, do submundo, sabemos de todas as coisas que se passam lá em cima, minha pequena, mas, vocês, seres da superfície, nada conhecem de nosso mundo e nem a nosso respeito. Não tenha medo, você foi escolhida, será a primeira a conhecer nossos segredos.


- Não... Não... Isso não é real... Não pode ser real... Não mesmo...


- Estou aqui, não estou! Olhe, estou bem na sua frente, veja, sou real, não tenha medo, venha, toque em minha mãos...


Alice deu o primeiro passo em direção ao duende, nos lábios dele despontou um discreto sorriso, sarcástico por sinal, Alice estava admirada demais para perceber os riscos que corria ao acompanhar o misterioso duende. Deu o segundo passo, o terceiro, ainda incerta, lentamente seguiu-o, que continuava acenando. Passo a passo ela foi se distanciando, a pequena criatura sempre a frente, o caminho foi ficando cada vez mais estreito e escuro. Havia medo no olhar de Alice.


- Não enxergo nada, eu vou voltar. Disse ela assustada.


No mesmo instante, em um estalar de dedos, surgiu nas mãos do duende uma tocha, a sua chama iluminou o rosto da criatura e parte do caminho, o mesmo sorriso sarcástico.


- Venha... Temos muito a caminhar, venha. Há luz mais a frente.


Alice seguiu-o embrenhando-se pela caverna.



Era a tarde de uma sexta-feira, começo de verão, dia quente, foi quando a jovem Alice sumiu do povoado do Lajedo. Todos a procuraram por meses, e em todos os locais possíveis, até mesmo em algumas partes da caverna e da floresta em seu entorno, mas, Alice nunca mais foi vista, o seu paradeiro era desconhecido da aldeia. Por fim, depois de meses e meses de procura sem sucesso, sem encontrar uma única pista, desistiram de procurá-la.

Os pais de Alice ficaram arrasados, era a filha caçula dos Andrades.



Passou-se vinte anos desse episódio, a história do desaparecimento de Alice era acrescida às já contadas da caverna e seus fantasmas. Até que certo dia, em uma sexta-feira, começo de verão, moradores relataram ter encontrado uma menina vagando sozinha pela floresta, próximo a caverna, à procura de seus pais. Chorava muito a menina.

O rosto era o mesmo, as roupas, o vestido, os moradores estavam perplexos, como era possível uma coisa daquelas, era a jovem Alice, desaparecida há mais de vinte anos, estava ali, diante de seus olhos. 

Alice retornou misteriosamente.







domingo, 17 de outubro de 2021

Crônica.

 


TODO DIA É A MESMA COISA


- Não existe nada impossível para esse povo Carlinhos, estou te dizendo, povo maluco é esse, dá nó em pingo d' água, eu nunca vi nada igual. Esse povo do quebra é dose.


  - Antigamente não existia coisas assim José, eu me lembro, não havia nada de tão... Como vou dizer... Tão... Absurdamente escancarado. O pessoal era mais discreto em suas pretensões, tal, pelo menos tentava ser discreto, agora... Fazem, desfazem e acusa sem pé nem cabeça, na cara dura.


  - Pois então, veja bem... Lá em casa a Marisa é esquerda, o Juninho é direita, pensa em um pé de briga que dá, um fala isso, outro aquilo, e você não sabe da maior, ficam os dois jogando a bola pra mim, "não é pai, diz pra mãe diz se não é pai", a Marisa faz a mesma coisa.


  - Complicado amigo... Mas aí, de que lado você está nesse conflito doméstico? Direita, esquerda? E aí? Em cima do muro?


  - Do lado do equilíbrio meu caro... Equilíbrio.


 - Equilíbrio? Explica isso.


  - Na minha opinião, não deveria existir lados degladiando-se, atacando-se de forma até, vexatória às vezes... É muito feio isso, que imagem ruim fica para os de fora.


  - Então não deveria ter lado nenhum na sua opinião?


  - Não é isso.


  - O que é então?


  - Não existiria equilíbrio se não tivesse lados opostos para serem, justamente levados a um ponto de igualdade e equilíbrio, discutir civilizadamente, ideias diferentes, para a partir daí, chegarem em um consenso onde todos sejam beneficiados.


  - Verdade, olhando bem, a balança está bem desigual, ninguém ganha com isso. Mas, isso que você está dizendo é quase uma utopia.


  - É... Sei disso. Entendo que, o povo sempre, sempre sai perdendo nessa, um quer gritar mais alto do que o outro, esse acusa aquele e tal... Entende. A coisa é muito mais complicada meu amigo, isso  não é recente, são pequenas coisas que foram acumulando até virar uma bola de neve. Não adianta jogar tudo nas costas do atual presidente, ele não é o culpado de toda essa baderna. Isso veio lá de trás, o problema é que a batata quente parou na mão dele, todo mundo vê, sabe e se faz de desentendido, e o pior é que não deixam os que querem de fato trabalhar fazer o correto


  - Sei não... Isso tudo que você diz é verdade, mas quem enxerga? Se você fala é ridicularizado, até agredido em alguns casos. Os caras levantam bandeiras pelas ruas de regimes  comunistas, sanguinários que matam inocentes... Pode isso?


  - Vamos esperar no que vai dar as próximas eleições, coisa boa eu sei que não é, isso eu garanto a você. Mas vamos esperar.


  - Nem vamos abordar o assunto de eleições, se não... Vamos sair só amanhã daqui.


  - É bem isso mesmo. Urna eletrônica, pode, não pode, é segura, não é... Isso, aquilo... Rapaz, é uma coisa de louco.


  - Quer saber... Já deu por hoje, tá escurecendo, a Praça tá enchendo desses malandros, segurança é pouca mesmo, melhor se mandar.


  - Vamos então, amanhã voltamos, assunto é que não vai faltar.


  - Isso não vai mesmo, pelo menos vamos tentar não falar de política novamente.


  - Faz três meses que estamos dizendo isso, e todo santo dia é a mesma coisa. É sentar aqui e descer a lenha nessa cambada.


  - Tem que fazer isso... Vamos embora, no caminho pago uma para você no bar do Zé.




( A.L )


domingo, 10 de outubro de 2021

CRÔNICA.

                    EMPREGO NOVO.


No mês que passou, setembro, eu havia completado três anos no antigo emprego - eu já explico o termo 'antigo' - nem parece que foi outro dia mesmo que comecei a trabalhar naquele local. No começo foi trágico, meu Deus! E como foi... Hoje dou risadas quando rememorei toda a tragédia Inicial, mas foi exatamente como acabei de mencionar, afinal, antes desse emprego, fiquei por quase três anos desempregado, ou, como se costuma dizer, 'disponível no mercado de trabalho'. 

 Ainda antes desses três anos de disponibilidade do mercado, eu havia sido sumariamente riscado da folha de pagamento da fábrica por onde fiquei por quinze anos. Uma vez fora, era o momento de recomeçar, porém, não seria tão simples essa retomada, afinal, herdei alguns presentes desagradáveis daquela empresa, quatro parafusos e duas placas na coluna, uma cirurgia de artrodese lombar, embora degenerativa, o decorrente agravamento ocorreu devido ao serviço pesado e nada ergonômico ao longo dos anos. Que o leitor compreenda, na empresa que fiquei ( por quinze anos ), embora o laudo da perícia diga o contrário, é sim uma sequela, consequências do esforço repetitivo que eu exercia lá, sendo assim, não seria ético e nem recomendável para empresa a minha demissão, mas... Passado tudo isso, processo judicial correndo a solta, consegui um novo emprego, balcão de açougue, e como dito no início do texto, foi trágico nos primeiros meses, ter que relembrar uma profissão de mais de vinte anos atrás, não foi tão fácil como imaginei. Venci os primeiros meses, lá fiquei por três anos. Com o tempo, fui ganhando confiança, experiência, conhecimento, só não ganhei 'reconhecimento' o que me angustiava bastante, demorei para perceber que era hora de novos horizontes, e esse novo na minha vida surgiu repentinamente, como uma flor que desabrocha ao romper da aurora. 

Uma nova oportunidade, salário melhor, horário mais justo, princípios mais humanitários. Começos são sempre começos, complicados, frio na barriga, incertezas, tudo isso faz parte do plano, não devemos ter medo dos desafios, apenas confiança em nós mesmos, para sempre darmos o nosso melhor.

Do antigo emprego nem tudo foi espinhos, trago boas recordações, momentos felizes, amizades maravilhosas que jamais vou esquecer, boas risadas. Existem em todos os lugares pessoas de todos os tipos, das monstruosas cheias de maldades, as almas benevolentes que aspiram à bondade, com o coração maior que a si mesmos. Não vou revelar os nomes dos poucos anjos e nem dos muitos demônios que encontrei nesses três anos, que Deus os abençoe grandemente. Aos terríveis, maldosos, que me feriram e tentaram me derrubar, também peço ao bom Deus que ilumine esses corações a luz do entendimento, e que a bondade transborde de cada coração. Agora é hora de mudar, novas direções para destinos gloriosos.





CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...