domingo, 28 de fevereiro de 2021

CRÔNICA.

 


A MERCÊ DA SORTE.


É preciso ter coragem…

Que Brasil é esse? 

A política é um circo de horrores, nada menos do que isso senhores e senhoras. Estamos cercados de políticos corruptos, ladrões disfarçados de mocinhos, se fazendo de bons samaritanos,  quando, na verdade, são lobos devoradores. Fazem os seus discursos ensaiados, ludibriam o povo com promessas vazias, colocam-se como senhores da situação. Cada um conta a sua mentira, tantas vezes quanto puderem, até que, de tanto repetir, tais mentiras são vistas como verdade.

É preciso ter coragem…

Que mundo é esse?

É tanta mentira que me fez lembrar de uma fábula, que fala justamente sobre a verdade é a mentira. Diz assim:


   Certa vez, a Mentira e a Verdade se encontraram.

   A Mentira, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe:

   - "Bom dia, dona Verdade!"

   Zelosa de seu caráter, a Verdade, ouvindo tal saudação, foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não havia nuvens de chuva; os pássaros cantavam; não havia cheiro de fumaça na mata; tudo parecia perfeito.

   Tendo se assegurado de que realmente era um bom dia, respondeu:

- "Bom dia, dona Mentira!"

- "Está muito calor hoje, não é mesmo", disse a Mentira.

Realmente o dia estava quente demais. Desse modo, vendo que a mentira estava sendo sincera, começou a relaxar, a "baixar a guarda". Por qual razão haveria de desconfiar, se a mentira parecia tão cordial e "verdadeira"?

   Diante do calor insuportável, a Mentira, num gesto de aparente amizade, convidou a Verdade para juntas se banharem no rio.

Como não havia mais ninguém por perto, a Mentira despiu-se de suas vestes, pulou na água e, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe, insistentemente:

- "Vem, dona Verdade, a água está uma delícia, simplesmente maravilhosa."

   O convite parecia irrecusável. Assim sendo, dona Verdade, sem duvidar da mentira, despiu-se de suas vestes, pulou na água e deu um bom mergulho.

   Ao ver que a Verdade havia saltado na água, rapidamente a Mentira pulou para fora, em segundos vestiu-se com as roupas da Verdade que estavam à margem e se mandou sorrateira. Tendo suas roupas furtadas, a Verdade saiu da água e, por sua vez - ciosa de sua reputação -, recusou-se a vestir-se com as roupas da Mentira, deixadas para trás. Certa de sua pureza e inocência, nada tendo do que se envergonhar e não tendo outra opção que lhe fosse coerente, saiu nua a caminhar na rua. Desde então, aos olhos das pessoas, ficou mais fácil aceitar a mentira vestida com as roupas da Verdade do que aceitar a Verdade nua e crua.


   É uma belíssima reflexão, justamente o que acontece no alto escalão de nossa política. Um bando de mentirosos vestidos de verdade, enquanto nos bastidores, a verdade caminha nua e crua na face envergonhada daqueles que realmente desejam fazer algo de bom. Não estou defendendo 'esse' ou 'aquele', direita ou esquerda, pouco me importa o lado, se é debaixo para cima ou de cima para baixo. Não importa a sigla do partido, o que importa de verdade, é que todos os políticos eleitos legitimamente, lá fora empossados para fazerem o melhor para a nação, não para si mesmo é seus egos… Mas, como nada nesse país funciona de 'Verdade',, ficamos por aqui, aguardando as cenas dos próximos capítulos, a mercê da própria sorte.


( A.L )


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Crônica.

 




NEM TUDO É BELEZA.


   Ainda está escuro, abro o portão com cuidado, olho de um lado e outro… Nenhum movimento na rua, absoluto silêncio. Os primeiros passos são seguidos de uma oração, que é iniciada agradecendo a Deus pelo privilégio de ter mais um dia de vida, pelo ar que respiro, pela oportunidade do emprego - embora que não seja o trabalho dos meus sonhos - mas é através dele que o todo poderoso tem abençoado minha vida, sou imensamente agradecido por tudo que tenho.

   O céu ainda escuro exibe estrelas bailarinas e cintilantes, parecem acenar para os terráqueos que, desatentos, se quer as percebem na imensidão celeste. Sou entre os poucos transeuntes da madrugada, o único aficionado olhando mais para o alto do que para frente. Vez e outra algum buraco na calçada me surpreende em tropeções desagradáveis, nada mais justo para quem olha mais para o céu do que para o chão onde pisa. Nem sempre a lua se faz presente, e quando se faz, a dama da noite aparece roubando toda atenção é dando um espetáculo de beleza.

   Passos a mais por calçadas desniveladas, uma rua aqui e outra acolá, me encontro na 'Atanásio', vou tranquilo rumo ao trabalho, rua essa que termina na Avenida Itavuvu, com um pouco mais de caminhada e chegaria ao destino final, mas… Ainda na Atanásio, olho para o céu, ao leste, a luz do dia começa a despontar no horizonte, tons de vermelho e laranja salpicam nas despesas nuvens afogueadas e com estonteantes tonalidades. É de um espetáculo belíssimo, criação das mãos de um Deus perfeito, cujas obras são excelentes.

   Nem tudo é beleza, infelizmente, em algumas dessas ruas, me deparo com jovens extremamente alcoolizados saindo de festas que varam de madrugada. Carros com sons altos, moços e moças com copos e suas bebidas destiladas. Eles gritam e dançam no meio da rua, entram na frente de carros, perturbam o silêncio dos outros. Passo por eles sempre de cabeça baixa, não os condeno, lamento pelo fato de direcionarem suas alegrias de modo tão errante. Essa é a nova tendência para esses novos tempos. 

   O homem descarrilou-se dos trilhos da sabedoria divina, trocou a sua identidade original por outra forjada nos domínios infernais. Buscam o prazer a todo custo, pagam alto preço por momentos de perdição. Para alguns desses jovens tais atitudes revelam apenas suas vontades triviais e reprimidas, extravagantes e inocentes aos seus olhos, porém, são esses caminhos de perdição. Quando vejo jovens tão belos e inteligentes, desperdiçando as suas vidas em coisas que não tem sentido, lágrimas correm dos olhos. No que se tornou o homem?

   A passos lentos vou caminhando, olhos e coração no céu. Transeuntes apressados em suas bicicletas, desejosos para chegar ao trabalho, não é a vontade de chegar em um lugar maravilhoso e encantado que os motiva, é pelo medo de se atrasar e levar uma advertência. O sol ganha força, escala o azul celeste, um novo dia começa, uma nova oportunidade para aqueles que desejam fazer diferente em um mundo tão sem cor e igual.

Finalmente chego ao trabalho, pronto para mais um dia de batalha.


( T.P )

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

MINI CONTO.




 AGONIA E ÊXTASE.


Carlos estava exausto, dia cansativo, as coisas não aconteceram como ele gostaria que fosse, aliás, nos últimos meses, mudanças importantes na gerência do setor onde trabalhava deixou todos com os nervos à flor da pele. Quando pensavam que as novas diretrizes trariam ares diferentes, veio a  frustração, os mesmos erros, as mesmas falhas cometidas na gestão anterior. O ciclo vicioso do erro continuava.

   No ponto de ônibus, Carlos refletia nos últimos acontecimentos, não era somente as turbulências no trabalho, havia também as tempestades na vida pessoal.  Amizade de anos com Joana, colega de trabalho, que sem uma explicação lógica, afinal - não existe lógica no amor - aquela amizade transformou-se no mais sublime e perigoso dos sentimentos. As conversas diárias no refeitório da empresa durante o intervalo do almoço, palavras que tomavam rumos diferentes, não era para ser daquele jeito, a sua razão dizia que não, porém, o coração fez tudo convergir para o caos que é amar. Ele, casado, ela também, nos olhos dele, o mesmo sentimento de desejo, pecado, agonia, êxtase, medo e euforia que também refletia nos dela.

   Mais uma tarde, mais um dia de trabalho, faltava as palavras certas nas trocas de olhares… Carlos queria os lábios de Joana, o cheiro dela, o toque ardente, a pele em chamas, 'talvez um sim', 'talvez um não', 'o que seria se o convite fosse feito', pensava ele. Ao mesmo tempo que o desejo queimava no coração, a sua covardia incinerava a sua alma. Dias e noites, pensamentos intensos, sonhos, a mensagem apagada no celular. O desespero de não fazer nada quando se quer tudo, a agonia de disfarçar para inocente esposa os seus gritos de amor alheio. Havia momentos em sua solidão em que ele se colocava todo decidido, faria isso, falaria aquilo, custasse o que custasse. Mas, bastava o perfume de Joana, a presença, o olhar feiticeiro para roubar-lhe toda audácia, e novamente Carlos, como em todos os outros dias, era apenas sorrisos, desejos e medos. O amor estava ali, do lado de fora, como uma paisagem que se vislumbra da janela do veículo sem nunca poder tocar.

   Carlos estava exausto, entrou no ônibus, procurou inutilmente lugar para sentar-se. De pé, equilibrava todo o seu cansaço. O ônibus saiu devagar, trânsito carregado, do lado de fora, na calçada, Joana acenava para ele, que, sem jeito, retribuiu o aceno. Era a face do amor dando adeus ao desespero. Só mais um dia, mais uma palavra e tudo estaria consumado. Enquanto o coração gritava pela danação do pecado, sua alma revelava-se covarde demais para fazê-lo. 


domingo, 14 de fevereiro de 2021

RESENHA.

 



O TESTAMENTO DE ABRAÃO.


   Existem aqueles livros que nos arrebata logo nas primeiras páginas, esse em específico é um deles. Diferente de muitos que já li, as primeiras palavras deste livro prendem o nosso olhar. É de uma simplicidade e beleza poética estonteante, o que por si só, valeria os trinta capítulos que compõem essa obra. O livro aborda o final da vida de Abraão, apresentando o patriarca com o um homem extremamente bondoso - com todos, aliás, ricos e pobres - tal amorosidade como nunca se viu, abrangendo todos os seres humanos, Abraão como todos os mortais, estava destinado a morte, e como esse dia se aproximava, Deus envia o seu Arcanjo Miguel para lhe anunciar que o fim dez seus dias chegava, que era para ele se preparar.

   O anjo que Deus enviou a Abraão o acompanha até a sua casa, o seu filho Isaac, vendo-o, percebe se tratar de um ser celestial.  Miguel, o anjo enviado, confirma para Isaac a promessa feita por Deus a seu pai. Abraão pede ao filho Isaac que prepare uma mesa para ele é o anjo, ambos comem, o anjo sai dali para o céu num piscar de olhos. O anjo se admira diante da bondade e amorosidade de Abraão, não teve coragem de lhe dizer sobre sua morte. O arcanjo retorna a Deus no fim de tarde, para o adorar, pois é costume de todos os anjos assim o fazerem. Miguel fala ao senhor da dificuldade de dizer a Abraão sobre a sua morte, Deus, no entanto, dá a Isaac um sonho referente à morte do pai, para que Miguel lhe dê a interpretação do mesmo. E assim acontece, Isaac adormece e tem o sonho, acorda angustiado e chorando, revela ao pai que sonhou. Sara ao ver a cena, percebe que o visitante em sua casa se trata de um anjo, revelando a seu esposo sobre o fato. Todos percebem que tal visita se trata de alguma revelação do anjo, boa ou ruim.

   O anjo Miguel revela a Abraão do sonho, que ele, Abraão, deve arrumar sua casa, abençoar seu filho, pois sua morte se aproxima. A princípio o velho patriarca fica temeroso, mas o anjo lhe conforta a respeito da inevitabilidade da morte. Abraão pede ao anjo que fale ao senhor, pedindo-lhe permissão, antes da morte, que ele visse os reinos do mundo e tudo quanto há na terra e no céu. Miquel intercede diante de Deus, que por sua vez permite ao seu servo ver os reinos da terra e coisas no céu.

   Abraão é levado por Miguel em uma nuvem, ele então começa a ver os reinos do mundo, toda sua impiedade, sendo justo, questionava o anjo das imoralidades que via. Deus havia dito a Miguel que fizesse tudo quanto Abraão dissesse, e, uma vez, o velho patriarca contemplando tais atrocidade, pedia ao anjo que destruísse aquelas almas atrozes, assim era feito, de sorte que Deus deu ordens a Miguel que mostrasse o reino e mistérios celestiais. No céu lhe foi revelado o mistério da porta estreita e da larga, e do homem no trono, que sorri e chora conforme as almas, após julgadas, entram pelas portas. O homem no trono chora ao ver muitas almas entrando na porta larga, que leva a perdição, mas sorri com as poucas que entram pela porta estreita, que leva a salvação. Abraão é levado por Miguel a outro lugar, e vê o julgamento das almas que ali se apresenta. As que são achadas com máculas e pecados são levadas para os atormentadores( inferno ). Cada alma tem sua vida relatada em livros, onde estão descritos todos os seus atos, bons e ruins, o justo Juiz se vale desses relatos para apresentar para as almas desencarnadas as suas justas sentenças conforme seus atos em vida.

   Terminado de mostrar todas as coisas, o poder de Deus, o julgamento das almas e o seu destino, Abraão é levado de retorno a sua casa, Miguel lhe fala que está na hora de partir dessa vida, que sua hora havia chegado, uma vez mais Abraão se recusa a ir. Miguel retorna ao céu, notifica a Deus do ocorrido, Deus então e via-lhe o anjo da morte para que o traga, porém, o horrendo anjo da morte, com ordens divinas, vestiu-se de beleza e formosura e foi ao encontro de Abraão. A morte se revela ao velho e amado patriarca, revela que foi enviada por causa dele, em determinado momento, a pedido de Abraão mostra-lhe sua verdadeira e horrenda face, revelando ainda os tipos de mortes e a forma que ela, a morte, se apresenta para cada alma. Abraão se recusa a ir, diz que está cansado, a morte pede para que ele toque em suas mãos para ter a suas forças reparadas, era engano da morte, pois ao tocá-lo, sua alma imediatamente se retirou do corpo. Abraão estava morto. Miguel e muitos anjos aparecem para receber a alma de Abraão, que é levada imediatamente ao paraíso de Deus, que, pela vontade do altíssimo, permanecerá lá, para receber naquele lugar de descanso ( agora conhecido como seio de Abraão ) as almas justas daqueles que partiram justificados.

   Belíssimo livro em que descreve o patriarca e amigo de Deus de um modo totalmente diferente.


Crônica.

 




CONFERÊNCIA DOS ANIMAIS.


   Foi convocada em caráter de urgência, uma grande conferência, como nunca antes vista, reunindo incontáveis animais, de inúmeras raças, tamanhos e tipos e países. Todos esses animais se agruparam organizada e civilizadamente, em um local ultra secreto. O acordo de paz assinado por todos os animais assegurou que nenhuma espécie atacaria a outra ou se valeria de sua superioridade física durante o evento. De comum acordo, todos respeitaram a todos, de modo que onças, leões, tigres, cachorros, leopardos, gatos, ratos, coelhos,  esquilos e demais animais estivessem todos juntos sem brigar,  atentos ao pronunciamento que logo mais começaria.

   Quem presidia a prestigiada conferência era o Conde Pluto, um Border Collie de quinze anos. O seu antigo dono era o presidente da maior rede de pet shop do mundo. 

O tema anunciado por Pluto era: " O FIM EMINENTE DE TODOS OS ANIMAIS". Todas as espécies aguardavam com grande ansiedade o início do pronunciamento de Pluto. A maioria dos animais presentes compartilham de algo incomum, eram vítimas da impiedosa 'castração', ação essa, causada insensatamente por seus respectivos donos e criadores. Consternados com a barbárie sofrida e cada vez mais crescente, eles não podiam mais ter descendência, vida oriunda de suas próprias vidas. Se nada fosse feito, em pouquíssimos anos não haveria mais animais na face da terra.

"O homem não é digno de nós", dizia Pluto em determinado momento do discurso, eufóricos, os animais faziam os mais diversos tipos de sons e uivos.

" Dizem que somos irracionais, que agimos por instinto. Agora vejam eles, tão sabedores de tudo, eles matam seus semelhantes por nada, roubam, abusam de menores, criadores de armas capazes de aniquilar a própria espécie… Eles, egoístas, egocêntricos, demoníacos… Ainda dizem que nós é que somos irracionais." Os animais iam loucura a cada palavra de Pluto.

O sábio Border Collie conhecia pela sua vasta experiência de vida, que mesmo perante todos os seus esforços, discursos, palestras e de todos os outros compatriotas pelo mundo. Todo esforço para mudar a situação estava sendo em vão. Poderiam sim, mediante muito trabalho, dificultar a mão de ferro do homem, no entanto, não poderiam impedir o inevitável...  Em questão de poucos anos não haveria mais animais vivos, apenas exemplares empalhados em museus. E não satisfeitos com toda essa tragédia anunciada, o homem tentaria pôr fim à sua própria existência, pois a cada dia, os homens percebem não ser capazes de viverem consigo mesmos. 

Pluto então terminava o seu discurso dizendo: "Diante de tudo o que foi dito, diante da inevitabilidade, que tenhamos todos… Um bom fim".

Cada animal presente se retirou em silêncio, cabisbaixos, orelhas caídas é rabo entre as pernas, seguiu cada um sem dono é sem rumo pelos ermos dessa vida… Orelhas caídas, rabo entre as pernas, vai o cão arrependido… No olhar o reflexo de uma certeza, a de que o homem é a única raça incapaz de suportar a si mesma.


(L. B)




terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

MINI CONTO.

 



Desandou a chorar feito criança, os olhos inundados em água, molhando todo o rosto, pingando o chão da sala. Não havia quem a consolasse. Maria sentou-se no piso frio, agachou-se e colocou a cabeça enfiada entre as pernas, na desesperada tentativa de abraçar a si mesma ao ponto de desfazer-se naquele abraço de angústia. Aos seus pés formava uma pequena poça de lágrimas.

Maria não queria ser consolada por ninguém. Nem pelo tio, nem pelo seu irmão, pai, ou mãe, nem mesmo por Margarida, sua colega de infância e vizinha. Ela não queria ouvir conselhos, nem sermão, nem nada do tipo motivacional, dizendo que tudo ia dar certo e coisa e tal... O seu único desejo era chorar, porque melhor eram as suas lágrimas do que uma multidão de palavras inúteis que em nada mudaria sua tristeza.

A escuridão da noite ganhou a janela da sala enquanto o último filete de raio de sol desapareceu. Não havia mais ninguém fazendo companhia a Maria, deixaram ela sozinha. O pai e a mãe ficaram na cozinha com o irmão, vez é outra espiavam no canto da porta, Maria continuava no mesmo lugar, chorava menos, mas não se levantou. 

" É outra crise mãe, só fica de olho aberto com ela, preocupa não que vou arranjar tratamento pra ela". Dizia o irmão. " Dessa vez foi mais forte Márcio, se não tá vendo, foi mais forte, Santo Deus, quando isso vai acabar…" 

Passavam das dez da noite quando fez completo silêncio. Maria não chorava mais, dormiu encostada na parede, toda desajeitada, as pernas esticadas e braços caídos. Com jeito, o irmão a pegou nos braços, magra como estava, não teve dificuldades. Colocou-a na cama da mãe. Dormia pesado a coitada, como nunca antes, ela foi finalmente vencida pelo efeito do remédio diluído no copo de água que o irmão havia preparado minutos atrás. Maria sorria enquanto dormia, de vez em quando pronunciava algumas palavras indecifráveis, nem parecia aquela moça afogando-se em lágrimas de minutos atrás. O sorriso de sono brilhava no rosto pequeno… " Deve de estar sonhando com coisas boas", disse a mãe. " Poderia ficar assim para sempre, é nunca mais na vida acordar", completou. A mãe ficou ao lado da filha, observando os seus sorrisos, cada vez que Maria sorria finas gotas de lágrimas desciam dos olhos de dona Marisa, agora era a mãe que chorava copiosamente a cada sorriso da filha, assim ficou por longas horas, até ser vencida pelo sono deitando-se ao lado dela


domingo, 7 de fevereiro de 2021

CRÔNICA.

 



UMA VISITA NADA COMUM.


   Um pensamento nada comum rodeou meus perturbados neurônios durante a semana inteira. Dada a insistência, passei a refletir no que eles ofereciam, assim permaneci por longas horas e em vários aspectos que esta insana ideia me propôs.

   Tudo começou bem por acaso, durante um dia qualquer, em que fazia muito calor. Aproveitei para passar o dia na piscina com amigos. Ambiente tranquilo, espaçoso, sem aglomerações, perfeito para um final de semana daqueles. Sentei à beira da piscina, curtindo o Sol, vendo meus amigos, casais com seus filhos brincarem na água. Repentinamente um pensamento me assaltou… Acontece que, o local onde eu estava, foi o palco da lua de mel a dezesseis anos atrás de meu amigo, portanto, era uma revisita dele, não era o mesmo homem que vislumbrava ali, era outro cara completamente desconhecido.

   Imagine se fosse possível voltar no tempo. Permita-me explicar… Imaginem que, de repente, depois dele retornar do banheiro, no exato momento de sair, ele é envolvido por um lapso de tempo, saindo não em Janeiro de 2021, mas, exatamente em Novembro de 2005. Imaginem o seu choque… O local em si permaneceria o mesmo, com a diferença de estar tudo mais novo. As pessoas são completamente diferentes. Desesperado ele nos procuraria por todo lado, até que, em determinado momento, percebendo que está no passado, sem a menor ideia de como aquilo foi possível.

   O sujeito acaba por descobrir a chocante realidade ao vê-lo mais a frente, sua versão jovem, magérrimo, ao lado da esposa, jovem e bela. Dois casais apaixonados em lua de mel… Por alguns minutos ele se senta e observa.

   O seu desejo depois de certa reflexão era contar para todos ali que ele era do futuro, mas não, o seu plano seria outro. Esperar até que o seu eu mais novo fosse ao banheiro, e o seguir,  quando lá dentro, sozinho, o surpreenderia. Primeiro seria o espanto nos olhos de seu eu mais novo, o desejo de correr, 'como ele se  conhecia bem', a curiosidade venceria o espanto. " Não tenho muito tempo",  disse o homem, " Tenho coisas importantes para lhe dizer, coisas concernentes ao teu futuro". O seu eu de olhos arregalados, quase sem piscar ficaria apenas ouvindo o que o senhor do futuro ia dizendo sobre o brilhante futuro…

   Caríssimo leitor de todos os domingos. 

   Eu lhes proponho um pequeno exercício, façam isso mentalmente, dessa forma não serei o único louco aqui. Imaginem toda essa cena, troquem os personagem e coloque os senhores e as senhoras, suas famílias, enfim, neste caso, o que vocês diriam para vocês mesmos?

   Eu sei que isso tudo é loucura deste jornalista maluco, perdoe-me por favor. No entanto, com tantas coisas loucas acontecendo por aí, esse não é um pensamento descabido, por isso amigo leitor, fique a vontade para falar com o seu eu mais novo… Afinal, o que você diria se houvesse essa insana e desmiolada possibilidade?


( A.L)


CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...