quarta-feira, 21 de julho de 2021

OS DESEJOS DO CORAÇÃO.

 NOVELA: 

CAPÍTULO 1°

O céu aos poucos foi ganhando novas formas, ao alvorecer, no esconder-se do astro que rege o dia e a vida de cada simples mortal.

Salpicando o azul celeste de tons avermelhados mesclados de laranja em um início primaveril, bailarinas nuvens que passeiam de um lado a outro, brincando feito crianças com cada cor.

O harmonioso canto de pássaros nas copas de frondosas e frutíferas  árvores acampando o tom de cada músicos. A mesa estava pronta, majestosa, repleta de incontáveis delícias de encher os olhos, apenas esperando o final da cerimônia.

Os músicos todos enfileirados, ternos pretos e gravatas borboletas, diversidade de instrumentos em harmonia perfeita, era festa de casamento do jovem Oséias. Uma aura de alegria era soprada em sonoras notas musicais, todos os convivas com glamurosas vestes para tão importante ocasião. O jovem Oséias em seu infindo regozijo, cantava jubilante, dançava na alegria extravagante do seu  coração, a noiva tão bela, com o seu longo vestido branco, desfilava com o buquê pelo jardim, estava tão encantadora quanto as rosas e tulipas presentes, era invejada por cada curioso olhar dos especuladores presentes. 

Ao toque do instrumento, iniciou-se a marcha nupcial, no altar, lágrimas vertiam dos olhos do noivo, o tão esperado dia que finalmente havia chegado na vida do jovem político.


   Todos os convidados de pronto se levantaram, aplaudiram entusiasmados, estavam boquiabertos com a beleza da noiva. Cantos, mais palmas, lágrimas, o vinho doce que nos lábios fermentavam,

pétalas de tulipas e rosas eram espalhados no verde descampado lindamente decorado.

Da noiva, haviam poucos parentes no casório.

De Oséias, viva turba urbana, festeira, uns bebendo, já outros cambaleantes pelo descampado. E entre os dele, haviam os que não queria que o casamento acontecesse. Da integridade da moça era esses mesmos tão desconfiados.

Não era Gomer entre todos os presentes tão amada, havia algo que os incomodava, algo que não poderia ser dito, não naquela ocasião tão importante.

Duvidoso e amargo passado na vida de Gomer que não agradava em nada alguns dos convidados do noivo, ainda sim, tanto mais amor Oséias lhe devotava em face de todo ódio contrário, ele a amou profundamente desde quando a conheceu, resgatou-a de uma vida de prostituição e pecado, era uma nova chance, uma janela aberta a novas oportunidades, poucos porém, não conseguiam acreditar em tal mudança da parte dela.


Deu-se sequência ao casamento:


Resoante e bonitas palavras do pastor.


....Irmãos e irmãs, convidados e convidadas... Boa tarde a todos, hoje irei iniciar essa celebração contando a vocês uma história: Depois de casada, a esposa conservou em segredo uma caixa, e pediu para que seu esposo nunca mexesse nela. Certo dia, depois que sua esposa saiu para um passeio, o marido sem aguentar de curiosidade abriu a caixa, e nela encontrou três ovos e dois mil reais. Quando ela chegou em casa, ele um pouco arrependido e com dúvidas, contou a ela que havia mexido na caixa, e o porquê dela guardar aqueles ovos. Ela então respondeu que sempre que ele a deixava triste, ela colocava um ovo na caixa. O marido ficou surpreso e feliz, e disse “Nossa, então sou um ótimo marido, imagina só três erros nesse tempo todo de casados.” e logo perguntou a ela sobre o dinheiro. A esposa respondeu “cada vez que eu completo uma dúzia de ovos, eu os vendo e guardo o dinheiro”. 

Discretos risos entre os convidados.

Continuou o pastor.

Hoje vocês estão dando um passo muito importante na vida de vocês, estão entrando numa instituição sagrada, mas ela não é fácil, há milhares de dificuldades e desafios. Se vocês pretendem permanecer unidos no amor de Deus e um com o outro, devem aprender que desistir não é a solução, e que devemos nos engrandecer com os erros...


O pastor falou em tom baixo os votos pedindo para que ambos repetissem. O primeiro foi Oséias.


....Eu, Oséias Monteiro Braga, tomo você, Gomer Elisabete, para ser o minha esposa fiel, para ter e manter, deste dia em diante, para melhor, para pior, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para amar e respeitar, até que a morte nos separe; de acordo com a santa vontade de Deus e do presente regulamento, me comprometo a você.

Ao colocar essa aliança em seu dedo, uso-a como símbolo de nossa união e me caso com você. Nossos corações tornam-se unidos, assim como nossa vida. Você agora é participante de todos os meus bens e parte da minha caminhada....


Depois foi a vez da esposa repetir, o fez com os olhos cheios de lágrimas.


....Eu, agora, Gomer Elisabete Braga, tomo você, Oséias Monteiro Braga, para ser o meu esposo fiel, para ter e manter, deste dia em diante, para melhor, para pior, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para amar e respeitar, até que a morte nos separe; de acordo com a santa vontade de Deus e do presente regulamento, me comprometo a você.

Ao colocar essa aliança em seu dedo, uso-a como símbolo de nossa união e me caso com você. Nossos corações tornam-se unidos, assim como nossa vida. Você agora é participante de todos os meus bens e parte da minha caminhada....


O pastor concluiu a cerimônia dizendo:


... Pelo poder a mim concedido, com as bênçãos de Deus, eu vos declaro Marido e mulher. Podem se beijar...


Depois de um longo beijo, a declaração de amor feita por Oséias.


...Um beijo de amor,

Lágrimas se derramam de meus olhos,

O desejo ardente em meu coração,

O meu amor é esse fogo que arde sem se ver,

É ferida que dói e não se sente,

Dor que desatina sem doer...


             


domingo, 18 de julho de 2021

Crônica de domingo.

 DESEJOS LITERÁRIOS.



Há dias em que eu chego do trabalho com todo o pique para ler e escrever, fazer isso é aquilo outro em meus textos e rascunhos. Geralmente traço vários planos literários no caminho para casa, ideias e mais ideias que surgem repentinamente... Mas... Basta adentrar nos domínios de meu lar, e todo o meu planejamento se desfaz como um castelo de areia que a onda derruba.

Há dias e dias. No entanto, ainda alimento a utópica ideia de que viverei exclusivamente da minha escrita, pura ilusão eu sei. Logo volto a realidade que me cerca e me condena dia após dia. Realidade esbofeteando minha face de que sou um simples operário do sistema, na sua laboriosa atividade universal de todos os dias. Por muitas vezes busco uma única linha de escrita, a metade de um parágrafo qualquer, um lampejo de inspiração que seja, porém, tudo é silêncio, quietude, e as palavras desaparecem no obscuro da minha mente.

Não é falta de inspiração, nada disso, tão pouco bloqueio literário, não é o caso. O que acontece de verdade é a falta de tempo mesmo, sim, falta de tempo. É a tirania do relógio se impondo em minha vida uma vez mais.

Tenho alguns trabalhos em andamento, romances parados, original de contos, outros projetos a passo de tartaruga. Uma poesia aqui é outra ali que vou ganhando entre uma escrita e outra. O que tenho de constante mesmo na escrita são as crônicas semanais, como nessa em que estou trabalhando no presente momento. Crônicas que busco toda semana, com ou sem inspiração, conhecida entre os cronistas como literatura sob pressão.

Nesse ínterim tem as minhas leituras, essas sim são religiosamente todos os dias.

Leio bastante, tenho devorado muitos livros, neste ano, temas específicos. Um de meus defeitos que passou a ser também qualidade é de que não consigo ler um único livro por vez, sempre tenho que ter dois ou mais na alça de mira. Eu sempre procurei achar tempo onde ele não está, afinal, não consigo ficar sem escrever ou ler, é impossível, ainda que seja uma linha ou ler uma página que seja.

Também há aqueles dias em que os meus personagens estão por demais rebeldes, briguentos, questionadores de tudo... É uma loucura aqui na minha cabeça. Eu digo para um deles; 'Faça isso', ele não obedece, e digo para o outro; 'Morra', ele simplesmente não quer morrer. É bem complicado de entender essa questão de ter outras personalidades literárias e personagens habitando em si, dividindo espaço em nosso universo ficcional. Pode parecer assustador essa coisa de ter tantas pessoas dentro da gente; parece doidera, mas não é, poder habitar neste mundo de fantasia, irreal, e um terrível privilégio. 

Não posso deixar de dizer que todo escritor é um bom observador da vida alheia. Escrever é a arte dos covardes, dizemos depois o que deveríamos ter dito na hora. Gostamos de espiar, escutar, fazer parte da nossa rotina criativa e absorver do nosso meio situações que posteriormente serão devolvidas em histórias. 

O meu desejo mesmo é de ser escravo da literatura. O cansaço sempre atrapalha meus projetos, roubando o vigor da vontade literária. Porém... Tudo o que é bom também pode ser ruim. Afinal, o veneno está justamente na quantidade.


sábado, 10 de julho de 2021

Crônica de Domingo

 A MORTE DO RATO.



Lá estava eu, a caminho da redação. Emprego temporário, uma discreta revista no centro da cidade onde eu moro. Cidade essa que não sinto de mencionar.  Perdoe-me... 

Essa modesta moça, jovem jornalista, caminhava tranquilamente pelas ruas próximas ao centro do nosso rascunho de metrópole, e, entre uma e outra rua, eis que, de repente, surge um peculiar e asqueroso personagem, percorrendo livremente pelo canto de um velho muro. 

E lá estava ele, pequeno e ligeiro camundongo, em seu caminhar desatento pelo muro, entre um saco de lixo revirado e outro. Repentinamente, eis que surge um certo homem, sabe Deus de onde, desconhecido de mim, avistando o rato no canto do muro, logo apressou-se e correu atrás do bichinho até quase apanha-lo, estava o tal homem com um pedaço de pau em uma das mãos, sei lá onde aquele sujeito o conseguiu aquilo. Não havia mais ninguém na rua além de mim é o rato, no outro instante apareceu essa figura. Parei para observá-lo, pois via-se que suas intenções com o pequeno roedor não eram boas. Foi quando o homem acertou-o ao atirar o pedaço de pau, mirando certeira, golpeando-o na cabeça, esmagando-o no canto da parede ao ponto de ficar marcas de sangue. 

Fiquei horrorizada, pois mesmo depois de morto golpeou-o com a violência, por várias vezes, fiquei horrorizada com a violência empregada pelo moço. Não me contive e fui questioná-lo.

  - Ei... Moço... Oi...

  Parando o massacre olhou-me um pouco assustado, eu, mais ainda, pois somente naquele momento raciocinei no que eu estava fazendo. Eu, jovem donzela em uma rua pra lá de estranha, puxando assunto com um estranho muito do suspeito, mas, era tarde para voltar atrás. Continuei...

  - Ei moço... O que você está fazendo?

  O moço respondeu seco e direto.

  - Matando esse rato nojento.

  - E por qual motivo? 

  - Agora... E precisa de motivos... É um rato, simples assim, faz sujeiras, tem doenças, incomoda, é nojento, tem que morrer. Simples assim.

  Parei... Pensei...

  - Sério... Sério mesmo... Veja bem. Não que eu esteja defendendo o rato, que concordo que seja nojento, mas... O homem faz sujeiras por toda a natureza também, a séculos. Tem e transmite doenças mortais, quando não é a incubadora da própria doença para outros - a Covid- 19 fala por si - Incomoda o tempo todo. E mais... Criou armas, bomba atômica. Fez inúmeras guerras e está querendo outras mais... Será mesmo que o rato é o problema?

Logo imaginei alguma repreensão ou coisa pior. Estava já preparada para correr se fosse o caso. Para o meu espanto. Aquele homem não fez nada, não falou uma única sílaba. Apenas me olhou profundamente e depois saiu caminhando na direção contrária.

Eu continuei o meu caminho para o trabalho. 

Mesmo fazendo aquele trajeto outras vezes, nunca mais aquele moço apareceu. Eu não consigo me esquecer da cena e da morte do rato.

Não tenho a mínima ideia do que me fez lembrar da história. Nem do porquê escrevo-lá, talvez a falta de assunto, ou, assuntos paralelos correndo em minha memória. Sei lá...

Cronista que sou, não posso perder a oportunidade de relatar essa peculiaridade do meu dia a dia, nem mesmo quando ela surge tão desavisadamente.



( L. B )

domingo, 4 de julho de 2021

Crônica de Domingo.

 O JOÃO DE BARRO.



Vozes que gritam pelas ruas e avenidas, braços que se levantam, gesticulando freneticamente enquanto as bocas escancaradas falam e falam com voz de trovão. 

Cada dia que passa, é um dia a mais de ódio com um a mais para odiar e ser odiado. Estes mesmos, junto a outros correligionários, organizam as suas passeatas. São vozes que gritam palavras de desordem aos desordeiros pelas ruas e avenidas. "Ele 'é', sim, ele 'é' sim..." mas você sabe o significado dessa palavra aí? Perguntou o moço. 'Não faço ideia', respondeu o manifestante continuando a gritar sem saber o significado da palavra gritada. Enfurecia-se cada vez mais, parecia fora de si, ao pronunciar o nome dele logo em seguida de dizer que ele 'é'. 

Estes mesmos que, em outras ocasiões, quebraram, desrespeitando o que para outros é considerado sagrado. De fato não compreendo tais atitudes. De nenhum dos lados, aliás, nem dos que dizem que ele 'é', tampouco daquele que solta palavras e mais palavras sem pensar. Xingamentos, contra acusações, acusadores sem fundamentos. Enfim, esse país está mesmo uma baderna generalizada. Difícil é compreender onde começa um erro e termina o outro, de ver com quem de fato está com a verdade, uma vez que, ambos os lados dizem serem possuidores da dita, 'verdade'. Mas, eu pergunto... O que é a verdade?

A política é mesmo um negócio complicado de se entender. Defender esse ou aquele, não importa, você estará certo para uns e errado para outros, independente do lado que você estiver, foi assim, é assim é sempre será. Acho mesmo que a essência da política se perdeu pelo caminho. " Se é que ela um dia esteve no caminho da sua própria essência", no entanto, vou pensar que sim, que a verdadeira política ainda exista, sabe lá Deus onde. Enquanto isso, o circo está solto, homens e mulheres, massas de manipulação soltas por aí. Fazendo por fazer, defendendo sem saber, tendo sem merecer.

Agora eu... Estou mesmo preocupado com o João de Barro... Veja que o espertinho fez sua casa na árvore de frente de casa. Faz tanto tempo que não vejo um João de Barro. De repente, em meio a gritos e falas exaltadas, ameaças e xingamentos, mãos levantadas que gesticulam, bandeiras de cores quentes, multicoloridas, encontro ele, essa preciosidade da natureza, em plena selva de concreto. Enquanto homens estão preocupados com esse 'é' aquele cara lá, o João de Barro apenas observava a muvuca preocupando-se unicamente com sua casinha. Vou seguir o exemplo do João de Barro, é ficar na minha, quietinho da janela da minha casa de Barro, apenas observando o circo passar. 



( A.L )


domingo, 27 de junho de 2021

CRÔNICA DE DOMINGO.

 DIAS COMUNS...



Dias comuns... Sim, deveria ser dias comuns, como outrora foi. Mas, definitivamente não são meus amigos, e talvez jamais seja. 

Não estou sendo exagerado, tão pouco extremista, nada 'muito' disso, às vezes, apenas, entretanto, sempre costumo ver absurdos em lugares onde eles não existem, não estou sendo... Como vou dizer... Um teórico da conspiração ou qualquer coisa assim. Também não me considero um depressivo e melancólico, embora o dia pareça transcorrer dentro da sua, 'dita' normalidade, não está e nem é, pelo menos de um 'certo' tempo para cá. Vejam que a pandemia mudou nosso cotidiano drasticamente, de modo que, o anormal transformou-se em coisa corriqueira, normal. 

Antes desse vírus aparecer, quando víamos pessoas andando na rua de máscara no rosto, logo surgia aqueles comentários de qual terrível doença a pessoa poderia estar acometida. Hoje, após a Covid-19, é completamente estranho, quase agressivo ver pessoas sem máscaras em estabelecimentos comerciais, lojas, até mesmo nas ruas. Quando nos deparamos com tais indivíduos, 'desmascarados', é estranho. Eu mesmo me sinto estranho sem a máscara quando estou na rua ou em locais fechados, fica aquela sensação de que algo está errado na minha pessoa, como se me faltasse um membro do corpo ou qualquer coisa assim.

Quantas vezes estando de folga e tendo que ir a padaria, por exemplo, me esquecia de levar o dinheiro mas não de sair com a máscara. Houve ocasiões de quase entrar debaixo do chuveiro com ela. Esse é o novo anormal fazendo-se normal em nosso dia a dia.

Mas... Existe um luz no fim do túnel, eis que surgem, vacinas, diferentes marcas com o mesmo propósito protetivo. Claro que, haverá prós e contras. Haverá quem fale isso é aquilo, de que tal vacina é boa e a outra ruim. Toda essa falácia é normal dentro de um contexto de novidades e mudanças. Dificilmente algo novo é aceito logo de primeira. Concordo que haverá sim problemas com as vacinas, não descarto.  Porém, não vejo outra saída... Os governos deixaram uma única porta de escape... Vacina... É tomar ou correr o risco de ficar doente.

No meu trabalho várias pessoas tomaram a vacina, sessentões e cinquentões. E pode acreditar que até o presente momento nenhum deles virou jacaré - risos a parte -, só para descontrair. Um e outro que teve reações, ficou internado, quase foi, mas não foi dessa vez... Brincadeira... Não houve nenhum tipo de reação. Medo de tomar e claro que eu tenho, afinal, quem não tem medo que atire a primeira pedra. Para quem foi vítima do vírus duas vezes e sofreu barbaridades, e ficou com sequelas, não vejo problemas com a vacina. Independente de qual laboratório seja, já que tem que ser, que seja logo.

Espero ansioso por dias melhores, onde o normal seja normal de verdade, é que não tenhamos que conviver com esse fantasma invisível e máscaras no rosto. Também já não aguento mais ter que ficar esbarrando o tempo todo nesse assunto. Vez por outra estou falando sempre da mesma coisa em minhas crônicas. Rodeando sempre o assunto 'COVID'. Está na hora de dizer chega. 


domingo, 6 de junho de 2021

Crônica.

 


O CICLO DA VIDA.



O tempo está passando cada vez mais rápido, já estamos perto do meio do ano. E tudo continua a mesma coisa, nada mudou e não parece querer mudar. Muitas pessoas importantes se foram, vitimadas pela COVID-19. Carrasco vírus impiedoso. Todos nós temos uma história para contar, de um alguém querido que perdeu a guerra nesta batalha tão desigual. Entre os milhões que foram contaminados, também faço parte. Pela misericórdia divina ainda estou por aqui. 

Não vivemos em um mar de rosas, o mundo não está sendo melhor com ninguém. Que as gerações futuras, ao lerem essa crônica, saibam que estamos atravessando um momento único em nossa história. Depois de duas guerras, diferenças religiosas e culturais, guerras civis, enfim, de tanto que foi feito, ninguém conseguiu silenciar com tanta brutalidade a voz do mundo. Os nossos carros ficaram em silêncio, assim como as nossas ruas, empresas, bares, igrejas, lojas... A terra parou, de repente, ajoelhando-se diante de um invisível e minúsculo vírus. Esse pequeno e aplicado inimigo tirou-nos a única coisa que riqueza nenhuma no mundo pode comprar. 

Sabem o que eu desejaria de verdade... Por um único momento. Nada de pandemia... Não...

Eu desejaria muito ter um dia tranquilo, sem nenhuma responsabilidade, com nada, com ninguém, apenas isso, um dia tranquilo e nada mais. Poder sentar e coçar o dia todo, comer o que me der na telha, assistir programas chatos na televisão sem ser interrompido, e novamente comer uma infinidade de besteiras até a barriga doer. Apenas isso… É claro que este pensamento, este insano desejo, não passa de um sonho qualquer, desses que sonhamos de 'barriga cheia', - bem cheia por sinal - como se diz por aí. 

Eu desejaria muito ter, e ser, mas, ao contrário disso, apenas faço nada ter, e cumpro sem questionar, pois não faz diferença o meu 'ser'. Essa é minha vida, este sou eu… Cumpridor da agenda estabelecida, seguindo as regras.

Talvez um dia que sabe, tudo passe, e sei que vai passar. Lá na frente, no futuro, toda essa dor vai ser lembrança em uma tela de computador.

Os governantes de nossa nação não se entendem, digladiam-se exaustivamente até que o mais fraco sucumba. E os pobres assistem sem nada poderem questionar.  

O tempo passa, sopra suave como a brisa das manhãs em nossas nucas. Sentimos apenas um leve arrepio, é isso e nada mais. Que o relógio corra velozmente em busca de mais tempo, e que o tempo corra ainda mais veloz para não ser roubado novamente. Eu e você sabemos que tudo nesta terra, de certo modo,  é inútil. Nascemos, vivemos , morremos. É o ciclo da vida impondo suas regras. E neste momento de filosofia e reflexão, me entrego ao sofá, nada posso contra os seus braços fortes, e como tiro de misericórdia, sou vencido pelo sono.



( T. P )

sábado, 1 de maio de 2021

Mini Conto.

 


NOITE DE NÚPCIAS.


Abre a janela, está escuro lá fora, andarilhas estrelas que ainda vagueiam no ermo escuro. A lua, com sua tímida luz quase a tombar no horizonte, ao Norte, os ventos mornos do verão que sopram suaves e constantes.

Do lado de dentro, a trêmula e fraca luz de um velho lampião dança de um lado para outro, um pequeno rastro de fumaça que sobe e se dissipa na escuridão. Sombras indistintas refletidas na parede do quarto. A cabeceira da cama, um quadro antigo, o jarro de água no criado mudo. O grilo grita lá distante, o sapo responde do outro lado do riacho, o som tranquilo da água que corre ligeiramente. 

É madrugada de sábado.

Madrugada de núpcias.

A janela continua aberta.

A camisola fina revela a pele macia e jovem, o toque da mão, o arrepio na nuca, o olhar de canto de olho, o eriçar dos mamilos marcando a veste. O olhar se perde no horizonte escuro quando ela sente o roçar pulsante entre as nádegas. O olhar se fecha, o suspiro forte ao sentir os lábios beijar-lhe o pescoço subindo até sussurrar levemente nos ouvidos. O corpo inteiro estremece e se arrepia. Sombras refletidas na parede revelam corpos desnudos, sombras perdidas e nuas, vacilantes a luz do lampião.

A janela continua aberta.

A camisola desliza pelo corpo jovem até cair completamente, dedos que tocam levemente a intimidade úmida, ligeiramente inclinada na janela de madeira, sente o roçar pulsante esfregando-se, ela tem medo, em um movimento de subir e descer ele sente desejos como nunca antes. A perna é aberta um pouco mais, bambeia, olhar de desejo na lua fugitiva, dentes que mordem a boca enquanto é introduzida sem muita delicadeza, dor, prazer... A lubrificação ajuda na penetração, quase inaudíveis gemidos, as duas mãos sobre os seus ombros pequenos, movimentos rápidos, o seu corpo totalmente inclinado, ela desaparece na janela, é apenas ele em seu balançar, olhos fechados, o mastro pulsante fazendo-a gemer mais alto, no vai e vem frenético, no roçar da sua intimidade apertada. 

A novidade prazerosa e cheia de dor. O líquido quente jorrando dentro de si.

A janela continua aberta.

É noite de núpcias.

E de repente, lábios e língua percorrem a extensão das suas coxas, subindo lentamente, ao atingir os grandes lábios, úmidos do prazer intenso, não resistindo, ela geme mais alto, a madrugada avança até o cantar do galo. E tudo se repete e se intensifica. Por fim amanhece, dois corpos nus estirados na cama sem lençol.


CRÔNICA DE DOMINGO.

      UM PÁSSARO EM MINHA JANELA.     Um pássaro pousou em minha janela.     Quisera eu ter a paz e a tranquilidade da pequena ave que pouso...