domingo, 21 de novembro de 2021

Crônica.

 



ESCONDIDO EM MEU SORRISO...


   Nada como um dia de folga, descanso semanal merecido, esse dia era na segunda-feira, quando eu estava no antigo emprego, agora, de emprego novo, migrou para, quarta, depois terça e agora na sexta-feira, o que é ótimo, independente do dia da folga, o que importa é ter um dia para poder descansar e repor as energias... O que não é tão verdade assim, um dia apenas não é o suficiente para revigorar o corpo, porém, lhe dá tempo para respirar. Afinal ninguém é de ferro, e que soe o gongo para um breve intervalo entre um round e outro.

   O meu interior não reflete o exterior. O interior desse cronista talvez dissesse algo como...


... Eu que pensei que seria diferente… Sim, eu pensei que seria diferente, deveras acreditei que dessa vez seria diferente, ah! Como eu me enganei... Não foi como pensei, angustiado, chorei, ninguém viu as lágrimas, se viu, comportaram como se nem tivesse visto. É sempre assim, desde muito tempo, que a propósito, até me foge da memória, de tão largo que é esse tempo. 

Solidão… Sim, é solidão. Eu me alimento da solidão, dela bebo, embriago-me todos os dias com ela. Tornei-me um solitário caminhando por entre as pessoas, sempre vendo sem ser visto, percebendo sem ser percebido. Ah! Doce condição de ser esse poço de esquecimento. A minha alma está em súplica desesperada, quer por que quer desvencilhar-se desta condição cruel de não ser notada. Eu que pensei… Sim, realmente acreditei com todas as forças que eu era alguma coisa para algumas pessoas. Se eu fui, não houve nenhuma demonstração que fizesse perceber tal. 

Muitos já notaram isso, sim… E olhe que alguns até tentaram avisar-me, eu, estúpido, cego, não quis escutar a ninguém, nem mesmo a voz do meu próprio coração. Ah! Vida cruel, como eu gostaria de habitar a ilha solidão, de ser Giovanni Marconi, que pena que ele é apenas meu fictício personagem, o delírio de minha criação. 

Solidão… Sim, há quem por aí diga, que existem piores, se verdade for, nem lá por perto quero passar, mas, acontece que essa dor que me assola, é por demais rancorosa. Ah! Como eu gostaria que tudo fosse diferente, que a vida, pelo menos por uma única vez, estivesse à altura do que se passa em minha cabeça. A vida mostrou-se por demais astuta, pregando-me peças. 

Eu que pensei… Sim, foi uma ilusão, e não adianta dizer: " Eu avisei", Eu sei disso. Não quero muita coisa, não, claro que não, acredite no que digo… Não desejo o estrelato, quero apenas ser visto, por acaso é pedir muito... Não foi a primeira e nem vai ser a última… Ah! Não sei se posso continuar com isso. Pobre de mim. Solidão… Sim, dessa vez o golpe teve uma precisão incrível, atingiu o coração, a alma, tudo. Tentei esquivar dos ataques, mas, quem me alvejou, foi certeiro nos golpes, soube exatamente como fazer e quando fazer. O meu desejo é desaparecer, sumir do mapa, porém, bem sei que desaparecer não resolverá o meu problema, pelo contrário, o fará ainda pior...


   Essa seria a voz da alma lá no âmago do sentimento, aquela que ninguém vê escondido em meu sorriso, mas, é dia neutro amigos, e quero apenas ver o reflexo do meu exterior, que nesse momento parece bem mais agradável.


( T.P )


domingo, 14 de novembro de 2021

Crônica.



 A DECISÃO É SUA.


  Talvez eu devesse começar a crônica da seguinte maneira...

  ... O mundo como nós o conhecemos foi moldado sobre fundamentos falsos, tudo quanto aprendemos na escola desde criança é uma completa mentira... Esqueça tudo o que você aprendeu... 

Verdades sobre a origem de nossa raça foram escondidas, assim como muitas outras coisas que vocês nem imaginam. A verdadeira face do mundo está por detrás das cortinas de ferro. Os seres humanos estão acostumados a aceitar tudo o que a mídia diz com muita facilidade, nada é questionado, e ninguém se preocupa em verificar se o que estão dizendo ou ensinando é realmente aquilo mesmo. As pessoas nunca foram tão fáceis de dominar.

O que você pensa que é verdade, pode ser mentira, e a mentira que te ensinaram pode ser verdade, você é que vai escolher o que é verdade e o que é mentira. Conspirações sempre fizeram parte da história e de nosso folclore, planos absurdos e paranoias que parecem ser reais, muitos dizem que tudo não passa de uma farsa, de invenções fabulosas. Há um ditado que diz que uma mentira contada muitas vezes torna-se com o tempo uma verdade, e é isso que vem acontecendo há séculos, basta controlar a informação, a mídia é o ponto forte nesse plano, controlando as informações que ela transmite logo você está controlando toda a massa. Nem tudo o que passa na televisão é verdade, eu diria que a porcentagem de verdade é bem pouca...


  Que tal...

  Talvez eu comece de outra maneira.

  Mas... nesse mundo maluco em que vivemos, que diferença isso faz? Se somos ou não controlados, se existem ou não conspirações.

  É domingo amigo leitor.

  Apenas isso, nada mais, um dia como outro qualquer e nada além de mais um dia, controlando ou sendo controlado, com verdades ou com mentiras, é menos um dia...

  O que você queria? 

  É difícil de dizer, e eu sei como são complexos os nossos sentimentos, a alma às vezes parece que é separada do espírito e do corpo, o coração dilacerado dentro do próprio peito em ânsias infinitas.

  O que você quer que eu diga?

  Não há nada de bom nesse mundo, disso nós sabemos, finjam então que tudo é magnífico e transformador...

Contente com o que você tem e é, não sofra por coisas desnecessárias. É apenas mais um domingo que parou na curva do tempo, por um instante apenas, não vá se animar, logo ele se solta e segue o seu curso no infinito temporal que nunca para. Nós continuaremos aqui, com nossas vidas bestas sem nenhum sentido. Sou apenas uma voz que grita incessantemente sem ser ouvida. Sou palavras sem sentido em perecíveis olhares e pensamentos. Uma ideia coletiva que virou narrativa, e depois de lida, transformou-se novamente em ideia definitiva.



( L.B )


domingo, 31 de outubro de 2021

Crônica

 BUSCANDO O EQUILÍBRIO.



Eu não compreendo o motivo de não encontrar o meu equilíbrio... Eu devia de tê-lo nas palmas das mãos, tão facilmente, 

O que acontece? 

Os dias foram ruins, isso eu sei, pelo menos coisa de três semanas para trás, foram dias terríveis e tenebrosos, que me tiraram completamente a paz de espírito, correria, incertezas, chateações, enfim, deu para entender que não foi nada fácil. Agora a realidade é outra, e se mostra tão mais tranquila em certos aspectos, em paz, sem perturbações aparentes, porém, lá dentro do coração, no âmago dos sentimentos, existe alguma coisa fora do lugar que não atinei no que é. Esses sentimentos são complexos, quase inexplicáveis.

Você já tentou esquadrinhar os teus sentimentos?

Talvez como eu, você tenha tentado de muitas maneiras, sem obter sucesso nesta difícil tarefa... Sendo assim, seja bem vindo ao meu mundo caríssimo leitor. Eu sempre busquei o equilíbrio em todas as áreas da minha vida, inclusive, sentimental, contudo, em quase todas, obteve, certo, sucesso em medida aceitável, em algum momento da vida. Já os sentimentos regidos pelo déspota coração, esses são como touros bravos, dificilmente domináveis, inconstantes, perigosos. É justamente essa instabilidade que me jogou no barco da literatura, poesia e da prosa. Busco explicar nas palavras o que eu não consigo dizer ou expressar pessoalmente. Em prosa e em verso é outra história, o meu próprio universo inexplicável passa a fazer sentido.

Nesse teatro de complexidade da vida, sou apenas mais um na fila do pão, nessa de dominar essa fera enjaulada dentro do peito. 

Quem nunca tentou que atire a primeira pedra.

É da natureza do ser humano o querer dominar e conquistar, ser dominado é conquistado está fora de cogitação, mas, justamente nesse quesito que somos pegos de surpresa por esse... Como vou dizer... O amigo que mora dentro do nosso peito. Há pessoas, não muitas - eu peco por invejá-las - que tem um completo domínio de si mesmas e jamais se deixam ser domadas por nada, aliás. São verdadeiros guerreiros, que não se deixam abater por qualquer acontecimento, são duros na queda.

Por não ter essa estabilidade, foi que na época da escola criei o meu primeiro pseudo-heterônimo, a exemplo de Fernando Pessoa. Dei-lhe o nome de 

"Alberto de Andrade Lispector" essa minha, 'personalidade', da qual também se utiliza desse espaço para escrever suas crônicas, é alguém mais voltado para política, resolvido pessoalmente, com algum viés para poesia em algumas ocasiões. Recentemente descobri outra personalidade habitando dentro de mim, dessa vez feminina, essa se auto proclama, 'Luise Batiliere', também presente nesse espaço literário, porém, totalmente avessa à política, mulher firme e muito decidida. Os seus textos por vezes são ácidos, melancólicos, extravagantes. São duas faces dentro do meu próprio eu... 'Loucura', sim eu confesso... É loucura ser eu mesmo. Afinal, loucura é necessária.

Essas vozes literárias dentro de mim representam aquilo que eu desejaria ser mas por motivos que desconheço, jamais serei. Encontrar o equilíbrio é fundamental, buscá-lo, é necessário. Não significa que vamos encontrar sempre, só o fato de tentar mudar tudo. Estou exatamente nesse ponto da vida, de uma busca constante por mudanças, e sei que vou conseguir, eu, e todos os meus "eus".



  ( T. P )


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

CONTO.

 BREVE HISTÓRIA.


   Amanheceu. 


   Segunda-feira, pouco vento, a Edward Fru-Fru está movimentada. Algumas pessoas passam apressadamente pela calçada, outras, figuram estatísticas, veículos parados em um congestionamento enorme, é mais um dia eufórico na cidade de Sorocaba. Bernadete está quase a correr para não perder o ônibus, sigo logo atrás dela, Os meus pensamentos vagam tumultuosos, perambulando pela minha cabeça de um lado a outro, desvio dos buracos no calçamento, também tenho pressa, vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Entramos no ônibus, sentei-me atrás dela, seguimos rumo ao nosso destino.


  Trânsito travado como de sempre, meia hora depois Bernadete desceu no ponto mais próximo possível da escola, 'QualiMoura Cursos', espero para descer mais a frente. Bernadete vai a passos largos, olhando de um lado para outro, desconfia de tudo e todos.


  Não demora e chegamos quase juntos na escola, que está vazia por sinal, sete e meia da manhã, somos uns dos primeiros alunos a chegar. Estamos cursando gestão da qualidade total, um bom curso, uma junção de outros quatro; metrologia, qualidade, desenho mecânico, auditor ISO. Exigências da maioria das empresas da cidade.


  Verdade seja dita, embora a escolha seja boa, Bernadete não simpatizou com o curso, 'segundo suas próprias palavras', mas… Desempregada (ou melhor), disponível no mercado, não estava na posição de fazer muitas escolhas, por isso ela buscava a opção mais favorável para se conseguir emprego.


   Os demais alunos começam a chegar a passos de tartaruga, preguiçosos, cabisbaixos. Aglomeram-se próximos a secretária, permanecendo indiferentes um ao outro. Distraem-se com os seus celulares nas mãos e fones nos ouvidos. São poucos os que se dispõem a trocar algumas palavras com Bernadete ou comigo, um e outro que perguntam qualquer coisa sem relevância.


  Bernadete é tímida, eu ainda mais, ela continua em seu canto, o mais próximo possível da sala de aula, apenas observando todo o movimento. Uma nova arremessa de alunos começa chegar - em cima do horário por sinal - a escola antes vazia agora está quase sem espaço. Aos poucos cada aluno procura a sua classe, um a um vão saindo, ainda cabisbaixos e com os seus celulares nas mãos. Quando o relógio marca oito horas em ponto, toca o sinal da escola, um barulho enjoado que machuca os ouvidos. Os demais buscam cada um o seu lugar de sempre. Eu e Bernadete entramos na classe, ela ficou do lado oposto, bem no canto da parede. 


  A professora chega logo em seguida, é dia de prova, temida prova de desenho mecânico. Bernadete está confiante quanto ao seu desempenho… Eu nem tanto.


  Prova nas mãos, depois de uma breve leitura e releitura das questões propostas, ela começa respondendo cada uma delas, com muita calma e usufruindo sabiamente de todo o tempo disponível - mulher esperta - depois de responder tudo, 'ainda com tempo de sobra' faz uma última correção. Quando finalmente ela entregou a prova, entreguei a minha em seguida, a professora corrigiu na mesma hora, o meu coração estava em descompasso novamente. Veio a primeira notícia, 'boa', Bernadete tirou dez, eu errei uma, depois veio a segunda boa notícia; a professora lhe disse, "Pode ir embora, está liberada Bernadete é Alberto". 


  Ela não perdeu tempo, foi apressadamente para o ponto de ônibus enfrentar mais uma parcela do suplício das esperas intermináveis, saiu novamente quase a correr, certamente que queria chegar logo em sua casa, na segurança de seu lar. Eu saí no seu encalço.


  De tão apressada e assustada que estava com alguns jovens que estavam fumando e bebendo na esquina próxima, ela atravessou a rua sem prestar atenção, o sinal estava aberto, gritei, não houve mais tempo para mais nada,  Bernadete foi atropelada… chamei o resgate, era tarde demais.


  E o dia se foi, levou Bernadete, sua breve história termina aqui... 


domingo, 24 de outubro de 2021

Resenha.

 

Quase memória, de Carlos Heitor Cony, é sem dúvida um belíssimo livro, dessas leituras que te prende, arrebata, levando-o a viajar pela imaginação de um mundo e um tempo que não existe mais. Essa foi a minha primeira experiência de leitura com o autor. Posso dizer sem medo que foi uma das melhores do ano. Mergulhar nessas páginas foi maravilhoso.

Cony recebe um embrulho misterioso, tudo naquele pacote, cada detalhe, o faz relembrar de seu pai, morto já há anos. 

Como seria possível tal coisa? Era como se o próprio pai estivesse enviado, todo o conjunto do envelope, a forma que foi amarrado, papéis, tudo tinha a assinatura dele. Nesse ponto, nós leitores já corroídos pela curiosidade queremos saber o que está ali dentro. O que mais me surpreendeu - é vai te surpreender também - é de saber que o presente recebido, cheio de mistérios, não trazia exatamente coisas materiais, mas, um conjunto de recordações, uma verdadeira viagem ao passado de pai e filho. A cada página vivenciamos fatos importantes da vida de cada um deles.

O importante não é o que está dentro do embrulho, mas, tudo aquilo que ele representa na vida do escritor.

Recomendo fortemente a leitura desse livro.

Crônica

 NA ÚLTIMA CURVA DA ESTRADA ESTAVA VOCÊ.



Almas que caminham para o vale da indecisão, não sabem exatamente que rumo tomar, apenas seguem o fluxo sem ao menos prestar atenção no caminho. Algumas desnudas, moribundas, melancólicas, ainda sim seguem, parecem não querer chegar e nem sair ao mesmo tempo, são passos incertos, indecisos na escuridão da noite. 

Quem são elas?

Quais os seus nomes e suas histórias?

Quem saberá os mistérios que as cercam?

As vezes sou entre elas mais uma alma sem um norte, nem ritmo, sem nome... O mundo está cada vez mais cheio de pessoas assim, 'almas ambulantes' esqueletos vestidos de carne caminhando pela rua. Vão aos bares, contam suas mentiras, perturbam por onde passam com e suas meias verdades distorcidas. Cada um conta vantagem no que fez, no que é e foi... São um bando de almas dançarinas, desejando uma valsa a mais com o caos. Você as vê todos os dias pelas ruas, se esbarram o tempo todo nelas, as cumprimentam, as olham nos olhos, mas, você não as enxerga, e nem elas a você. É um mistério que se segue sem explicação.

'Almas mortas', como diz Gogol, sim, sem vida e sentido no que fazem, buscam coisas sem razão, nada lhes satisfazem, não percebem que na verdade, são todas, 'almas mortas'. A cidade está ficando cheia de pessoas que não tem o mínimo de objetivo, nada querem, tudo lhes aborrece, são egocêntricas, gananciosas. Não sabem o que fazer.

Será que existe algo para ser feito? 

Afinal, ainda existe esperança?

Quem poderá trazer todas essas respostas?

Eu caminho em um mundo de palavras mudas, e cada uma delas fazem parte de mim, do meu eu, do meu ser, meu decadente e desconsiderado ser.

Sensações, múltiplos sentimentos que me roubam a razão, que me conduz a insensatez momentânea de achar que o nada vale tudo. Sou mais uma entre essa turba de alucinados, insanos compulsivos, sou a pior entre inúmeros. No entanto, os motivos que me levam à beira do abismo da própria loucura são complexos demais. Às vezes penso que sou um caso de internação em hospital psiquiátrico. 

Quem, afinal, nesta vida é completamente são? 

Quem nunca sucumbiu à loucura?

Somos ovelhas perdidas nas tenebrosas terras desta vida, amamos loucamente, vivemos da mesmíssima maneira, e nem percebemos que somos almas ambulantes à beira do caos. O meu coração está sendo tomado, sem muito esforço, 'ela', sim, aqueles olhos, pernas, bocas e lábios, 'ela', minha loucura voltou... Agora pensem...

Eu mesma não acreditei quando, de repente, ela desprendeu-se da multidão. Surgiu do nada mudando tudo. Eu era apenas aquela que a exemplo de todos os demais caminhava rumo ao Vale da indecisão, contudo, bastou a simplicidade da insensatez para mudar o minha direção. Eu que pensei que seria o fim, a última jornada desta desajustada. A vida tem dessas coisas, dizem tanto que de fato acreditamos que podemos ser quase tudo...

Almas que caminham até não serem mais vistas na última curva da estrada, no entanto, era você quem figurava além da curva.



( L. B )


sábado, 23 de outubro de 2021

A CAVERNA.

 A CAVERNA.




Havia qualquer coisa de diferente com Alice, ela perguntou a todos quantos conhecia a respeito da caverna e seus mistérios. Madame Lili bem que a alertou sobre as histórias assustadoras que os antigos moradores contavam daquele sombrio lugar. 

Diziam os anciões da aldeia, que a caverna da rocha era a porta de entrada para o mundo intraterreno,  habitado por demônios e criaturas desconhecidas. Alice ignorou todas as advertências de madame Lili, mesmo sabendo do risco que corria, entrou na caverna mesmo assim, curiosa em descobrir se aquelas histórias eram verídicas ou se eram meros contos populares.


Era o começo de tarde de uma calorenta sexta-feira quanto o fato aconteceu...


Aquela criatura pequena, de nariz pontiagudo, roupas estranhas, esfarrapadas e de orelhas pontudas, parada diante de Alice era a prova definitiva de que a caverna e tudo quanto diziam eram reais, e que uma das tais criaturas de que tanto se falava estava ali, diante de seus pequenos olhos assustados. 

A estranha criatura permaneceu imóvel por alguns segundos, depois moveu a cabeça levemente para esquerda e depois para a direita, parecendo estar estudando a reação da jovem, que, diante do inusitado encontro, permaneceu petrificada. Todas as suas palavras sumiram, silêncio absoluto, tamanho era o seu espanto.

Aquilo pareceu-lhe um duende, dessas das histórias de contos de fadas. A estranha criatura começou a acenar para ela com as mãos, dedos magros, unhas grandes, acenava chamando-a para acompanhá-lo. Alice estava incerta quanto a oferta do pequeno demônio, deu um passo para trás, pensou em sair correndo o quanto antes da caverna, porém, a sua curiosidade foi ficando cada vez maior do que o próprio medo, vencendo-o pouco a pouco. 

O duende acenava com as mãos, era um convite muito estranho, tudo ali era estranho. Por fim, a criatura vendo que Alice permanecia no mesmo lugar, a chamou pelo nome, proferindo sua rouca voz que ecoou no interior da caverna.


- Não tenha medo Alice - sua voz ecoava no interior da caverna - Venha comigo menina, não tenha medo minha criança doce criança de olhos verdes.


Alice admirou-se do duende estar falando com ela, aquilo tudo era surreal, o espanto foi dando lugar para admiração e curiosidade. Alice estava receosa, no primeiro momento, nada respondeu, ameaçou em dar mais um passo para trás, quando novamente ouviu a voz do pequeno ser.


- Por favor! Não vou lhe machucar... Venha conhecer um mundo cheio de seres fantásticos e mágicos, não é esse o  desejo de seu coração, conhecer os mistérios da caverna?


Vencendo o seu medo, Alice arriscou dialogar com o duende.


- Você é mesmo real? Como sabe o meu nome? E meus desejos? É a primeira vez que venho a esta caverna... Como me conhece?


- Nós, do submundo, sabemos de todas as coisas que se passam lá em cima, minha pequena, mas, vocês, seres da superfície, nada conhecem de nosso mundo e nem a nosso respeito. Não tenha medo, você foi escolhida, será a primeira a conhecer nossos segredos.


- Não... Não... Isso não é real... Não pode ser real... Não mesmo...


- Estou aqui, não estou! Olhe, estou bem na sua frente, veja, sou real, não tenha medo, venha, toque em minha mãos...


Alice deu o primeiro passo em direção ao duende, nos lábios dele despontou um discreto sorriso, sarcástico por sinal, Alice estava admirada demais para perceber os riscos que corria ao acompanhar o misterioso duende. Deu o segundo passo, o terceiro, ainda incerta, lentamente seguiu-o, que continuava acenando. Passo a passo ela foi se distanciando, a pequena criatura sempre a frente, o caminho foi ficando cada vez mais estreito e escuro. Havia medo no olhar de Alice.


- Não enxergo nada, eu vou voltar. Disse ela assustada.


No mesmo instante, em um estalar de dedos, surgiu nas mãos do duende uma tocha, a sua chama iluminou o rosto da criatura e parte do caminho, o mesmo sorriso sarcástico.


- Venha... Temos muito a caminhar, venha. Há luz mais a frente.


Alice seguiu-o embrenhando-se pela caverna.



Era a tarde de uma sexta-feira, começo de verão, dia quente, foi quando a jovem Alice sumiu do povoado do Lajedo. Todos a procuraram por meses, e em todos os locais possíveis, até mesmo em algumas partes da caverna e da floresta em seu entorno, mas, Alice nunca mais foi vista, o seu paradeiro era desconhecido da aldeia. Por fim, depois de meses e meses de procura sem sucesso, sem encontrar uma única pista, desistiram de procurá-la.

Os pais de Alice ficaram arrasados, era a filha caçula dos Andrades.



Passou-se vinte anos desse episódio, a história do desaparecimento de Alice era acrescida às já contadas da caverna e seus fantasmas. Até que certo dia, em uma sexta-feira, começo de verão, moradores relataram ter encontrado uma menina vagando sozinha pela floresta, próximo a caverna, à procura de seus pais. Chorava muito a menina.

O rosto era o mesmo, as roupas, o vestido, os moradores estavam perplexos, como era possível uma coisa daquelas, era a jovem Alice, desaparecida há mais de vinte anos, estava ali, diante de seus olhos. 

Alice retornou misteriosamente.







CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...